Agrotóxico da Bayer- Monsanto destruiu plantações de soja nos EUA.

A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) protocolaram um ofício no Ministério da Agricultura na última sexta-feira (30), onde manifestam “preocupação com o futuro de toda a agricultura brasileira”, devido à liberação do agrotóxico Dicamba, em 22 de agosto.
A política inconsequente do governo de Jair Bolsonaro (PSL) tem liberado o uso de agrotóxico no país de forma desenfreada e já começa a incomodar o próprio agronegócio. Nos primeiros seis meses do ano, foram liberados para comercialização 262 novos venenos. Mas, segundo a ministra da Agricultura de Bolsonaro, Tereza Cristina, a liberação de novos agrotóxicos não coloca em risco a saúde dos consumidores nem o meio ambiente.
De acordo com os produtores, apenas uma variedade de soja geneticamente modificada é tolerante ao dicamba. Todas as demais seriam negativamente afetadas pelo produto, que, segundo o documento enviado ao Ministério, é altamente volátil (evapora e se espalha) em temperaturas acima de 29 graus. Além da soja, o dicamba mataria também lavouras de algodão, batata, café, cítricos, feijão, leguminosas, tomate, uva e milho, entre outras.
De acordo com a Associação Brasileira dos Defensivos Genéticos (Aenda), apenas três grandes companhias multinacionais produzem herbicidas à base de dicamba, entre elas a Bayer-Monsanto.
O curioso é que a mesma Bayer-Monsanto detém a tecnologia para produção de sementes resistentes ao dicamba – chamada de Intacta 2 Xtend – e está programando seu lançamento comercial no Brasil para 2021.
A semente já foi “apresentada” a produtores Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia num grande evento denominado Gigantes da Soja, realizado entre o fim de 2018 e começo de 2019.
Operação casada
No ofício enviado ao ministério, a CNA e a Aprosoja lembram que, nos EUA, onde o dicamba foi liberado em 2016, quase 4 milhões de hectares de soja foram danificados, o que gerou 2.700 processos judiciais. Com isso, vários estados norte-americanos teriam estabelecidos restrições ao uso do herbicida.
Os produtores lembram ainda que a volatização do produto seria ainda maior no Brasil, devido ao clima tropical do país.
Em entrevista ao Canal Rural no último dia 23, o presidente da Aprosoja, Bartolomeu Braz, criticou a liberação.
“Não podemos aceitar esse domínio de mercado. O Brasil já evoluiu bastante, temos um clima tropical e ao que parece não temos a necessidade de usar esse produto. Nosso manejo é diferente dos americanos e precisa ser pensado de maneira diferente”.
O documento das entidades representativas do agronegócio não chega a exigir a proibição do dicamba, mas pede o estabelecimento de medidas de controle, a elaboração de mais pesquisas, tendo em vista as características do clima brasileiro, e a “responsabilização da empresa detentora da biotecnologia”, em casos de danos às lavouras.
“Não temos interesse em sementes tolerantes ao dicamba”, diz Aprosoja
O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Bartolomeu Braz, afirma que o agricultor não precisa da tecnologia de sementes tolerantes ao dicamba e que a entidade não tem interesse nela. Ele defende que, além de ser de difícil manejo, esses insumos podem colocar em risco lavouras não resistentes.
Braz participou da comitiva do setor produtivo que levou à ministra da Agricultura, Tereza Cristina, preocupações sobre o uso do dicamba no Brasil. A Aprosoja esteve nos Estados Unidos, onde o produto é usado, e registrou problemas.
Segundo o presidente da Aprosoja, Tereza Cristina deu abertura para que os sojicultores estudem se há condições da tecnologia ser aplicada. “Somos a favor de tecnologia, mas que venham a trazer rentabilidade. Não podemos onerar a nossa produção com produtos que não são interessantes”, salienta.