Macron colhe a rebordosa por seu apoio às sanções anti-Rússia que prejudicam a França e pela ideia fixa de cortar direitos previdenciários.

O presidente francês Emmanuel Macron não terá maioria absoluta na próxima Assembleia Nacional após o segundo turno das eleições legislativas realizada no domingo (19), de acordo com os resultados finais publicados na manhã desta segunda-feira (20) pelo Ministério do Interior. Os deputados eleitos tomam posse na quarta-feira (22).

A coalizão de Macron, Juntos!, conquistou 246 cadeiras, ficando aquém das 289 necessárias para manter a maioria absoluta no Parlamento.

A política do presidente francês no seu primeiro mandato foi marcada por propostas de cortes de direitos previdenciários, com destaque para a ampliação do tempo para obter a aposentadoria. Neste ano, notadamente após o início da operação militar da Rússia na Ucrânia, Macron assumiu posição ambígua ao defender o diálogo e, ao mesmo tempo, atrelar a política externa da França à submissão às sanções dos EUA contra Moscou, o que agravou a crise econômica no país e em toda a Europa. A perda da maioria absoluta da coalizão Juntos! no parlamento é resposta dos franceses a essas escolhas de Macron.

A Nova União Ecológica e Social Popular, NUPES – que reúne França Insubmissa de Melenchon e os partidos Socialista, Ecologista e Comunista – é uma aliança liderada por Jean-Luc Melenchon, que conquistou 142 assentos e tornou-se a 2ª maior bancada e principal força da oposição. Rassemblement Nacional, de extrema-direita e encabeçado por Marine Le Pen, ficou em 3º lugar com 89 assentos e é o que mais cresceu em termos de bancada.

Segundo Jean-Luc Melenchon, o alto crescimento de cadeiras da extrema-direita de Le Pen está relacionado com a política de Macron, que nesta eleição parlamentar, optou por fazer “frente ampla” contra os candidatos da coalizão Nupes, e deixou de montar frentes nos distritos para isolar candidatos ligados a Le Pen, como fazia nas outras eleições. Ou seja, para conter o crescimento da esquerda (Nupes) deixou a extrema direita com folga nos distritos.

A coalizão LR-UDI – herdeira dos ex-presidentes conservadores Jacques Chirac (1995-2007) e Nicolas Sarkozy (2007-2012) – e seus aliados da UDI, conseguiram um 4º lugar com 64 cadeiras. LR aparece como o principal bloco a apoiar Macron. Seis agrupamentos menores conseguiram 36 assentos ao todo, com microbancadas de 13, 9, 6,5, 2 e 1 deputados.

A taxa de abstenção do segundo turno ficou em 53,77 por cento, em comparação com 57,36 por cento em 2017, disse o ministério.

Segundo o canal de notícias francês BFMTV, os ministros do gabinete de Macron que não forem eleitos deputados em seu distrito eleitoral terão que deixar o governo.

Apesar de sua coalizão ter sido a mais votada, Macron precisará, na avaliação de especialistas, buscar alianças e terá grandes dificuldades para governar devido ao forte avanço de forças da oposição, particularmente da primeira frente de esquerda em 25 anos, que reúne ambientalistas, comunistas e socialistas, e ainda da direita radical de Marine Le Pen

Após a divulgação das primeiras projeções na noite de domingo (19), a primeira-ministra do país, Elisabeth Borne – que também era candidata e conseguiu se eleger – disse em pronunciamento na TV francesa que nunca havia visto uma Assembleia Nacional como a que se configura agora.

É a primeira vez que um presidente recém-eleito (reeleito, no caso de Macron) não obtém maioria absoluta para governar.

Um precedente já havia ocorrido com o socialista François Mitterrand em 1988, mas em circunstâncias distintas, já que na época ele não dispunha de uma maioria na Assembleia Nacional, diferentemente de Macron atualmente. Era a oposição de direita republicana que dominava o Parlamento naquela época, e Mitterrand convocou novas eleições legislativas, obtendo maioria relativa

“Macron diante do risco de paralisia política”, escreveu o jornal Le Monde em seu site. A derrota do presidente francês está sendo chamada pela imprensa francesa de “histórica”.

O resultado da coalizão representa um salto em relação à atual legislatura, onde os setores progressistas como um todo tinham menos de 80 deputados. Em um discurso nesta noite, Mélenchon afirmou que a “derrota do partido presidencial é total”.

Quando foi eleito pela primeira vez, em 2017, Macron conseguiu obter sem dificuldades uma maioria absoluta no Legislativo, com 308 deputados, apesar de seu partido, recém-criado, não ter nenhum deputado na época.

Agora, sua sigla, rebatizada de Renascimento (antigo República em Marcha), teria obtido apenas cerca de 150 cadeiras, conforme estimativas. Os demais partidos de sua coalizão completaram a diferença, totalizando as 246 cadeiras conquistadas.

Quinze ministros de Macron disputaram as eleições legislativas. Três deles, como a ministra da saúde, Brigitte Bourguignon, sofreram derrota e deverão deixar o cargo, como já havia avisado o presidente Macron. Já a primeira-ministra, Elisabeth Borne, venceu na região do Calvados e deverá se manter no posto.