Deputado Arthur do Val (Podemos)

O Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo recebe nesta segunda-feira (7) as representações que pedem a cassação do deputado Arthur do Val (Podemos). Dez representações foram protocoladas contra o deputado desde sexta-feira (4), a maioria pedindo a perda do mandato.

Um deles foi assinado por 17 parlamentares da Assembleia e entregue nesta segunda-feira (7).

O conteúdo dos áudios gravados por Arthur do Val, conhecido como “Mamãe Falei”, e vazados na última sexta-feira (4), ganharam grande repercussão negativa na mídia e nas redes sociais. Nas mensagens gravadas durante a viagem à Ucrânia, o deputado afirmou que as mulheres ucranianas “são fáceis porque são pobres”.

A presidente do Conselho de Ética da Alesp, deputada Maria Lúcia Amary (PSDB) diz que espera que a tramitação seja célere, com a conclusão dentro de dois meses no órgão. A partir disso, o caso segue para o plenário da Assembleia, onde precisará do voto da maioria dos deputados para que o deputado perca o mandato.

O presidente da Alesp, Carlão Pignatari (PSDB), afirma que o caso será levado para o plenário “tão logo seja concluída” a decisão do Conselho de Ética.

A deputada Isa Penna (PSOL), autora de uma das representações contra o deputado também avalia que o processo vai ser rápido. “Existe muita pressão dentro da Assembleia [por causa das falas sexistas deputado].”

O Partido Podemos repudiou as declarações do deputado recém filiado e defendeu a punição de Mamãe Falei. Segundo integrantes da legenda ele pedirá a desfiliação ainda nesta segunda-feira.

Falas repugnantes

Com a repercussão, representantes de movimentos de mulheres, sociólogas e juristas confrontaram e reprovaram o comportamento do parlamentar.

A diretora da Federação das Mulheres Paulistas (FMP), Karina Sampaio,

afirmou que as falas do deputado além de machistas, são repugnantes e inaceitáveis. A entidade exige que seu mandato na Alesp seja cassado.

“A Federação das Mulheres Paulistas repudia rigorosamente o conteúdo dos áudios atrelados ao deputado estadual Arthur do Val, gravado durante sua demagógica viagem à Ucrânia.  Em um dos áudios, o deputado afirma: ‘Elas são fáceis, porque são pobres…’, além de outras passagens em que faz outras afirmações afrontosas e até mesmo escatológicas, demonstrando seu total desrespeito não apenas às mulheres ucranianas, mas a todas às mulheres”, disse.

“Consideramos as falas do deputado, além de machistas, repugnantes e absolutamente inaceitáveis! Assim, exigimos que a Assembleia Legislativa de São Paulo inicie imediatamente o processo de cassação de seu mandato!”, concluiu.

Para a presidente nacional da União Brasileira de Mulheres (UBM), Vanja Andréa Santos, o sentimento a respeito da “opinião” do deputado estadual é de indignação. Em entrevista ao portal Cenarium, Varja reforçou que em condições normais já seria um absurdo esse tipo de pensamento e fica ainda mais grave quando é sobre mulheres em situação de vulnerabilidade, como é o caso das que estão vivendo a guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

“Um desprezo pela condição humana do ser mulher, do estar sofrendo situações de estado de guerra, por estarem vulnerabilizadas. A pobreza, sob a ótica desse deputado, parece ser uma condição permissiva para qualquer ação desprezível em relação às mulheres. Entendemos que essa afirmação machista e desumana é um ataque não apenas às ucranianas, mas a todas nós, mulheres. A melhor resposta para esse crime pode ser dada pela Alesp [Assembleia Legislativa de São Paulo], a cassação imediata do seu mandato”, enfatiza ela.

A advogada e conselheira federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e coordenadora da Região Norte da Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica (ABMCJ), Maria Gláucia Barbosa Soares, lembrou que não são poucos os episódios que atingem as mulheres em estado de vulnerabilidade e atentam contra seus direitos humanos.

Ela analisa ainda que há um movimento mundial forte para romper com a cultura secular do patriarcado, com ideias arraigadas nas sociedades que impiedosamente objetificam as mulheres e são frutos de uma mentalidade ultrapassada, que impacta de modo cruel na sua dignidade e direitos humanos. “A sociedade reage a esses fatos e repercute, isso é propositivo, um avanço coletivo nas pautas de defesa dos direitos femininos”, esclarece.