Centro localizado em Potosi conta com moderna infraestrutura - foto Reynaldo Zaconeta

Com investimento de Bs 15 milhões (US$ 2,11 milhões) e o objetivo de conquistar a independência tecnológica do país, o presidente Evo Morales inaugurou nesta terça-feira o Centro Tecnológico Boliviano do Lítio, na cidade de Potosí, para a formação de novos profissionais na área, e apresentou o primeiro carro elétrico que funciona com a bateria do estratégico mineral.

“É o primeiro carro montado com lítio boliviano e tem mais potência que os carros elétricos de Cochabamba (da empresa Quantum). É orgulho de todos os bolivianos porque é o maior da América Latina e trabalharemos para ser o maior do mundo”, afirmou Evo, destacando o importante avanço tecnológico conquistado pelo país. “Agora esses carros serão feitos com lítio potosino, lítio boliviano, isto significa zero combustível, zero contaminação e menos importação”, destacou, sob aplausos da multidão.

No aspecto tecnológico, ressaltou o presidente, não se pode seguir dependendo dos países centrais: “temos todo o direito de industrializar nossos recursos naturais, não podemos seguir exportando matéria-prima”.

Evo lembrou que o governo ampliou os investimentos na educação para avançar na industrialização com “futuro seguro”, com a moderna infraestrutura entregue servindo para instruir, potencializar e qualificar tecnicamente os estudantes em lítio, que sairão dali plenamente habilitados em carreiras técnicas  (química, mecânica, eletricidade e eletrônica) diretamente ligadas ao processo de industrialização que o governo desenvolve nas salinas de Uyuni, Pastos Grandes ( Potosí) e Coipasa (Oruro).

“Propomos e concordamos que era importante que o Centro Tecnológico de Lítio fosse instalado na cidade de Potosí. Será o único da Bolívia. Esperamos que acadêmicos e especialistas possam se unir para melhorar e treinar técnicos médios e superiores”, acrescentou.

O prefeito de Potosí, Williams Cervantes, elogiou o desprendimento do presidente porque, dos mais de 15 milhões de bolivianos que custou a obra, 13 milhões foram desembolsados pelo governo Evo. A infraestrutura, de 5.400 metros quadrados, conta com 18 salas de aula, laboratórios teórico-práticos, salas de conferências, quadra de grama sintética, ginásio fechado, áreas de estacionamento e um centro de estimulação para aprendizes.

O governo boliviano investiu mais de US$ 600 milhões até o momento nas primeiras fases na industrialização do lítio no Salar de Uyuni, que inclui a instalação de plantas piloto, além de fábricas industriais, como o carbonato de lítio, dando uma guinada no trágico passado de servilismo neocolonial.

PRATA

Descoberta em 1545, Potosí, “a serra que emanava prata”, “a ponta do cimo dos esplendores dos metais preciosos”, enriqueceu a Espanha com a sua sangria, sendo imortalizada por Eduardo Galeano na obra “As veias abertas da América Latina”. “A partir do descobrimento da montanha, Dom Quixote de la Mancha adverte Sancho com outras palavras: ‘Vale um Potosí’. Veia jugular do vice-reinado, manancial de prata da América, o lugar possuía 120 mil habitantes em 1573. Apenas 28 anos depois, já tinha a mesma população de Londres e mais habitantes do que Sevilha, Madri, Roma ou Paris. Era uma das maiores e mais importantes cidades do mundo”, apontou.

“Dizem que até as ferraduras dos cavalos eram de prata, no auge da cidade de Potosi. De prata eram os altares das igrejas e as asas dos querubins nas procissões: em 1658, para a celebração do Corpus Christi, as ruas da cidade foram desempedradas, da matriz até a igreja de Recoletos, e totalmente cobertas com barras de prata. Em Potosí a prata levantou templos e palácios, mosteiros e cassinos, foi motivo de tragédia e de festa, derramou sangue e vinho, incendiou a cobiça e gerou desperdício e aventura. A espada e a cruz marchavam juntas na conquista e na espoliação colonial. Para arrancar a prata da América, encontravam-se em Potosí os capitães e ascetas, toureiros e apóstolos, soldados e frades. Convertidas em bolas e lingotes, as vísceras da rica montanha alimentaram substancialmente o desenvolvimento da Europa”, descreveu o célebre autor uruguaio.