Altair Freitas: Foice e Martelo, um símbolo atualíssimo
O que era a representação da unidade operário-camponesa ganhou outra dimensão ao longo do tempo: significa a luta histórica do proletariado organizado para eliminar o capitalismo e construir o Socialismo.
Por Altair Freitas*
O argumento de que a Foice e o Martelo é um símbolo ultrapassado porque expressa a unidade operário-camponesa (conforme definiu Lênin ao criar o símbolo e adotando o nome “Partido Comunista”, extraído do Manifesto de 1848 produzido por Marx e Engels) é pífio.
Se na origem era isso – servia para expressar a revolução socialista na Rússia, a aliança das duas classes fundamentais da sociedade russa da época –, o símbolo ganhou outra dimensão ao longo do século 20 e de lá para cá: significa a luta histórica do proletariado organizado para eliminar o capitalismo e construir o Socialismo, visando ao comunismo. Não se trata apenas de representar segmentos específicos da massa trabalhadora, mas, sim, a necessidade de mudar o mundo.
Símbolos são fundamentais porque possibilitam identificação imediata com causas, definem campos, ajudam a entender melhor o que esse ou aquele movimento propõem. Ajudam a delinear as personalidades de quem os ostentam. E, sim, sem dúvidas: servem também para assustar inimigos porque explicitam objetivos, delimitam campos.
Ninguém se engana quando vê uma Cruz (mesmo com a enorme variedade de “igrejas”) ou quando vê a Lua e o Crescente, o grande ícone da fé islâmica, que começou árabe, mas se expandiu para muito além da sua região de origem. Cristãos e muçulmanos não consideram seus símbolos ultrapassados. A Cruz cristã tornou-se sua marca de identificação por volta do final do século 2, logo, há mil e novecentos anos. O símbolo muçulmano remonta ao século 11, quando a Lua e o Crescente representavam o Império Otomano. Isso, apenas para pegar dois exemplos simples de entender.
Ora, se a Foice e o Martelo expressam a luta pelo fim do capitalismo e a construção de uma nova sociedade, segue atualíssimo tendo em vistas as necessidades históricas e o próprio curtíssimo espaço de tempo de vida do movimento comunista. O que são cem anos para a história? Símbolo superado? Como assim? Ah, mas o símbolo assusta pelos erros do movimento comunista! Olhem para os erros de cristãos e muçulmanos e, de novo, perguntem a eles se seus símbolos são ultrapassados.
Por fim, a quem acha que a modernidade tecnológica seria um bom motivo para mudar o símbolo, sugiro olhar para a China e seu vigoroso Partido Comunista. Tem alguma coisa mais tecnológica do que a economia chinesa hoje? Tem alguma nação que investe mais do que a China em inovações no mundo do trabalho? Não. Agora, perguntem aos comunistas chineses se eles acham que seu símbolo está superado.