Jair Bolsonaro disse na sexta-feira (3) que quer mudar os livros didáticos no Brasil, por considerar eles um “lixo” que têm “muita coisa escrita”. Segundo ele, é preciso “suavizar” o conteúdo.
“Tem livros que vamos ser obrigados a distribuir esse ano ainda levando-se em conta a sua feitura em anos anteriores. Tem que seguir a lei. Em 21, todos os livros serão nossos. Feitos por nós. Os pais vão vibrar. Vai estar lá a bandeira do Brasil na capa, vai ter lá o Hino Nacional. Os livros hoje em dia, como regra, é um amontoado… Muita coisa escrita, tem que suavizar aquilo”, disse Bolsonaro na saída do Palácio da Alvorada.
No Brasil, a compra de livros didáticos é feita pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) a cada quatro anos para todas as etapas de escolarização: educação infantil, anos iniciais do fundamental, anos finais do fundamental e ensino médio.
Em dezembro do ano passado, o governo Bolsonaro abriu um edital para aquisição de livros didáticos para o ensino médio em 2021. Serão adquiridos livros para trabalhar Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas, além de livros de formação continuada, obras literárias e conteúdos de recursos digitais. O MEC não se pronunciou sobre a “suavização” dos livros didáticos.
Bolsonaro criticou novamente o educador Paulo Freire ao relacionar a ele o baixo resultado do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa).
“Falando em suavizar, estou vendo um cabeça branca ali, estudei na cartilha ‘Caminho Suave’. Você não esquece. Não esse lixo que, como regra, está aí. Essa ideologia de Paulo Freire. O cara ficou 10 anos e a garotada de 15 anos foi fazer a prova do Pisa e mais da metade não sabe fazer uma regra de três simples”, disse.
PEDRO II
Em suas declarações, Bolsonaro referiu-se a uma das mais tradicionais instituições educacionais do país e que é administrada pelo governo federal. Segundo ele, os governos de esquerda “acabaram com o Colégio Dom Pedro II”.
O nome correto da instituição é “Colégio Pedro II”, que foi criado em 1837 por iniciativa do ministro interino do Império, Bernardo Pereira de Vasconcellos.
Segundo ele, “plantaram militantes” no Colégio. “Chegou ao cúmulo de acabar com uma escola como o Colégio Dom Pedro II, no Rio de Janeiro. Acabaram com o Pedro II. Menino de saia, MST lá dentro. E outras coisas mais que não quero falar aqui”, disse Bolsonaro.
O ataque ao CPII foi repudiado por estudantes e professores na internet. O Colégio que é um dos melhores do país conquistou no fim do ano passado 11 medalhas na Olimpíada Internacional de Matemática, realizada em Pequim, na China, em novembro de 2019.
Os estudantes chegaram no Brasil com uma medalha de ouro, três pratas, sete bronzes e sete menções honrosas. A competição contou com 1.100 atletas do Brasil, China, Austrália, Filipinas, Malásia e Bulgária, sendo 164 brasileiros de 11 estados, acompanhados de 60 professores.
A vitória dos estudantes, no entanto, não contou com apoio do governo de Bolsonaro, que não custeou o envio dos jovens para a competição.
Os alunos do CPII só foram para a disputa graças à realização de uma “vaquinha”.
Vinícius Fernandes da Silva, professor do Colégio Pedro II, destacou o desempenho da instituição que, segundo Bolsonaro, “acabou”.
Em texto divulgado nas redes sociais, o professor ressalta que“o que parece não ter acabado é a falta de liturgia da presidência da República em relação a seus cidadãos, profissionais de imprensa e ao mundo. O que parece não ter acabado é a falta de respeito da presidência da República a professores, estudantes, pesquisadores, instituições de ensino, intelectuais vivos e falecidos respeitados nacionalmente e internacionalmente”.
Como professor efetivo e com dedicação exclusiva de uma das unidades (temos 11) da centenária instituição, me perguntei sobre as muitas interpretações que o verbo “acabar” pode suscitar. Cheguei a algumas conclusões e tomarei como referência somente o resultado do Campus Centro no ENEM 2018, porém somando as médias de todos os outros campus, o efeito seria praticamente idêntico.
O Colégio Pedro II ACABOU com uma média superior em redação em comparação a todas as escolas públicas e privadas do país (CPII: 766,7; públicas: 488,9; privadas: 560,4).
O Colégio Pedro II ACABOU com uma média superior em ciências da natureza em comparação a todas as escolas públicas e privadas do país (CPII:631,6; públicas: 488,9; privadas: 560,4).
O Colégio Pedro II ACABOU com uma média superior em ciências humanas em comparação a todas as escolas públicas e privadas do país (CPII:672,7; públicas: 564,4; privadas: 626,2).
O Colégio Pedro II ACABOU com uma média superior em matemática em comparação a todas as escolas públicas e privadas do país (CPII:721,6; públicas: 532,6; privadas: 625,9).
O Colégio Pedro II ACABOU com uma média superior em linguagens em comparação a todas as escolas públicas e privadas do país (CPII:634,4; públicas: 524,4; privadas: 581,9).
O Colégio Pedro II ACABOU como campeão (centenas de medalhas de ouro, prata e bronze) em Olimpíadas nacionais e internacionais de Matemática, Química, Neurociência, entre outras disciplinas, no ano de 2019.