General Antônio Miotto, ex-Comandante Militar do Sul

Jair Bolsonaro não respeitou nem a morte de um contemporâneo da Academia de Agulhas Negras, o general Antônio Miotto, ex-Comandante do Comando Militar do Sul, por Covid-19, para ironizar a não concordância do militar com as recomendações irresponsáveis emanadas do Planalto para o enfrentamento da doença que já matou mais de 214 mil pessoas no Brasil.

Ele usou uma live para criticar o general por não ter feito o “tratamento precoce”, com cloroquina, ivermectina e nitazoxanida.

“Ontem, perdi um amigo, general do exército do Coman, o militar do Sul, o Miotto, depois de dois meses aproximadamente internado. Pelo que me consta, não foi feito tratamento precoce nele. Ele veio a falecer e lamentamos a perda dessa pessoa”, disse ele em sua live, num claro desrespeito ao general que ele trata como “amigo”.

O mal estar com a declaração foi grande e Bolsonaro não foi ao sepultamento em Caxias do Sul. Coube ao vice-presidente, Hamilton Mourão, representar o presidente na cerimônia na manhã da quinta-feira (21).

A ironia de Bolsonaro de cobrar do militar morto o uso de medicações rejeitadas por toda a comunidade científica e pelos médicos foi considerada uma afronta aos familiares e amigos do general Miotto. O militar foi o mesmo que, quando recebeu Bolsonaro na sede do Comando Militar do Sul no início de 2020, numa atitude crítica em relação aos descaso do presidente com a pandemia, recusou-se a cumprimentá-lo com aperto de mão para evitar o contágio do vírus.

Médicos têm relatado nos últimos dias que grande parte dos pacientes que estão morrendo nas UTIs estavam fazendo uso dessas medicações ineficazes do chamado “tratamento precoce”. Isso ocorre até mesmo por conta da pressão exercida pelo ministro Pazuello nesta direção. Diversos médicos brasileiros relataram que foram afastados de alguns serviços porque se recusavam a receitar essas drogas ineficazes.

Além disso, a própria diretora da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Meiruze Freitas, desmoralizou essas “recomendações” absurdas feitas insistentemente por Bolsonaro e Pazuello. Ela condenou o “tratamento precoce” do Planalto, ao ler o seu relatório a favor da aprovação do uso emergencial das vacinas.

“Até o momento não contamos com alternativa terapêutica aprovada para prevenir ou tratar a doença causada pelo novo coronavírus. Assim, compete a cada um de nós, instituições públicas e privadas, sociedade civil e organizada, cidadão, cada um na sua esfera de atuação tomarmos todas as medidas ao nosso alcance para no menor tempo possível diminuir o impacto sobre a vida do nosso país”, disse ela.

Miotto ingressou na carreira militar em 1972, na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em São Paulo. Entre as diversas posições que ocupou no Exército brasileiro, foi Comandante Militar da Amazônia e Comandante Militar do Sul. Na trajetória, chegou ao posto de general de Exército. Com o posto de Comandante Militar do Sul, Miotto chefiou pelo menos 50 mil militares, nos três estados da região. O general também atuou no cenário militar internacional, como oficial de ligação junto ao Comando dos Institutos Militares, em Buenos Aires, Argentina.