O secretário nacional de Juventude do PCdoB, André Tokarski, professor de Ciência Política e Direitos Humanos e mestre em Direito Político e Econômico, avalia que os ataques e ameaças que o governo Bolsonaro faz à Educação brasileira, além da sua política econômica e social, estabelecem um cenário de caos e atinge, principalmente os jovens. “É um governo de destruição nacional”, considerou André, em entrevista exclusiva ao Portal PCdoB.

O secretário discorreu sobre a política social e econômica, incluindo o fim do programa Bolsa Família e o desemprego entre os jovens, ressaltou o protagonismo da juventude na campanha Fora Bolsonaro e as perspectivas para os protestos do dia 20 de novembro. André analisou também os cortes nas verbas federais para a Educação e falou sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que está sob risco após pedido de demissão em massa dos funcionários do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep) – instituição responsável pela aplicação das provas.

No início de sua fala, o dirigente recordou que o 15º Congresso do PCdoB – realizado em outubro – “definiu como ponto principal a luta para derrotar Bolsonaro e abrir caminho para a reconstrução do país. O PCdoB defende a luta pelo socialismo, mas não defende isso desconhecendo a realidade do país. Por isso que, nas condições atuais, ter coerência com a luta pelo socialismo é reunir todas as forças interessadas em derrotar esse projeto de caráter fascista, autoritário e de destruição dos direitos sociais e populares implementado pelo governo Bolsonaro”, considerou André Tokarski.

Sobre a recente extinção do Bolsa Família, provocado pelo governo federal, o secretário de Juventude afirmou que a falta de um programa de distribuição de renda e de amparo social como este penaliza as famílias duplamente. “Milhões de famílias ficam desassistidas desse importante programa de emergência, de assistência social e também, por outro lado, penaliza os jovens com o fim do estímulo à frequência escolar, que esse programa estabelecia como contrapartida. É um duplo prejuízo para crianças e adolescentes”, explicou.

Verbas para a Educação

Enquanto Bolsonaro estiver na presidência, a juventude negra, periférica e os filhos da classe trabalhadora serão excluídos do direito à educação e do direito ao trabalho decente, ressaltou o secretário. Ele informou que a retirada de verbas federais da Educação atingiu crianças, jovens e adolescentes. “Impactou em todas as pontas desde a redução drástica do ritmo de expansão de abertura de vagas, por exemplo, em creches até a pós-graduação com a retirada de recursos das bolsas dos pós-graduandos”, explicou André.

Ele completou que “o caminho do aeroporto” é a opção que o governo Bolsonaro oferece aos jovens talentos brasileiros. “São cientistas, jovens pesquisadores, talentos que querem contribuir para o desenvolvimento científico, tecnológico e econômico do país”. O resultado é a evasão, a fuga de cérebros para outros países, afirmou. “Não há estímulo e nenhum tipo de incentivo no país. Há mais de 8 anos que as bolsas de mestrado e doutorado não têm reajuste. É uma tragédia nacional o que o governo Bolsonaro representa para a perspectiva da juventude”.

Enem

Quando se trata da juventude que quer ingressar no ensino superior o cenário também é grave. Previsto para ser realizado nos dias 21 e 28 deste mês, o Enem está sob ameaça após o pedido de demissão coletiva de 37 servidores do Inep alegando “fragilidade técnica e administrativa da atual gestão máxima” do órgão. Os trabalhadores também relataram situações de assédio moral.

Na opinião de André, o Inep passa por um desmonte sistemático. “O ministro da Educação [Milton Ribeiro] não tem aptidão alguma para conduzir o ministério.  O Enem está sob risco de sua realização ser comprometida agora com a demissão em massa de servidores qualificados. Essa debandada se dá exatamente pela falta de compromisso do ministro da Educação com a realização e com a valorização do Enem”, afirmou André.

Ele lembrou que em 2015, o Enem somou cerca de 10 milhões de estudantes inscritos. Já em 2021 registrou a menor participação estudantil no Enem, com 3 milhões de estudantes inscritos. “O Enem se tornou um grande instrumento de acesso à universidade, tanto às universidades públicas quanto as universidades privadas, neste caso através de bolsas como o Prouni e o Fies”, analisou André.

