A elevação da taxa básica de juros (Selic) deve agravar ainda mais a situação da indústria brasileira, que virou o ano de 2021 vendo a sua produção desacelerar por consequência do fim de programas emergenciais, do recrudescimento da pandemia, além do elevado desemprego que atinge o país, segundo dados do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Ao comentar a possibilidade do Banco Central (BC) elevar a taxa Selic, em entrevista ao Valor, o economista-chefe do Iedi, Rafael Cagnin, destacou que o setor industrial deve sair endividado da pandemia e que uma sequência de elevações da Selic dificultará que as companhias “abram espaço em seus balanços para um novo ciclo de investimentos”.

No final da semana passada (12), o IEDI divulgou que no início deste ano a indústria brasileira teve um desempenho menor do que vinha apresentando no final de 2020. Em janeiro a produção industrial variou próximo de ZERO, alta de 0,4%, em comparação com o mês anterior, segundo dados recentes do IBGE.

“Com a redução do auxílio emergencial pago às famílias, que ajudou a aquecer o mercado consumidor doméstico, e nova aceleração do número de casos de Covi-19, a recuperação industrial dá sinais de desaceleração na virada do ano. Depois de manter crescimento em torno de +1% ao mês, com ajuste sazonal, em out-nov/20, registrou +0,8% em dez/20 e então +0,4% em jan/21, como mencionado anteriormente”, escreveu o Instituto em sua carta ao público.

O Iedi destacou que “a indústria permanece 13% abaixo do pico de produção anterior à crise de 2014-2016. Esta defasagem nos lembra que a indústria sobrepôs dois períodos de graves adversidades nos últimos anos e ainda está longe de superá-las”.

Abandonada pelo governo Bolsonaro, cuja política é voltada para beneficiar importados em desfavor dos produtos nacionais, a indústria brasileira, entre 2019 e 2020, reduziu ainda mais sua participação no Produto Interno Bruto (PIB), que caiu de 21,4% para 20,4%, atingindo a sua menor participação no PIB brasileiro desde 1947, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), com base nos dados do IBGE.

Com o tombo de 4,1% na economia brasileira em 2020, o agravamento da pandemia – que na terça-feira (16) bateu o novo recorde diário de 2.286 óbitos por covid-19, segundo dados da Conass –, o Índice de Confiança do Empresário Industrial medido pela CNI apresentou uma forte queda neste mês na percepção dos empresários. O indicador mostrou recuo de 5,1 pontos na comparação com o mês de fevereiro.

“Essa foi a terceira maior queda mensal da série, inferior somente às verificadas em junho de 2018, consequência da paralisação dos caminhoneiros ocorrida em maio daquele ano, e em abril de 2020, devido à pandemia. Também é a terceira queda mensal consecutiva do ICEI”, destacou em nota a CNI.