Ao tempo em que enfrenta problemas graves com denúncias de corrupção no Ministério da Educação, o que provocou a queda do ministro Milton Ribeiro, Bolsonaro tenta encobrir o fato com uma manobra diversionista. Em meio à crise da disparada dos preços dos combustíveis, o general Joaquim Silva e Luna, presidente da estatal, vinha sendo criticado pelo próprio presidente. A situação serviu como um bom pretexto para mais uma intervenção indevida na Petrobras com objetivos políticos. O novo presidente da empresa será o consultor Adriano Pires, que é diretor-fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), tendo atuado na Agência Nacional do Petróleo (ANP) durante o Governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Para o economista Eduardo Moreira “demissão do presidente da Petrobras no mesmo dia da exoneração do ministro da educação, não é coincidência. “A estratégia é velha mas funciona, a mídia só fala disso agora e jaj á esquece o vendilhão”, alertou Moreira numa postagem em suas redes sociais. Mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, André Tokarski concorda. “O anúncio da troca do presidente da Petrobras me parece jogo de cena. Primeiramente, para encobrir a crise no Ministério da Educação, onde o ministro foi flagrado com graves denúncias de corrupção. E, em segundo lugar, também em um jogo de cena, para omitir que a verdadeira responsabilidade pela atual política de preços da Petrobras é do próprio presidente da República”, disse ao Portal Vermelho. “Não adianta trocar o presidente da Petrobras se não trocar a política de preços que está causando um grande prejuízo para as famílias brasileiras, para quem trabalha e depende do transporte público, para quem trabalha com o sistema de transporte logístico e de frete e que afeta toda a rede de mercadorias necessárias à cesta básica. Então, me parece um jogo de cena para tirar a responsabilidade do verdadeiro responsável por essa política de super majoramento dos preços, que é o próprio presidente da República”, acrescentou Tokarski, que também é autor do livro “O pêndulo do petróleo: o direito e a disputa pelo excedente econômico do pré-sal” e Secretário Nacional de Movimentos Sociais do PCdoB. Além de tentar desviar a atenção do MEC para a Petrobras, Bolsonaro buscará obter dividendos políticos caso os preços dos combustíveis se estabilizem minimamente ou até caiam. Se isto ocorrer – o que é pouco provável devido à manutenção da política de preços com paridade internacional (PPI) – o presidente vai querer reivindicar para si a responsabilidade já que mudou a presidência da estatal petroleira. Para a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) o general que preside a Petrobras já vai tarde”. “Isso é Bolsonaro tentando escapar da culpa. Mudar o comando de ministérios e empresas públicas é como trocar 6 por meia dúzia se não mudarmos o presidente da República. Por uma nova política de preços e investimentos na indústria nacional” Segundo informações do portal do jornal O Globo, em 11 meses da gestão do general Joaquim Silva e Luna à frente do cargo na petrolífera, os preços da gasolina e do gás de botijão subiram em média 27%. O diesel teve alta de 47% e o GNV (gás veicular) aumentou em 44%. Embora o antecessor de Silva e Luna, Roberto Castello Branco, tenha deixado o cargo por conta da alta dos combustíveis, durante a gestão do general, a Petrobras seguiu reajustando seus preços. O presidente Bolsonaro, apesar se dizer contra, segue adotando a PPI, política de preços implementada desde o governo Temer, que mantém os reajustes no Brasil atrelados ao mercado internacional. Silva e Luna assumiu a Petrobras em 19 de abril de 2021. De acordo com o portal, naquele mês, o preço médio da gasolina praticado nos postos do Brasil era de R$ 5,448. Este mês, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o valor médio do litro nas bombas ficou até agora em R$ 6,96, sendo que, na última semana, o preço chegou a R$ 8,949 na Bahia. Em abril de 2021, o preço médio do botijão de gás era R$ 85. Este mês, está em R$ 108.