A luta contra o racismo e pela igualdade que marca o 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, se fortalece, neste ano, a partir do entrelaçamento destas bandeiras com a campanha nacional Fora Bolsonaro. Dessa forma, movimentos sociais, organizações civis e político-partidárias se juntam para levar milhares de pessoas às ruas em todo o país, neste sábado (20).

Para tratar do assunto, a presidenta da União Nacional dos Negros pela Igualdade (Unegro) e dirigente nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Ângela Guimarães, concedeu entrevista, nesta quinta-feira (18) ao Portal PCdoB.

“A gente está com todo gás, a todo vapor, para o 20 de novembro! Desde a constituição da Frente Brasil Popular e da Povo Sem Medo, a gente vem pautando essas frentes para elas assumirem o Dia Nacional da Consciência Negra como um dia importante do seu calendário de luta. E isso foi possível agora no âmbito da campanha Fora Bolsonaro”, colocou.

A dirigente destacou ainda que “vivemos um momento de agravamento da situação do país e do escancaramento do caráter racista e genocida desse governo, o que também tem contribuído para que essa data ganhasse ainda mais relevância no calendário de lutas”.  E acrescentou: “Será um ato nacional que agregará todos os movimentos sociais, as expressões de centro-esquerda gritando ‘Fora, Bolsonaro racista’ em alto e bom som!”.

Na compreensão da Unegro, disse, não é possível, isoladamente, concretizar as transformações de fundo do Brasil. “Por isso, é preciso atuar sempre na condição de construir frentes políticas que agreguem mais expressões da luta social contra inimigos comuns, para enfrentar determinadas situações gravíssimas, como é esse governo de extrema-direita. Isso exige da gente habilidade, capacidade de aglutinação. Nesse sentido, têm sido muito importantes as ações do movimento negro ao longo do ano, que vêm acumulando na construção de um 20 de novembro que marque indubitavelmente o enfraquecimento e o isolamento de Bolsonaro e contribua para derrotar desse projeto neofascista”.

Luta antifascista e antirracista

Ângela Guimarães também analisou o caráter do fascismo e como ele se manifesta hoje. “O fascismo se alimenta do racismo, das desigualdades de gênero e produz uma narrativa que busca deixar esses fenômenos incólumes exatamente para não alterar a ordem social”. Além disso, apontou, “o fascismo desconsidera fatos históricos e a produção científica para buscar distorcer e negar a realidade. Isso é parte da manutenção da sua estratégia de dominação”.

A dirigente avalia que tem havido maior percepção da sociedade sobre o racismo e as várias formas de discriminação. “As desigualdades raciais, de classe, de gênero são amplamente conhecidas e vivenciadas na sociedade. A luta histórica dos movimentos negro, de mulheres, sindical, de luta por moradia, dentre outros, ajudou a construir essa consciência de forma mais ampla no conjunto da população. Não é à toa que a gente está vendo uma explosão de denúncias de racismo, de casos que são filmados pelos celulares, que caem nas redes e chegam às delegacias”.

Para Ângela, a população também “reconhece a tentativa de escamoteamento dessa realidade, que é necessariamente uma estratégia de manutenção da ordem e uma estratégia de desqualificação das lutas coletivas por transformação e das lutas populares. É isso que o fascismo faz. Criminaliza os movimentos populares, empobrece a discussão e trabalha com uma rede de mentiras, de ódio, de fake news e se apega a valores ditos tradicionais”.

O movimento negro, explicou, tem buscado enfrentá-lo e desconstruí-lo. “Fazemos como a gente sempre fez ao longo da história do Brasil contra as estratégias de dominação da elite também no campo da luta de ideias”. Ela lembrou que, outrora, as elites se utilizaram das formulações do racismo científico. “Nós nos organizamos para desconstruir esse discurso, para dizer que não havia base científica para uma tese que estabelecia a inferioridade das populações não brancas. Assim foi também com as teses de eugenia, as teorias do embranquecimento, da miscigenação enquanto política de Estado e com o mito da democracia racial”.  E agregou: “O nosso papel é combater essas ideias, organizar a luta com a produção de conhecimento e fazer circular esse conhecimento. Este é o papel de quem está se insurgindo contra a ordem estabelecida”.

Perspectivas

A partir desses elementos e da atual conjuntura, Ângela explica que a perspectiva do movimento negro é seguir organizando a população em suas mais variadas áreas de atuação, “na construção da luta política, de resistência ao desmonte do Brasil, ao desmonte das políticas sociais e das conquistas históricas e recentes do nosso povo porque a situação é muito grave, a gente está perdendo direitos numa velocidade muito rápida”.

Ângela lembrou que “voltamos ao mapa da fome e de forma muito rápida, temos altos índices de desemprego, temos pessoas na fila para pegar osso e mulheres vasculhando carros de lixo, crianças desmaiando na escola por fome, gente desesperada com a fome e a miséria, desesperada por não ter o que levar para casa”.

Ela defende a necessidade de organizar cada vez mais o povo para “interromper o quanto antes esse desgoverno e, na impossibilidade de que um dos 136 pedidos de impeachment que estão dormindo em berço esplêndido na Câmara avance, a gente precisará constituir uma disputa de consciências num grau radicalizado no Brasil. Já temos boa parte da população rejeitando Bolsonaro”. E a população negra, acrescentou, é a fatia na qual a rejeição é maior “porque é exatamente quem mais está sentindo os efeitos deste desgoverno”.

O que o movimento almeja, concluiu Ângela, “é construir a resistência hoje, amanhã e sempre, derrotar o governo Bolsonaro e contribuir para a reconstrução do Brasil, juntamente com forças políticas e sociais avançadas”. A nossa utopia, completou, “é viver num Brasil com distribuição de renda, socialmente justo, um Brasil onde não haja espaço para o racismo, nem para o ódio às mulheres e às pessoas LGBTQIA+”, disse a dirigente.

 

Por Priscila Lobregatte