Na sexta-feira passada (23), o YouTube removeu mais quatro vídeos do canal oficial de Jair Bolsonaro por divulgarem fake news sobre o tratamento da Covid-19. Todas as postagens deletadas pela plataforma são lives semanais que o presidente transmite pelas redes sociais. Elas já são famosas pelas piadas asquerosas, grosserias e bravatas.

Por Altamiro Borges*

Os vídeos removidos são dos dias 9 de julho de 2020, 26 de novembro de 2020, 10 de dezembro de 2020 e 11 de fevereiro de 2021. Na semana passada, o YouTube derrubou, pela primeira vez, uma live de Jair Bolsonaro em que ele fala sobre tratamentos não comprovados contra o novo coronavírus.

Todos os vídeos foram excluídos com base na nova política editorial da plataforma. Em 16 de abril, o YouTube decidiu que removerá qualquer conteúdo que recomende o uso da hidroxicloroquina ou da ivermectina. Também foram proibidos o envio de conteúdo com informações médicas incorretas sobre a doença.

O silêncio do Palácio do Planalto

O site UOL procurou a direção da plataforma para questionar sobre a censura ao canal do presidente da República. “O YouTube disse que a atualização de suas políticas está alinhada às orientações atuais das autoridades de saúde globais”. Em nota, a plataforma ainda afirmou:

“Como parte de nosso trabalho contínuo para apoiar a saúde e o bem-estar da comunidade de usuários do YouTube, expandimos recentemente nossas políticas de desinformação médica sobre a Covid-19”. O site também consultou o governo sobre o bloqueio. “Ao UOL, o Palácio do Planalto disse que não irá se manifestar sobre a remoção dos vídeos”.

O site detalhou cada vídeo removido pelo YouTube:

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O que diz Bolsonaro nas lives?

9 de julho de 2020

Na live, o presidente recomenda o uso da hidroxicloroquina para o tratamento da Covid, medicamento sem eficácia comprovada. Na época, Bolsonaro dizia estar infectado pelo coronavírus e que tinha recebido recomendações médicas para tomar o remédio.

“Deixo bem claro para vocês, é um testemunho meu: eu tomei e deu muito certo, estou muito bem”, afirmou o presidente.

Sem citar fontes, Bolsonaro ainda disse ter relatos de “centenas e centenas” de pessoas que foram tratadas com a hidroxicloroquina e se curaram da covid-19. “Não fiquem querendo proibir as pessoas que porventura queiram tomar, uma vez contaminadas, e depois de uma recomendação médica o façam”, pediu.

26 de novembro de 2020

No final do ano passado, Bolsonaro questionou o uso de máscaras contra a covid-19. Desde o início da pandemia, o presidente aparece em eventos e interage com apoiadores sem a proteção facial.

Na live, ele chega a dizer: “A questão da máscara, ainda vai ter um estudo sério falando sobre a efetividade da máscara… é o último tabu a cair”. No mesmo vídeo, ele volta a recomendar a hidroxicloroquina para combater a covid-19 e cita um estudo —o texto, contudo, contraria pesquisas e a posição de especialistas, que alertam para os riscos da administração do medicamento, entre eles a possibilidade de aparecimento de problemas cardíacos.

10 de dezembro de 2020

Em live, ainda disponível no Facebook, o presidente volta a defender o uso da hidroxicloroquina. Sem apresentar provas, o presidente diz que o medicamento poderia evitar a evolução da covid-19 para casos graves.

“O que que tem no hospital? O respirador. Salva gente? Salva gente, sim, salva gente, mas tem que se evitar aí o entubamento da pessoa. Evita-se como? Numa primeira fase, o tratamento, que é a tal da hidroxicloroquina, ivermectina e anitta, entre outras coisas, vitamina D, azitromicina. Hoje os médicos sabem disso, se o teu médico fala que não, você tem o direito de procurar outro médico”.

11 de fevereiro de 2021

Durante a live, Bolsonaro anunciou que Israel está desenvolvendo um medicamento para “curar” a covid-19. Ele ainda comentou sobre a possibilidade de importar o medicamento experimental para ajudar na recuperação de pacientes de covid-19 hospitalizados.

“Está em estado grave? Toma, poxa, vai esperar ser intubado?”, questionou o presidente. “Lá [em Israel] está sendo desenvolvido, em fase final, um remédio para curar [sic] a covid-19. Quando falei remédio lá atrás, levei pancada, entraram na pilha da vacina. O cara que entra na pilha só da vacina é um idiota útil, porque devemos ter várias opções. Para quem está contaminado, não adianta vacina”, disse.

Na mesma live, Bolsonaro também fez uma falsa equivalência ao comparar a ausência de evidências mais robustas sobre a eficácia do medicamento de Israel com o fato de as vacinas contra a covid-19 não terem registro definitivo na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Ao contrário do spray testado em Israel, os imunizantes hoje utilizados no Brasil e no mundo têm eficácia, qualidade e segurança atestados por estudos clínicos.

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Altamiro Borges* é jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e membro do Comitê Central do PCdoB.

 

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