A atuação da Secretaria Nacional de Juventude do PCdoB ao longo deste ano e as perspectivas para 2022 foram o foco desta entrevista, concedida pelo secretário André Tokarski ao Portal do PCdoB nesta segunda-feira (20). O dirigente analisou as ações mais importantes da secretaria no último período e os desafios que o próximo ano – marcado pelo centenário do partido e pelas eleições – trará para os comunistas e para a frente da juventude. 

 

Ao abordar as principais ações de 2021, André Tokarski explicou que, no contexto da Covid-19, “o trabalho da secretaria, assim como ocorreu nas demais frentes partidárias, foi profundamente afetado pela pandemia e pelo isolamento social devido ao fechamento das escolas e das universidades, que tiveram  quase dois anos completos de atividades presenciais suspensas”. 

 

Essa situação inédita, avaliou o dirigente, “impactou a dinâmica de atuação do trabalho partidário entre a juventude; por isso, buscamos, desde o início da pandemia, uma adaptação, de maneira a garantir atividades e reuniões remotas, para que a nossa atuação partidária se mantivesse em pleno funcionamento. E acredito que fomos exitosos”. 

 

Considerando este cenário, o secretário destacou como primeira ação de grande relevância a realização do Encontro Nacional Partido e Juventude. “Tivemos a participação de quase três centenas de dirigentes entre nacionais, estaduais e municipais do PCdoB, além dos jovens comunistas que atuam na União da Juventude Socialista (UJS) e na Juventude Pátria Livre (JPL), mobilizados em torno dos nossos objetivos de atuação política”, contou. 

 

O evento foi parte integrante do processo de mobilização da juventude para o 15º Congresso do PCdoB e, através dele, a secretaria buscou “materializar o projeto de mapeamento dos cerca de mil quadros jovens do partido e organizá-los nas bases partidárias para atuarem nos principais centros políticos que concentram grande parte da juventude, como as maiores escolas e universidades”. 

 

Juventude e quadros

 

Outro ponto ressaltado por André Tokarski foi a criação do Grupo de Trabalho Nacional de Juventude e Quadros, que tem a participação da secretaria e também do Departamento Nacional de Quadros, com o objetivo de buscar consolidar esse mapeamento e integrar esse público no trabalho partidário. “O GT já foi instalado em dez estados, repetindo a participação de dirigentes partidários da frente de juventude com a participação do Departamento Estadual de Quadros e da Secretaria de Organização”, explicou. 

 

O alvo central deste trabalho é fazer o acompanhamento da política de quadros no âmbito da juventude “visando ampliar as nossas bases e fazer uma ligação direta com esse público nos principais centros políticos e acompanhar o desenvolvimento, a formação política e ideológica desses jovens no âmbito do partido, preparando também novas gerações de comunistas para assumir tarefas nas mais variadas frentes de atuação partidária”. 

 

Centenário do PCdoB

 

Para o próximo ano, André Tokarski enfatiza a importância das comemorações do centenário do PCdoB. “É um legado fundamental,  uma história que precisa ser contada e comemorada porque retrata um século de lutas e de transformações do Brasil e o papel dos comunistas nessas lutas. Esse legado histórico é um importante esteio na construção da unidade para um programa de reconstrução nacional para o país”.

 

Neste sentido, salientou, “a grande missão dos comunistas em 2022 é a construção de uma frente ampla, cujo objetivo seja derrotar Bolsonaro e abrir caminho para a reconstrução nacional”. O secretário lembrou que o PCdoB ainda está discutindo as questões que envolvem as eleições, mas argumentou que “a candidatura do ex-presidente Lula, sem sombra de dúvidas, representa uma importante esperança na possibilidade de união de amplas forças políticas para derrotar Bolsonaro e abrir caminho para a reconstrução nacional”. 

 

Ele acrescentou ainda que o centenário será “de muita luta” e que trará “a mensagem do legado histórico de heróis da luta do povo brasileiro, homens e mulheres trabalhadores que, de forma abnegada, dedicaram a sua vida para estruturar o nosso partido e o trouxeram até aqui como uma ferramenta de luta, de combate, de transformação social, sem nunca abrir mão da perspectiva da luta pelo socialismo. O Partido Comunista do Brasil, ao longo desses cem anos, tem atuado na defesa da democracia, da soberania, da reconstrução nacional e com a perspectiva estratégica de lutar por uma transformação radical no rumo do socialismo”. 

