Na sexta-feira (26), o Ministério Público do Paraná notificou a Assembleia de Deus Vitória em Cristo de Curitiba um dia após o “pastor” Silas Malafaia promover um culto na cidade. No pedido, o promotor Marcelo Maggio pediu explicações à igreja sobre a aglomeração de pessoas no evento religioso.

Por Altamiro Borges*

Irritado, o pastor bolsonarista – carinhosamente apelidado de “Silas Malacheia” – exibiu a notificação nas redes sociais e atacou a decisão do MPF, dizendo-se perseguido. Ele alegou que o local tem 3,4 mil lugares, mas que “apenas” 1,2 mil participaram do culto, seguindo todas as normas sanitárias baixadas pela prefeitura.

“Avalanche de Covid” em Curitiba

Como registra Ivan Longo, na revista Fórum, “a celebração foi conduzida pelo próprio Malafaia e por sua filha, Rachel Malafaia. Ela ocorreu no mesmo dia em que a secretária de Saúde da capital paranaense, Márcia Huçulak, alertou sobre a superlotação dos hospitais e sobre a ‘avalanche de Covid’ na cidade”.

“Tem sido uma avalanche de casos de Covid-19 nas UPAs [Unidades de Pronto Atendimento] e com quadros graves. Quando a sociedade se movimenta, aumenta o número de casos, o que demanda mais internação para doença. A gente precisa que a sociedade circule menos”, implorou a secretária de Saúde.

Apesar do alerta, o “pastor” insistiu em realizar o seu culto, colocando em risco a vida da população curitibana. “Imagens feitas pelo fotógrafo Eduardo Matysiak e obtidas pela Fórum mostram centenas de pessoas que participavam da celebração de máscara, mas sem distanciamento”.

A “semente de feijão” de Valdemiro Santiago

Na notificação, o promotor Marcelo Maggio deu um prazo de até 3 dias para informações sobre o responsável pela realização do culto e se houve autorização da prefeitura. O pedido se justifica, já que algumas seitas religiosas, com seu negacionismo, adoram desafiar os poderes públicos.

Um dia antes, na quinta-feira (25), a fiscalização interrompeu um culto neopentecostal da Igreja Mundial do Poder de Deus que reuniu cerca de 2 mil pessoas também em Curitiba. Essa seita é comandada pelo “apóstolo” Valdemiro Santiago, o charlatão que vende “sementes de feijão que curam a Covid-19”.

Ibaneis Rocha e o voto evangélico no DF

Infelizmente, nem sempre os poderes públicos coíbem essas seitas e seus charlatões. A exemplo do “capetão” Bolsonaro, muitos governantes desejam “fidelizar” o voto evangélico. Na sexta-feira (26), o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), decretou lockdown fixando apenas o funcionamento de serviços essenciais, mas manteve a possibilidade da realização de cultos.

O decreto foi baixado logo após a ocupação nos leitos de UTIs (Unidades de Tratamento Intensivo) alcançar 98%. Num primeiro momento, o governador vacilão havia decretado apenas o lockdown noturno. Mas diante do agravamento da crise sanitária, ele decidiu ampliar as medidas de isolamento social.

Mesmo assim, o camaleônico Ibaneis Rocha – com o seu senso da oportunidade, para não dizer seu oportunismo – decidiu excluir da medida de prevenção, em defesa da vida, os “cultos, missas e rituais de qualquer credo ou religião”. Até parece que o poder das denominações religiosas é “sagrado”.

__

Altamiro Borges* é jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e membro do Comitê Central do PCdoB.

As opiniões aqui expostas não refletem necessariamente a opinião do Portal PCdoB