Jair Bolsonaro (sem partido) | Foto: Evaristo Sá (AFP)

Jair Bolsonaro voltou a atacar a imprensa na quarta-feira (26), na cidade de Ipatinga, em Minas Gerais, onde foi participar da solenidade de religação do forno da siderúrgica japonesa Usiminas. Ele chamou de “otário” um repórter que queria saber sobre os R$ 89 mil depositados por Fabrício Queiroz na conta de sua mulher, Michelle Bolsonaro.

Mesmo fazendo ameaças, como fez em Ipatinga, Bolsonaro não consegue escapar das cobranças que o país inteiro está fazendo sobre os motivos que levaram o ex-assessor de Flávio Bolsonaro, investigado junto com o parlamentar por desviar dinheiro da Assembleia Legislativa do Rio, a depositar 21 cheques no valor total de R$ 72 mil, e mais R$ 17 mil depositados por sua mulher, na conta da primeira dama.

“Com todo o respeito, não tem uma pergunta decente para fazer? Pelo amor de Deus”, disse o presidente, ao ser questionado por um repórter da Folha se falaria desta vez sobre os depósitos de R$ 89 mil.

Da primeira vez que veio à tona um depósito de R$ 24 mil feito por Queiroz na conta de Michele, Bolsonaro disse que tinha sido um empréstimo que fizera ao assessor do filho. Até agora ele não explicou os R$ 89 mil que apareceram agora.

A quebra de sigilos atingiu a movimentação financeira de Queiroz de 2007 a 2018. Nesse período não há depósitos de Jair Bolsonaro na conta do ex-assessor que comprovem o empréstimo alegado por ele para explicar os R$ 24 mil depositados na conta de sua mulher.

Ao invés de explicar quando é cobrado, Bolsonaro perde as estribeiras diante da imprensa. Na semana passada ele disse que queria encher a boca de um repórter do Globo de “porrada”. Depois, em seguida chamou jornalistas de bundões, o que lhe rendeu a resposta ao vivo dada pelo apresentador José Luiz Datena, da Band, que disse: “bundão é você, Jair.”

A volta do normal de Bolsonaro, ou seja, agredir a imprensa, defender exploração infantil, fazer apologia de bandidos, se reunir com desmatadores a garimpeiros ilegais e se desesperar com as investigações de Queiroz e Flávio, está causando desconforto em alguns auxiliares que acharam que era sério o comportamento dele depois que Queiroz foi preso.

“Conversei agora com o presidente. Aviso aos torcedores do caos e do conflito diário: perderam. A paz continua”, escreveu o ministro das Comunicações, Fábio Faria. Mal sabia ele que, enquanto ele falava da paz, o seu chefe já se estapeava com outro repórter.

E quanto mais a Justiça fechar o cerco sobre Queiroz, sua mulher, Márcia Oliveira e o ex-deputado Flávio Bolsonaro, mais o presidente vai descompensar.

Queiroz e Bolsonaro são ligados desde a década de 1980. O cargo de assessor de Flávio foi indicação sua. Tanto que a filha de Queiroz era funcionária fantasma do gabinete de Jair em Brasília. Ela repassou 70% do salário e benefício que recebia da Câmara Federal para a conta de Queiroz.

Assim como Nathalia Queiroz repassava o dinheiro desviado para a conta de seu pai, a mulher e ex-esposa de Adriano da Nóbrega, pistoleiro, chefe da milícia de Rio das Pedras, também passava parte do que recebiam para a conta de Queiroz. Este, por sua vez, repassava dinheiro para a loja de chocolate da Kopenhagem, de Flávio, para proceder à lavagem do dinheiro desviado, e para a conta de Michelle Bolsonaro.

São esses movimentos, descobertos pelo MP-RJ com a quebra de sigilos bancários, que Bolsonaro está tentando esconder ao agredir repórteres que perguntam sobre o assunto.

De outubro de 2011 a abril de 2013, o ex-assessor repassou R$ 36 mil à primeira-dama,

em 12 cheques de R$ 3.000. Depois, de abril a dezembro de 2016, Queiroz depositou mais R$ 36 mil em nove cheques de R$ 4.000.​ A mulher de Queiroz, Márcia Aguiar, repassou para Michelle R$ 17 mil de janeiro a junho de 2011. Foram cinco cheques de R$ 3.000 e um de R$ 2.000. Assim, no total, Queiroz e Márcia depositaram R$ 89 mil para primeira-dama de 2011 a 2016, em um total de 27 movimentações.