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A reação de indignação da Polícia Federal contra os atropelos e a ingerência de Bolsonaro no órgão foi chamada de “babaquice” pelo presidente. “Fui sugerir para o Rio um de Manaus, aí teve essa reação toda. Isso é babaquice”, disse ele a jornalistas na quarta-feira (4).
Delegados haviam ameaçado com o afastamento coletivo diante da tentativa de Bolsonaro de trocar a superintendência do Rio por um delegado do Amazonas – ligado a seu filho – para abafar as investigações de lavagem de dinheiro operada por Fabrício Queiroz no gabinete no legislativo fluminense.
Bolsonaro tentou emplacar o nome de Alexandre Saraiva, hoje superintendente no Amazonas, no Rio. O escolhido pela direção da PF, e que acabou sendo confirmado, era Carlos Henrique Oliveira, atual chefe de Pernambuco.
Irritado pelo veto ao seu escolhido para a superintendência do Rio, Bolsonaro resolveu atacar abertamente a autonomia da direção da PF em nomear os superintendentes. Disse que não tinha ficado satisfeito com o órgão e que “o motivo foi a troca de 11 superintendentes sem falar comigo”.
Bolsonaro já havia provocado uma animosidade com a corporação ao dizer, quando anunciou a saída do então superintendente da PF no Rio, Ricardo Saadi, que ele era improdutivo. Segundo o presidente ele seria exonerado “por questões de gestão e produtividade”.
A corporação reagiu e divulgou uma nota negando que a mudança tivesse a ver com a conduta do superintendente. O episódio enfraqueceu o ministro Sergio Moro.
Na ocasião Bolsonaro fez questão de dizer que quem mandava na PF era ele e não Sérgio Moro, Ministro da Justiça, a quem Polícia Federal é subordinada.
Ele chegou até a ameaçar: “Se não puder nomear superintendentes eu troco o diretor-geral”, disse.
Maurício Valeixo, atual diretor-geral da Polícia Federal, foi uma escolha pessoal de Sérgio Moro. Os dois se conhecem há vários anos e trabalharam juntos na Operação Lava Jato.
Atropelando mais uma vez o ministro da Justiça, Bolsonaro disse novamente, e desta vez de forma enfática, que vai mudar. “Essa turma [que dirige a PF] está lá há muito tempo, tem que dar uma arejada”, ordenou.
Disse que já teve uma conversa com Sergio Moro. “Está tudo acertado com o Moro, ele pode trocar [o diretor-geral, Maurício Valeixo] quando quiser”, informou.
Numa clara sinalização que pretende desrespeitar a autonomia da Polícia Federal e que não está nem aí para o que pensa Moro, Bolsonaro praticamente confirmou as mudanças na direção da PF.
“Mais difícil é trocar de esposa. Eu tive uma conversa a dois com o Moro…[O diretor-geral] tem que ser Moro Futebol Clube, se não, troca. Ninguém gosta de demitir, mas é mais difícil trocar a esposa. Eu demiti o Santos Cruz, com quem tinha uma amizade de 40 anos”, disse, referindo-se à saída, em junho, do seu ex-ministro da Secretaria de Governo.
Todos os órgãos que participaram das investigações de seu filho Flávio (MP/RJ, COAF, Receita Federal), estão sendo atacadas por Bolsonaro.