Ex-governadora da Província de Buenos Aires, Maria Eugenia, e seu secretário de Trabalho, Marcelo Villegas

A Agência Federal de Inteligência da Argentina apresentará nesta segunda-feira (27) uma denúncia contra funcionários da ex-governadora da província de Buenos Aires, María Eugenia Vidal, por ações fascistas organizadas contra sindicalistas, conforme documentado em vídeos de reuniões do secretário do Trabalho, Marcelo Villegas.

“Acreditem em mim que se eu pudesse, e negarei em qualquer lugar, se eu pudesse ter uma Gestapo, uma força de ataque para acabar com todos os sindicatos, o faria”, disse Marcelo Villegas, então secretário de Vidal, ambos alinhados com o presidente Mauricio Macri (2015-2019).

As declarações foram feitas – e gravadas – no dia 15 de junho de 2017 durante uma reunião com empresários da construção civil e outros funcionários no Banco Província de La Plata em que os macristas garantiam e asseguravam uma estratégia antissindical para a retirada de direitos, previamente coordenada com o poder Judiciário.

A armação era clara, endossada nos níveis de “cidade, província e nação” para perseguir e promover investigações contra dirigentes dos trabalhadores na área da construção.

Pelo modus operandi, as próprias empresas tinham que gerar tensão com os trabalhadores, retirando-lhes algum direito básico, como a alimentação, a fim de que a entidade sindical paralisasse as obras. Em seguida, os empresários dirigiam-se à Secretaria do Trabalho, encaminhando denúncias previamente combinadas sobre hipotéticas intimidações e chantagens. Feito isso, o processo caminhava para o Judiciário, que a julgaria como “extorsão” e “ameaça”, colocando os dirigentes no banco dos réus e inviabilizando a ação sindical.

Na oportunidade, o então secretário do Trabalho explicou também que o plano não era só agir contra os sindicatos, mas também contra os funcionários públicos: “as leis são as leis, tenho que modificar a lei 10.430, retirar a estabilidade dos funcionários públicos da província, algo que um neto meu verá daqui a 100 anos”.

Entre outros, encontravam-se presente ao encontro Roberto Gigante, ex-secretário de Infraestrutura da província; Adrián Grassi, ex-subsecretário de Justiça da província; Juan Pablo Allan, senador; Julio Garro, prefeito de La Plata e Fabián Cusini, empresário da construção e especulador imobiliário.

Três meses depois desta reunião, em 27 de setembro, o representante da União Operária da Construção da República Argentina (Uocra) em La Plata, Juan Pablo “Pata” Medina, foi preso, com as entidades empresariais festejando publicamente. Da mesma forma, a ex-governadora María Eugenia Vidal e o ex-presidente Mauricio Macri celebraram o feito com grande estardalhaço, usando a mesma terminologia utilizada no encontro.

“Temos que reconhecer o trabalho da Justiça neste caso. Não há mais lugar para as máfias, para a extorsão na Província”, sublinhou a governadora. “O que aconteceu em La Plata não é um acidente, é parte central daquilo porque lutamos, dos valores que precisamos instalar na Argentina”, comemorou Macri.

Depois de passar três anos e quatro meses na prisão, Medina aguarda o julgamento oral por extorsão, associação ilícita e lavagem de dinheiro. “Quero que eles mostrem que tenho carros de última geração, uma Ferrari, um helicóptero e tudo o que disseram”, declarou o sindicalista, frisando que “o processo judicial foi orquestrado pela administração de Mauricio Macri e pelos serviços de inteligência”.