Bolsonaro deixará como herança a mais grave crise de energia do país
Data: 10/09/2021
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O presidente Jair Bolsonaro deixará o pior legado de um governo no setor elétrico brasileiro, incluindo a crise energética de 2001. “O Governo Fernando Henrique precisou lidar com o apagão, mas deixou para o presidente Lula, em 2003, um país com sobra de energia. Agora sem grandes obras, a crise hoje é muito mais grave e, por conta da política de privatização do governo Bolsonaro, não somente estamos na eminência de um blecaute em 2021 como teremos ainda um 2022 muito ruim no setor elétrico”, alerta o engenheiro da Eletronorte e diretor do Sindicato dos Urbanitários no DF (STIU-DF) Ikaro Chaves.
Os desdobramentos negativos da política bolsonarista de desinvestimento não são de curto-prazo, conforme explica Chaves: “O governo Bolsonaro proibiu a Eletrobras de investir, querendo a privatização e não houve como fazermos hidrelétricas. Em consequência, hoje, 20 anos depois, o sistema é muito pior do que o de 2001. Mesmo com a eleição do Lula, esse quadro não se reverterá rapidamente porque uma hidrelétrica não se faz de uma hora para a outra”.
Ele lembra que o país enfrenta um problema de geração associado à escassez hídrica. “Em julho e agosto não choveu. As nossas termelétricas foram projetadas para atuarem em situações de emergência, mas não temos gás natural para alimentá-las. As eólicas também não oferecem a segurança que o sistema precisa. O que é um apagão? A energia tem que ser gerada na mesma quantidade do consumo ou acontece uma sobrecarga e uma queda no sistema, algo que está prestes a acontecer. E, como a previsão é que teremos um período chuvoso fraco, no ano que vem haverá uma queda ainda mais séria”, prevê.
Outro aspecto que diferencia a situação da atual do setor elétrico da verificada há 20 anos é que já houve uma educação da população para o consumo consciente. “Com o racionamento feito pelo Governo Fernando Henrique, houve uma redução no consumo e depois as pessoas não voltaram a consumir tanto. Elas desligaram o freezer, passaram a usar lâmpadas incandescentes. Hoje já não se compra mais ar condicionado sem selo do Procel. Ou seja, agora as pessoas não têm mais muito onde cortar”, acredita.
Em razão da redução no espaço para economia de energia, o engenheiro diz que os apelos do governo para que as pessoas reduzam o consumo não são eficazes. “O governo está contando com a sorte e a boa vontade das pessoas. Seria mais prudente o governo estabelecer um racionamento. Com um racionamento de 5% de economia, talvez possamos recuperar a segurança do sistema esse ano”, estima.
Na atual toada, no entanto, o cenário é catastrófico. “Depois da pandemia, teremos um apagão. Se não houver um racionamento compulsório, como o que foi feito em 2001, vamos chegar a novembro desse ano sem água nos reservatórios e haverá blecaute. Isso significa vermos São Paulo às 19h com todos os semáforos desligados”, exemplifica.
Chaves é crítico ainda do sistema de premiação para quem economizar: “Trata-se de um sistema muito injusto. É mais fácil reduzir para quem tem piscina e pode desligar o aquecimento elétrico. Quem vai pagar a conta são os outros, que já não têm onde cortar. A solução não é essa”.
O engenheiro ressalta que os mais pobres já são os que mais sofrem com a alta da energia. “Somente neste ano, até agosto, a tarifa de energia subiu mais de 30%. É uma alta equivalente a que observamos nos quase cinco anos anteriores, o período desde o Governo Temer até janeiro de 2021. Isso significa que uma família que pagava uma conta de energia de R$ 200 no início do ano, agora está pagando R$ 300. Imagine o impacto de uma despesa de R$ 100 a mais para quem recebe um salário mínimo, sem contar o impacto inflacionário da energia”, aponta.
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