O pai do jornalista Julian Assange, John Shipton, visitou o filho na prisão, em Londres

O pai do jornalista Julian Assange, John Shipton, denunciou em entrevista a uma rádio comunitária de Melbourne na semana passada que a saúde do fundador do WikiLeaks continua a deteriorar-se na prisão de segurança máxima de Belmarsh – que muitos apontam como a ‘Guantánamo britânica’.

“Julian emagreceu e não está em bom estado de saúde”, assinalou Shipton, relatando uma visita feita alguns dias antes pelo irmão, Gabriel. “Julian está lutando, mas seu bem-estar está diminuindo rapidamente”, afirmou o pai de Assange, que acrescentou que o filho estava também “sofrendo de ansiedade”.

Shipton endossou a declaração no início do mês do cineasta e jornalista mundialmente reconhecido, também australiano, John Pilger, de que “perderemos Julian”, se seu brutal encarceramento não for barrado. Como escrevera Pilger: “Não se esqueçam de Julian Assange. Ou irão perdê-lo. Eu o vi na prisão de Belmarsh e sua saúde se deteriorou…”.

“Dá para acreditar que Julian, que é um tipo gentil e intelectual, fica trancado em uma prisão de segurança máxima?”, Shipton indagou ao entrevistador, Jacob Grech, sobre as draconianas condições no presídio de Belmarsh.

Situação ainda mais absurda, quando Assange foi enviado para uma prisão de segurança máxima apesar de sua condenação – aliás, por um tempo desproporcional – ter sido por faltar a uma audiência, por ter ido se asilar na embaixada do Equador, para evitar ser extraditado para os EUA por ter exposto os crimes de guerra de Washington. O que em qualquer outro caso seria punido com uma multa.

MAIS ARBITRARIEDADES

Shipton explicou que Assange estava “em uma cela 20 horas por dia e tem duas visitas sociais por mês”, além de algumas autorizações para encontro com os seus advogados. Mas as visitas sociais – escassas duas visitas no mês – ainda “podem ser arbitrariamente canceladas ou reduzidas no tempo”.

O pai de Assange relatou que, quando viajou da Austrália para Londres há dois meses e meio, “nos disseram que não poderíamos entrar” na prisão para uma visita pré-marcada com o filho encarcerado.

“Nenhuma razão foi dada”, disse Shipton, exceto que “havia compromissos conflitantes com médicos da prisão que viriam vê-lo. Então, eles usam os horários de visitas para fazer com que médicos o examinem, o que significa que uma visita social precisa ser cancelada.”

Shipton, junto com um membro da equipe do WikiLeaks e o artista chinês Ai Weiwei, retornou na semana seguinte para outra visita agendada. “Esperamos 46 minutos para Julian chegar”, disse ele. As autoridades da prisão alegaram que haviam “esquecido” de notificar Assange sobre a visita, daí a demora toda. O que resultou que a visita de duas horas a que Assange tem direito sendo reduzida pela metade. “Viajar da Austrália até Julian e passar apenas uma hora parece cruel para mim”, disse Shipton.

POODLE MORRISON

Shipton revelou que o agravamento dos problemas médicos de Assange e as condições de seu confinamento forçaram seu irmão Gabriel a escrever “uma carta ao primeiro-ministro [australiano] Scott Morrison descrevendo as circunstâncias e a saúde de Julian” e pedindo que algo fosse feito com urgência.

O pai de Assange condenou a recusa de sucessivos governos australianos de tomar qualquer ação em defesa do fundador do WikiLeaks, que é um cidadão australiano e jornalista. Em completo contraste com “o apoio incansável ao longo dos anos” do povo australiano a Julian. O governo Morrison não tomou conhecimento da carta e, como Shipton destacou, parece que “só toma conhecimento dos Estados Unidos e do Reino Unido, e voluntariamente sacrificará o bem-estar de Julian às exigências dos EUA e do Reino Unido.”

Shipton observou que essa perseguição foi resultado das atividades de publicação do WikiLeaks, que “nos deu uma visão sobre todos os crimes hediondos que se desdobraram diante de nós nos últimos 20 anos, país após país destruído, assassinatos, implantação de espiões e políticos de segunda categoria com vínculos com o embaixador dos EUA”.

“PESSOAS COMO VOCÊ”

Duas mensagens só agora divulgadas de Assange a apoiadores mostram que, a despeito de toda a pressão, Assange se mantém de pé. Em declaração à jornalista Ariyana Love, ele agradeceu, postando que “são pessoas como você, grandes e pequenas, lutando para salvar minha vida que me fazem continuar. Nós podemos vencer! Não deixe que os bastardos sacrifiquem a liberdade de expressão, a democracia europeia e a minha vida no altar do Brexit.”

Em outra postagem, Assange reiterou a importância dos atos públicos em sua defesa e sugeriu que as manifestações pela liberdade dele fossem realizadas diante de alguns dos mais notórios porta-vozes do establishment, como a BBC e o Le Monde – que, como apontou “não estão acostumadas a protestos ou teriam dificuldade em se defender ideologicamente”. “Os protestos são muito poderosos para um escritório que não está acostumado a eles, mesmo que todos finjam o contrário”.