 

Desafios em 2022

 

André Tokarski considera que o PCdoB tem um duplo desafio no próximo período. “De um lado, ser parte da construção de uma ampla frente capaz de reunir um conjunto de forças políticas e sociais que tenham como objetivo isolar Bolsonaro e derrotar a extrema-direita nas eleições”, colocou.

 

Por outro lado, completou, “temos o desafio de fortalecer a atuação do partido. E isso significa reverter a tendência de queda nas votações nos grandes centros urbanos; eleger ampla bancada federal; viabilizar, no âmbito de uma aliança das federações partidárias, uma federação que reúna as melhores condições políticas para o PCdoB superar a cláusula de barreira e manter a sua autonomia político-partidária”. 

 

Essa federação, disse, “deve também ser o esteio do revigoramento do partido, de sua linha de massas, aliado ao seu crescimento eleitoral”. Ao mesmo tempo, ponderou, o PCdoB deve “firmar sua  identidade como o partido do socialismo e garantir, nas chapas de deputado federal e estadual, a participação de jovens”.

 

Para André, é importante combinar renovação e permanência. “É preciso que nós, que temos a bancada mais bem avaliada da Câmara, possamos combinar essa permanência com a abertura de espaços para renovação de jovens lideranças”. 

 

Novos ventos

 

A vitória conquistada pela esquerda no Chile, com a eleição de Gabriel Boric para presidente no domingo (19) foi, na avaliação de André Tokarski, “uma demonstração vibrante e esperançosa de que nós podemos derrotar, sim, a extrema-direita”. 

 

Conforme lembrou André, o jovem presidente eleito, de 35 anos, “foi uma das lideranças das revoltas ocorridas a partir de 2011, ao lado de outros jovens da JJCC, a juventude do Partido Comunista do Chile. Eles tiveram um papel destacado nas lutas estudantis em defesa do papel da educação pública contra o ensino privado elitista que privava a juventude do processo de integração ao ensino superior. E agora essa mesma geração atuou nas mobilizações em defesa de uma nova constituinte”, o que culminou na vitória contra a Constituição herdada da ditadura de Pinochet. 

 

Ao comparar os processos dos dois países, o dirigente salientou: “Também temos uma juventude engajada desde o tsunami da educação em 2019, que levou centenas de milhares de jovens às ruas em grandes jornadas de luta pelo Fora Bolsonaro. É no curso dessa resistência democrática que o PCdoB encontrará caminhos para se fortalecer e a juventude tem um papel historicamente destacado nessa construção”.

 

Juventude e crise

 

Mas, o Brasil de 2022 trará uma situação particularmente difícil para a  juventude. André explicou que “nos últimos dez anos o crescimento acumulado do PIB no Brasil foi de apenas 2,7%. Já a China, nos últimos 30 anos, cresceu acima de 6% ao ano em média e o crescimento mundial da economia nesses últimos dez anos superou os 20%. Essa situação impacta profundamente o futuro da juventude”. 

 

Para ele, é preciso que nesse processo de reconstrução nacional, o Brasil “tire lições e aprendizados políticos”. As políticas de ajuste fiscal adotadas neste momento, colocou, “restringem direitos e não apontam para a reconstrução nacional”. 

 

O dirigente enfatizou que a juventude compõe boa parte da população desempregada e que mais foi afetada pelo agravamento das desigualdades sociais no processo da pandemia. “Foram os jovens que mais sofreram com praticamente dois anos de escolas e universidades fechadas e que vêem seu futuro se perder num processo de não recuperação econômica, de não geração de empregos”. 

 

Portanto, concluiu, “é preciso, além de derrotar Bolsonaro, viabilizar um programa político capaz de reorganizar o país, cujo foco principal seja a retomada do crescimento, a garantia do desenvolvimento nacional e a ampla mobilização voltada a assegurar os direitos sociais a partir da participação ativa do Estado e da ampliação do investimento público. Porque é isso que vai abrir uma nova perspectiva que garanta a dignidade da juventude brasileira”. 

 

Por Priscila Lobregatte