Macri também voltou atrás de seu anúncio de congelamento do preço da gasolina - Natacha Pisarenko - AP

Depois de botar a culpa do colapso econômico na oposição e nos que nela votaram, Macri recebeu uma chuva de protestos de seus próprios aliados e chefes de sua campanha. Essa foi a razão de seu recuo que incluiu uma mudança na relação com o opositor, Alberto Fernández, que venceu as primárias por 49% a 33%, ao qual agora chama ao diálogo.

Entre eles, Elisa Carrió que, junto com seus correligionários do Partido Afirmação para uma República Igualitária, fizeram campanha para ele e, nos últimos dias, o advertiram, exigindo que mudasse de tom e sugerindo medidas de última hora para tentar reverter o quadro eleitoral extremamente adverso até as eleições que se realizarão em outubro.

Além de Elisa, o governador do Distrito Federal de Buenos Aires, Horacio Larreta e a governadora da Província de Buenos Aires, Maria Eugenia Vidal, também estão entre os que pediram que Macri se contivesse.

“Quero lhes pedir desculpas pelo que disse na entrevista coletiva de segunda-feira”, disse Macri, na quarta-feira, referindo-se aos insultos que verberara contra o adversário vencedor nas primárias, com quem já adiantou que teve uma conversa que considerou “boa”. Procurou esclarecer dizendo que o destempero fora causado pelo cansaço da campanha e pela tristeza ao saber do resultado adverso nas urnas.

Foi uma mudança de posicionamento – depois de alertado para o aprofundamento de seu isolamento – em quem, menos de 48 horas antes, havia qualificado Fernández e seus eleitores de acometidos de um “autoritarismo populista”. E, projetando no adversário o desastre que causou na economia do país, disse que eles “iriam pôr fim à Argentina”.

Agora, passou a pedir a todos que não vejam os seus adversários “como inimigos”.

Além disso, diante do desastre nas urnas, anunciou medidas que contrariam totalmente o receituário neoliberal que aplicou durante todo o seu governo.

CONGELAMENTO DE GASOLINA FAZ ÁGUA

Disse que iria congelar o preço da gasolina por 90 dias e que os trabalhadores iriam receber um “abono salarial”.

Da primeira medida, recuou apenas 11 horas depois de anunciada, por pressão das petroleiras que, durante o período macrista, especularam com os valores cobrados em seus postos, ao contrário do que lhes era combatido nos governos de Néstor e Cristina Kirchner.

Mostrando total descontrole com o revés de seu aliado neoliberal, com grandes chances de deixar o governo do segundo maior país latino-americano e exatamente por aplicar medidas similares às que tenta impor no Brasil, Bolsonaro xingou os eleitores argentinos que votaram no adversário, Alberto Fernández.

Os chamou de “esquerdalha” e de “bandidos de esquerda”, agourando um suposto desastre caso a oposição seja eleita, passando por cima do fato de que o seu amigo foi quem já causou o despenhadeiro no país vizinho.

Fernández é contrário ao descontrole financeiro e sumiço do Estado, fatores do desgoverno de Macri que os argentinos perceberam como causadores da grave crise que o país atravessa.

Acontece que agora os epítetos bolsonaristas estão em descompasso até mesmo com o seu aliado na Argentina. Macri pelo menos foi capaz de perceber o desastre que esse comportamento desesperado diante de um revés e indigno de um chefe de Estado, pode lhe trazer.

Na quinta-feira, foi a vez do ministro de Bolsonaro, Paulo Guedes, tentar, com chantagem barata, tirar Macri do buraco que ele cavou para si. Achando que pode dar ordens sobre as decisões do governo argentino que se avizinha, disse que se Fernández e Cristina vencerem e quiserem “fechar a eonomia”, o Brasil sairá do Mercosul.