As concessões de crédito às empresas em fevereiro último tiveram um recuo de 1,4% em relação ao mesmo mês de 2020. Na mesma base de comparação interanual, em janeiro, esse tipo de crédito, teve queda de 10,9%. Da mesma forma os empréstimos em dezembro tiveram uma redução de 4,1% sobre dezembro de 2020.

São três meses consecutivos cujas concessões de crédito às empresas recuaram em comparação com o mesmo período do ano anterior. “Na ausência dos programas emergenciais e diante do endurecimento das medidas restritivas a partir de mar/21, esta trajetória sinaliza para possíveis complicações no financiamento corporativo nos próximos meses”, analisa o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

A análise feita pelo Iedi, com base nos dados sobre o crédito do Banco Central (BC) divulgados na segunda-feira (29/3) calcula os percentuais sobre valores totais dos créditos, descontada a inflação, com base no índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA).

As estatísticas do BC agrupam as linhas de crédito em duas classificações. Aquelas negociadas com os bancos sem quaisquer condicionantes sobre taxas, prazos, etc., quando o banco estabelece os juros e demais condições, identificadas como “recursos livres”, registraram em fevereiro deste ano uma redução de 3,3% sobre fevereiro de 2020.

As modalidades entre os recursos livres que sofreram maiores quedas, em fevereiro, foram as de capital de giro (-9,7%), conta garantida (-34,2%), desconto de cheques (-38,8%) e cheque especial (-30,4%).

O outro grupo de linhas de crédito, conhecidas como “crédito direcionado”, são aquelas que têm previamente estabelecido algum tipo de condição especial, frequentemente taxas de juros mais baixas, por exemplo, como os empréstimos do BNDES.

“Esses créditos mantiveram-se em alta, mas em ritmo inferior ao que vinha apresentando entre abril e dezembro do ano passado”, diz o Iedi.

A evolução do crédito oficial foi o que impediu uma queda mais acentuada no volume de crédito para as empresa nos meses analisados e na projeção feita pelo instituto.

Ao contrário, as quedas no chamado “crédito livre” são indicação da retração da oferta de empréstimos e financiamentos que, se persistirem, poderá afetar o crédito das empresas nos próximos meses. Daí a justa preocupação do Iedi, já que diante do crescente aumento de casos da Covid e da situação de crise das empresas, particularmente das micro, pequenas e médias empresas, estas ainda não viram renovadas as linhas de crédito de ajuda financeira para enfrentamento da crise provocada pela pandemia agora em seu pior momento.

É uma situação inerente do capital financeiro privado. Em situações de crise, quando o crédito pode ser um instrumento para reativar a economia de um país, ele se retrai, quer ficar na segurança do financiamento da dívida pública e outras aplicações de reduzido risco e, simplesmente, é sequestrado pela banca rentista.

No início da pandemia, no ano passado, os recursos liberados pelo governo Bolsonaro, através do Banco Central, para ajudar as empresas a enfrentaram a crise sanitária e econômica diante das medidas de restrição às atividades econômicas ficaram empoçados nos bancos. Os recursos não chegaram “na ponta”, denunciaram os empresários.