Senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ)

O auditor João José Tafner, tido pelos colegas como apoiador do governo Bolsonaro, foi indicado para o cargo de corregedor da Receita Federal, na terça-feira (1).

Ele tem a chancela do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), interessado em bloquear as investigações sobre seus crimes de rachadinha.

Tafner já foi indicado pelo governo Bolsonaro para outros cargos, como em 2021, quando virou diretor administrativo-financeiro do Ceagesp. Em 2018, ele fez campanha para o então candidato bolsonarista Marcus Dantas (PSL-SP) e tirou fotos com Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o futuro ministro da Ciência e Tecnologia de Bolsonaro, Marcos Pontes.

O cargo corregedor da Receita Federal é cobiçado por Jair Bolsonaro desde que as denúncias contra seu filho Flávio, que o acusam de recolher parte dos salários dos funcionários para enriquecimento próprio, surgiram, no começo do governo.

Flávio acusou o antigo corregedor, José Pereira de Barros Neto, de não ter investigado atos ilegais, ou seja, de estar prevaricando. O caso foi arquivado pelo Ministério da Economia por falta de provas.

A argumentação de Flávio Bolsonaro é que a investigação sobre a rachadinha que mantinha em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) começou por conta da atuação irregular de auditores.

Fabrício Queiroz, amigo pessoal de Jair Bolsonaro, era quem centralizava o esquema criminoso. Ele recebia partes de até 80% dos salários dos assessores para depois repassar para o então deputado Flávio. Queiroz pagava, por exemplo, a escola em que estudaram as filhas de Flávio Bolsonaro.

Quando o mandato de José Pereira de Barros Neto à frente da Corregedoria da Receita Federal se encerrou, Flávio agiu de forma a bloquear nomeações que não estavam alinhadas com seus interesses.

O ministro Paulo Guedes chegou a anunciar que o auditor Guilherme Bibiani assumiria o cargo, mas Flávio impediu a nomeação porque Guilherme não era um homem de sua confiança.

O senador então pediu para que fosse nomeado o auditor fiscal aposentado Dagoberto da Silva Lemos. Dagoberto chegou a se reunir com Jair e Flávio Bolsonaro para discutir sua atuação enquanto corregedor, mas sua nomeação nunca foi efetivada.

O cargo ficou vago entre julho de 2021 e a última terça-feira (1), quando o bolsonarista João José Tafner foi nomeado.

A defesa de Flávio Bolsonaro alega, desde 2020, que ele teve os dados fiscais acessados ilegalmente pela Receita para fornecer informações ao relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão de inteligência financeira que apontou as movimentações suspeitas de seu ex-assessor Fabrício Queiroz.

O Coaf apontou que Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão de janeiro de 2016 a janeiro de 2017. Em 4 anos ele movimentou R$ 7 milhões sem ter renda para isso.

Entretanto, a corregedoria da Receita Federal não encontrou indícios de que o relatório do Coaf que trouxe à tona o escândalo das “rachadinhas” tenha envolvido ato ilegal de auditores fiscais do Rio de Janeiro.

A Corregedoria arquivou o caso com o argumento, entre outros, de que o Coaf demonstrou que é ele quem repassa informações à Receita, não o contrário.

Foi o Coaf que apontou as movimentações suspeitas de Flávio Bolsonaro e seu faz tudo Fabrício Queiroz, que levou à denúncia contra Flávio sob acusação de peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro no fim do ano passado.

Após o Coaf apontar as irregularidades nas contas do filho, Bolsonaro tirou o Coaf do Ministério da Justiça e passou para o Ministério da Economia, onde ele poderia ter mais controle e evitar dissabores para seus filhos e aliados.