Nesta segunda-feira (8), 33 servidores pediram demissão coletiva do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC) responsável pela realização do Exame Nacional do Ensino Médio, marcado para acontecer nos próximos dias 21 e 28 de novembro.

Os coordenadores trabalham em áreas ligadas à execução da prova. As demissões são um protesto pela saída do presidente do Inep, Danilo Dupas. Há ameaça de mais exonerações ao longo dos próximos dias.

Na sexta-feira (5), outros dois coordenadores pediram desligamento do órgão: o coordenador de Exames para Certificação, Eduardo Carvalho Sousa, e o coordenador da Logística de Aplicação, Hélio Júnio Rocha Morais.

Antes disso, na quinta-feira (4), parte considerável da equipe de servidores do Inep participou de um ato de protesto contra Dupas, que é acusado de assédio moral e incompetência.

Em ofício encaminhado aos diretores do Inep via rede interna do governo federal (o SEI – Sistema Eletrônico de Informações), os servidores alegaram que as demissões ocorrem “considerando a situação sistêmica do órgão” e também em decorrência da “fragilidade técnica e administrativa da atual gestão máxima do Inep”.

“Destaco, por fim, que não se trata de posição ideológica ou de cunho sindical. A despeito das dificuldades relatadas, reafirmo o compromisso com a sociedade de manter o empenho com as atividades técnicas relacionadas às metas institucionais estabelecidas em 2021”, conclui o ofício.

Em nota, a Associação dos Servidores do Inep (Assinep) lamentou “profundamente” que o instituto tenha “chegado a esse ponto”.

Afirmou ainda que os demais servidores que continuam no Inep vão seguir trabalhando para que as demandas do órgão sejam cumpridas, mas cobrou uma “atuação urgente” do Ministério da Educação (MEC) e do governo federal para resolver a questão.

Os servidores também questionam o fato de Dupas tentar responsabilizar os funcionários do Inep por possíveis falhas no Enem e em outros processos do órgão. Ele não teria lido as perguntas que vão para a prova e também teria deixado seu nome de fora das pessoas que podem ser acionadas em caso de problemas durante a aplicação do Enem.

“Todas as suas ações demonstram que, na verdade, sua prioridade é resguardar o seu CPF, a ponto de se recusar a fazer parte dos próximos trabalhos das Equipes de Incidentes e Resposta”, complementa a nota da associação.

Os funcionários do órgão também denunciam casos de assédio moral. “Trabalhadores e chefias estão adoecendo mentalmente, em virtude da sobrecarga de trabalho e do clima desfavorável à realização segura das atividades altamente complexas do Inep”.

Alexandre Retamal, presidente da Assinep, afirmou que os servidores só estavam tomando essa atitude “como um alerta para a sociedade para não serem responsabilizados diante de tudo o que pode acontecer”.

Ele ressaltou que, além do Enem, o Inep também cuida de sistemas que, por exemplo, estão ligados ao Censo da Educação Básica em 202. As informações do censo servem para a distribuição de recursos do Fundeb, que, segundo ele, está atrasada.

Ainda não se sabe ao certo como esse desmonte no órgão que realiza o Enem vai impactar a prova. O exame, que garante o ingresso dos estudantes nas universidades federais brasileiras, vem sendo sabotado pelo governo desde o início da gestão Bolsonaro. Esta edição conta com 3,1 milhões de estudantes inscritos em todo o país. A direção do Inep ainda não se manifestou publicamente sobre as demissões.