A produção industrial do país caiu 0,7% em fevereiro, interrompendo uma sequência de nove meses em que o setor produtivo caminhava estagnado. Com o resultado, a produção passou a acumular queda de 4,2% em 12 meses.

Os dados divulgados nesta quinta-feira (1º/4) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que dois entre os setores mais afetados foram de bebidas e alimentação, colocando o fim do pagamento da renda emergencial como um dos fatores determinantes para a queda na produção industrial. Além disso, o IBGE responsabiliza o recrudescimento da pandemia (e a vacinação em marcha lenta), o alto índice de desemprego e a inflação pelas dificuldades do setor produtivo.

“É um conjunto de fatores que explica não só o comportamento negativo desse mês, mas também nos meses anteriores, com taxas positivas, mas em magnitude menor. Em 2021, há recrudescimento da pandemia, que leva a restrições em algumas regiões do país, com dificuldades das cadeias produtivas. O auxílio emergencial também é um fator importante, já que é o segundo mês sem auxílio. E também um contingente importante fora do mercado de trabalho e o nível de preços está elevado”, aponta André Macedo, gerente da pesquisa.

Segundo o IBGE, o setor se encontra agora 13,6% abaixo do patamar recorde alcançado em 2011.

“Nos últimos meses nós já vínhamos observando uma mudança de comportamento nos índices da indústria, que, embora ainda estivessem positivos, já apresentavam uma curva decrescente, demonstrando um arrefecimento”, completa Macedo.

Das quatro grandes categorias econômicas produtivas, três sentiram os resultados negativos de fevereiro: bens duráveis (-4,6%), bens de capital (-1,5%) bens de consumo (-1,1%) e bens semi e não-duráveis (-0,3%). Entre os ramos, houve recuo em 14 dos 26 pesquisados.

Na comparação com o mesmo mês do ano passado, as quedas foram de 5% e 4,4%, respectivamente, para os setores que atuam na produção de alimentos e bebidas. Se olhar os dados no acumulado de 2021, a produção de produtos alimentícios caiu 5,1%.

“A perda de dinamismo recente da indústria vem sendo condicionada pelos ramos cujos mercados dependem do consumo das famílias, que tem sido freado não apenas pelo medo e isolamento decorrente diretamente da Covid-19, mas também pelo desemprego e pelo fim do auxílio pago às famílias”, argumenta o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi).

No resultado mensal, a produção de automóveis e autopeças pressionou o resultado de fevereiro, com um tombo -7,2%.

No ano passado, a indústria foi responsável pelo segundo maior impacto negativo sobre o Produto

Interno Bruno (PIB), que despencou 4,1%. O setor teve queda de 3,5%. Os economistas são categóricos sobre as perspectivas diante da política negacionista de Bolsonaro e a inércia de Paulo Guedes: não haverá recuperação sem vacina e sem consumo.