Altamiro Borges: Após censurar Luis Nassif, Globo é censurada
Num país em naturalizado processo de fascistização, a censura já não poupa ninguém. Na semana passada, o juizeco Leonardo Grandmasson Chaves, da 32ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, censurou o Jornal GGN, editado pelo renomado jornalista Luis Nassif, exigindo a retirada imediata do ar de reportagens sobre movimentações financeiras suspeitas do banco BTG Pactual.
Por Altamiro Borges (*)
A mídia monopolista, com raras exceções, censurou a censura. Quase nada falou sobre a sentença arbitrária. O absurdo sequer mereceu destaque no Jornal Nacional. Agora, porém, a censura atinge a própria TV Globo, que está proibida de dar qualquer notícia sobre o processo contra o senador Flávio “Rachadinha” Bolsonaro.
A sentença favorável ao filhote 01 do presidente foi concedida também numa instância do Judiciário do Rio de Janeiro. A juíza Cristina Serra Feijó, da 33ª Vara Cível, proibiu em caráter liminar a exibição de qualquer documento ou peça do processo sigiloso referente à investigação das “rachadinhas” na emissora global.
“Não tenho nada a esconder”, afirma o cínico
Antes se borrando de medo das denúncias, o senador festejou a decisão em suas redes sociais. “Acabo de ganhar liminar impedindo a #globolixo de publicar qualquer documento do meu procedimento sigiloso. Não tenho nada a esconder e expliquei tudo nos autos, mas as narrativas que parte da imprensa inventa para desgastar minha imagem e a do presidente Jair Bolsonaro são criminosas”.
O cinismo do filhote menos valentão do “capetão” é evidente. “Não tenho nada a esconder”, bravateia após ingressar com ação na Justiça e conseguir liminar para suspender as reportagens da TV Globo. Acostumado a destilar ódio contra adversários e exigir fuzilamentos sumários, o caradura clama por justiça. “Querer atribuir a mim conduta ilícita, sem o devido processo legal, configura ofensa passível, inclusive, de reparação”.
A censura ao império global foi imediatamente repudiada por entidades do setor. Em nota, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) afirmou que a decisão da juíza Cristina Serra Feijó atenta “contra a liberdade de imprensa, cerceia o direito da sociedade de ser livremente informada”.
Já o presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Marcelo Träsel, foi enfático: A decisão da 33ª Vara Cível do TJRJ dificulta a cobertura jornalística das graves denúncias contra o senador Flávio Bolsonaro, violando a liberdade de imprensa e o direito à informação”.
GGN denuncia o banco BTG Pactual
A censura teve grande e merecida repercussão porque atingiu a TV Globo. Já a ação fascista contra o GGN foi ofuscada pela própria mídia monopolista. A decisão do juizeco Leonardo Grandmasson Ferreira Chaves, da 32ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, não teve maior impacto – principalmente nas emissoras de televisão.
Na sentença arbitrária, o juiz exigiu a retirada imediata do ar de reportagens que tratam das movimentações suspeitas do banco BTG Pactual. Portando-se como advogado dos banqueiros, ele afirmou que as matérias são “levianas” e fariam parte de “uma campanha orquestrada para difamar” o banco. O juiz ainda estipulou a multa de R$ 10 mil por dia no caso do Jornal GGN desrespeitar a sua infundada e truculenta decisão.
A censura imposta ao veículo liderado por Luis Nassif, um dos maiores especialistas em economia e negócios no país, deve ter agradado ao ministro Paulo Guedes. O famoso rentista foi um dos criadores do BTG Pontual e esteve na direção da instituição financeira de 1983 a 1998. Entre outras denúncias, as reportagens do GGN revelaram a compra recente de uma carteira de crédito do Banco do Brasil estimada em R$ 2,9 bilhões por apenas R$ 371 milhões pela Enforce – empresa controlada pelo BTG.
Como protestou em sua conta no Twitter o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, “questionar a venda de créditos avaliados em 3 bilhões por 371 milhões é absolutamente legítimo, para não dizer obrigatório. Os brasileiros têm direito a uma explicação e os jornalistas que suscitaram a questão, Luís Nassif e Patricia Faermann, merecem apoio, jamais censura”.
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(*) Altamiro Borges é jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e membro do Comitê Central do PCdoB.