Sebastián Piñera rechaçou agressões de Bolsonaro e afirmou que tem compromisso com os direitos humanos

O presidente do Chile, Sebastián Piñera, condenou nesta quarta-feira as ofensas de Jair Bolsonaro à ex-presidente Michelle Bachelet, atualmente Alta Comissária da Organização das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos.

Segundo Bolsonaro, “a única coisa que ela tem igual” a sua mulher é o nome, pois “defende direitos humanos de vagabundos” e seu país “só não é uma Cuba” porque houve militares que “ tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai brigadeiro à época”. Alberto Bachelet foi assassinado após meses de tortura pela ditadura militar de Augusto Pinochet.

Um dos poucos aliados restantes de Bolsonaro na região, Piñera afirmou que “toda pessoa tem o direito de ter seu juízo histórico sobre os governos dos anos de 1970 e 1980, mas que estas visões devem ser expressas com respeito às pessoas”.

“Não compartilho, em absoluto, a menção feita pelo presidente Bolsonaro por respeito a uma ex-presidente do Chile e, especialmente, em um tema tão doloroso como a morte de seu pai”, destacou o presidente chileno, acrescentando que “é de público conhecimento meu permanente compromisso com a democracia, a liberdade, e ao respeito aos direitos humanos em todo o tempo, em todo lugar e em toda circunstância”.

O presidente do Senado do Chile, Jaime Quintana, afirmou que ao defender o assassinato de Alberto Bachelet, Bolsonaro “agride a memória dos chilenos”, o que provoca “um repúdio transversal e contundente de todos os setores políticos”. Quintana ressaltou que “Bolsonaro está colocando-se fora das relações multilaterais e não está à altura de um chefe de Estado em nenhum país do mundo”.

Para o ex-secretário geral da Organização de Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, do Partido Socialista, “Bolsonaro é uma vergonha para o Brasil e para a região”. “Ele demonstrou uma capacidade de insultar as pessoas absolutamente impressionante. Uma vez disse que o problema do Chile era que Pinochet havia matado pouca gente”, acrescentou.

De acordo com o ex-embaixador do Chile na Argentina e em Washington, Juan Gabriel Valdés, “a menção ao pai de Michelle Bachelet é miserável, um insulto que afeta nosso país”.

O deputado da União Democrática Independente, Issa Kort, de direita, apontou que “são lamentáveis as declarações de Bolsonaro”, pois “ele usa a figura de Bachelet para assuntos de política interna do Brasil”. Issa disse que “as batalhas se ganham com ideias, não com acusações desse tipo. Uma liderança política séria e responsável deve ter argumentos e não fazer ataques”.

“Conhecemos a História de nosso país e devemos aprender dela, mas não permitir que outros países usem nossa História para seus fins políticos. Nunca usamos a História do Brasil para fins de política interna e não podemos aceitar que Bolsonaro o faça. O que aconteceu no Chile fica no Chile e se resolve no Chile”, destacou o parlamentar.