O capitão Sofiane Feghouli conduz a bandeira palestina em Argel – foto Ishaq Chebli

Aos gritos de “Campeões! Campeões!”, uma multidão de argelinos ocupou, sexta-feira, as ruas centrais de Argel, agitando bandeiras do país, assim que o juiz do jogo Argélia x Senegal deu o apito final da partida de futebol, vencida pela equipe argelina por 1 a 0 com a qual o país conquistou a Copa Africana das Nações.

A final aconteceu no Estádio Internacional do Cairo, Egito.  O jogador Baghdad Bounedjah fez gol da vitória aos 79 segundos do primeiro tempo. Os argelinos sustentaram a vantagem obtida no início da partida até o instante final.

A capital Argel ficou iluminada com fogos de artifício que encheram os céus na explosão de alegria e de expressão do sentimento de afirmação nacional em um país que tem vivido uma gigantesca onda de manifestações que impediram a 5ª candidatura de Abdelaziz Bouteflika e levaram a sua saída da presidência no dia 2 de abril, pondo fim a um governo e sua casta de aliados extremamente desgastados sob a acusação de enriquecimento com base em esquemas de privilégios e corrupção.

O Estádio 5 de Julho de 1962 (cujo nome celebra a data da independência da França, o que custou 1,5 milhão de vidas na luta pelo fim do ultraje colonial francês), onde foram dispostos telões para que o jogo pudesse ser acompanhado em Argel, ficou lotado de torcedores.

Outros recorreram a diversos expedientes para reunir grupos de amigos por todo o país durante o jogo.

Foi o caso de Fadil, que se reuniu com os vizinhos e montou um telão com 100 cadeiras em frente a sua casa para que aqueles quisessem pudessem assistir juntos a partida. “Foi importante assistirmos este jogo juntos, foi um momento único de unidade”, destacou.

“Foi um jogo estressante. Eu provavelmente perdi três quilos torcendo pelo nosso time”, declarou o comerciante de 48 anos.

Ele havia assistido, quando criança, junto com seu pai, à partida na qual a Argélia tornara-se campeã pela primeira vez disputando a copa africana, em 1990. “Agora assisti a essa nova vitória junto com meus filhos, 29 anos depois”.

“Isso vai além do esporte. É uma questão de orgulho nacional”, disse a estudante Amina, de 24 anos.

A celebração da vitória da equipe campeã, denominada de “Guerreiros do Deserto”, também tomou conta das ruas de Paris, Lyon e Marselha, onde há grandes comunidades de imigrantes argelinos.

Vitória também foi festejada em Paris, Lyon e Marselha, onde há grandes comunidades de argelinos – Benoit Tessier – Reuters

Foi um momento de alegria e orgulho para um país cuja economia tem sido assaltada e a população está rebelada. A Argélia tem metade da população com menos de 30 anos e o desemprego para os que estão nesta faixa etária está em 30%. A queda nos preços do petróleo afetou a economia argelina e a submissão governamental ao FMI com cortes nos programas sociais, arrocho e redução dos investimentos, elevou o descontentamento popular e findou com a queda do governo.

No entanto, as manifestações continuam uma vez que a presidência passou para as mãos do presidente do parlamento, Abdelkader Bensalah, que prometeu eleições em 90 dias, mas elas já foram adiadas duas vezes e ainda seguem sem nova data marcada. (Ver matéria https://horadopovo.org.br/argelia-presidente-bouteflika-renuncia-apos-seis-semanas-de-protestos/)

No estádio cairota, onde a final foi disputada, além dos gritos da torcida em favor da Argélia, também eram insistentes as palavras de solidariedade aos palestinos.

SOLIDARIEDADE

No dia seguinte à vitória, os jogadores e o técnico, Djamel Belmadi, desfilaram em carro aberto na capital, com uma grande bandeira do país à frente, passando em meio à multidão. O capitão, Sofiane Feghouli, considerado um dos melhores jogadores africanos da atualidade, fez questão de conduzir a bandeira da Palestina durante a passagem do caminhão com os atletas vitoriosos.