André Tokarski em palestra na UnB, em 2019, em Brasília-DF.

“Querem aparelhar politicamente o Enem e ao mesmo tempo desestimular e reduzir a participação, especialmente de estudantes de escola pública, de estudantes negros e de estudantes filhos da classe trabalhadora”, rechaçou.

André citou outro exemplo que ilustra o descaso do governo com a Educação. “Nós estamos agora no retorno às aulas e mesmo com o avanço da vacinação contra a Covid-19 não há nenhuma iniciativa do Ministério da Educação como, por exemplo, uma campanha de retomada das aulas”. Na opinião de André, o ministério deveria liderar um processo de busca ativa dos estudantes que ainda não voltaram para a escola. “A situação se agravou com a pandemia e mesmo assim não há nenhum estímulo, não há nenhum incentivo à educação”, disse.

Desemprego impacta juventude

A atuação do governo Bolsonaro nas áreas da educação e do trabalho são as que resultam em maior impacto negativo entre a juventude, afirmou André. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quatro milhões de jovens entre 18 e 24 anos de idade estão procurando emprego.

“Última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do segundo trimestre de 2021, apontou que 30% dos jovens estão desempregados na faixa etária entre 18 e 24. Cresceu muito também a participação de jovens em profissões informais, que não promovem proteção ao emprego e não amparam com direitos sociais e previdenciários. Esses jovens estão expostos a jornadas de trabalho exaustivas e com remuneração baixíssima”, ressaltou André.

Para ele, “Bolsonaro é um verdadeiro exterminador do futuro da juventude pregando desestímulo à Educação e negando desenvolvimento econômico com vagas qualificadas para o mercado de trabalho”.

Fora Bolsonaro

Por todos estes motivos, Bolsonaro é o alvo da juventude, que tem se destacado em diversos protestos contra o atual presidente. Pelo retrospecto, André espera uma boa participação nos atos do dia 20 de novembro pelo impeachment de Jair Bolsonaro.

Ele citou o protagonismo da juventude desde os atos #EleNão, em 2018, organizado pelas mulheres brasileiras, e os protestos de estudantes em 2019 que ficaram conhecidos como “Tsunami pela Educação”.

“Centenas de milhares de jovens foram às ruas em 2018 e 2019. Com o avanço da vacinação, as grandes manifestações da campanha Fora Bolsonaro tiveram presença majoritária de jovens. É grande a nossa expectativa para os atos convocados principalmente para o dia 20 de novembro em aliança com o importante movimento negro brasileiro. O 20 de novembro marca essa unidade de luta de combate ao racismo e, sem dúvida, com grande participação da juventude”, afirmou.

Na avaliação do secretário, para fortalecer a participação da juventude nos atos é preciso desmascarar Bolsonaro e associar ao governo dele ao caos vivenciado pela população. “Se o Brasil está caro, se a carne está cara, se não tem emprego, se a gasolina está nas alturas, se não há perspectiva de melhoria das condições de vida a responsabilidade é do Bolsonaro”, disse.

Para ele, é preciso dialogar. “Ter essa condição de explicar para as pessoas a responsabilidade desse governo pela falta de enfrentamento à pandemia, pelo atraso na vacinação que trouxe o país a essa condição. Portanto, isso tem um potencial de ampliar a participação de jovens também nas mobilizações”.

André afirmou que a juventude é a grande interessada na derrota de Bolsonaro, e por isso, adotou o Fora Bolsonaro como bandeira e como palavra de ordem. “Bolsonaro é o exterminador do futuro da juventude e ele atua para agravar as desigualdades sociais do país e isso impacta profundamente o presente e o futuro do país”.

“Não é por acaso que os jovens são os que mais rejeitam o atual governo e o que estão mais engajados na luta social, política para derrotar Bolsonaro e construir uma ampla frente política e social capaz de barrar essa destruição e de derrotar, em definitivo, esse governo abrindo caminho para um novo rumo para o nosso país”, completou.

Além de mestre, André Tokarski é doutorando em Direito pela PUC-SP. Graduado em Direito pela UFG. Membro do Conselho Técnico e Científico da Capes (CTC-ES).

 

Por Railídia Carvalho