Agenda de Lula ao exterior evidencia desejo de vários países em se reaproximarem do Brasil
A Secretária Nacional de Relações Internacionais do PCdoB, Ana Maria Prestes avaliou, em entrevista ao Portal PCdoB nesta semana, como foram as viagens do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à países sul-americanos, Europa e também aos Estados Unidos e China, já nos primeiros meses de seu terceiro mandato.
Para Ana, é fundamental que o presidente se dedique à política internacional para estreitar relações para o desenvolvimento do nosso país e todas essas agendas internacionais evidenciam “o prestígio do presidente Lula e o desejo dos governos de vários países em restabelecer suas relações com o Brasil”, sintetiza Ana Prestes.
O presidente brasileiro volta à Europa nesta sexta-feira (5), como convidado para a coroação de Rei Charles III. Ao desembarcar em Londres nesta manhã, Lula se encontrou com o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak.
Na entrevista, Ana Prestes que é doutora em Ciência Política (UFMG) e doutoranda em História (UnB), também abordou sobre a participação do Brasil no Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) como estratégia para o desenvolvimento econômico e social do nosso país.
A secretária fez ainda considerações sobre o conflito na Ucrânia. “Trata-se de uma guerra por procuração entre EUA e OTAN contra a Rússia e infelizmente a Ucrânia se tornou palco material deste conflito”, pondera.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista com a dirigente do PCdoB:
Balanço das viagens internacionais do presidente Lula
Ana Prestes: O presidente Lula fez uma excelente agenda de viagens internacionais neste início do seu terceiro mandato na presidência do Brasil. A América do Sul é nossa casa e é dela que partimos para nos relacionar com o mundo, portanto, mesmo que não houvesse a reunião da CELAC em janeiro na Argentina, acredito que os países do cone sul seriam privilegiados no início das viagens de Lula por nossa relação histórica com esses países.
Foi muito importante iniciar as agendas pela Argentina e o Uruguai. Muito se especulou se Lula iria primeiro aos EUA ou à China, algo que faz sentido por serem dois países estratégicos nas relações internacionais do Brasil.
Com os EUA temos a mais longa relação diplomática, ano que vem, 2024, completaremos 200 anos de relação. Com a China temos a maior parceria comercial e também uma importante relação entre dois grandes países do sul global em desenvolvimento. O governo Biden fez bastante gestão e pressão para que Lula eleito presidente pisasse primeiro em solo norte-americano.
Lula cumpriu muito bem a missão de reabrir as relações do governo brasileiro com o estadunidense e marcar uma virada de página após ataques antidemocráticos que ambos países sofreram a partir dos recentes governos Trump e Bolsonaro. Em termos de acordos e aprofundamento da cooperação, a agenda bilateral com os EUA ainda deixa a desejar, principalmente por uma certa retranca dos norte-americanos especialmente desconfiados da posição brasileira com relação à guerra na Ucrânia.
A agenda da ida do presidente Lula e sua comitiva à China foi muito mais robusta e consistente do ponto de vista do estabelecimento de acordos e aprofundamento da cooperação, com grandes e promissores avanços para o Brasil. Um destaque merecido para a posse de Dilma Rousseff na presidência do BRICS durante a visita de Lula, marcando a parceria estratégica do Brasil com os mais importantes países em desenvolvimento e a forte confiança chinesa nas lideranças brasileiras.
Para fechar esse primeiro período de agendas internacionais, o presidente se dedicou à Europa, com uma visita à Portugal, durante as comemorações do aniversário da Revolução dos Cravos, à Espanha e ao Reino Unido, onde acompanhará a coroação de Charles III e fará reunião com o primeiro ministro Rishi Sunak. Em todas essas agendas, fica muito evidente o prestígio do presidente Lula e o desejo dos governos de vários países em restabelecer suas relações com o Brasil. Aquilo que falávamos de que o Brasil voltaria a ser protagonista nas relações internacionais com Lula está se concretizando a olhos vistos.
Participação do Brasil no Brics
Ana Prestes: O BRICS é o futuro. Não à toa, o bloco tem na mesa a solicitação de ingresso de 19 países. É a possibilidade de pensar em conjunto com os países do sul global novas estratégias de financiamento e cooperação para o desenvolvimento sustentável sem a tutela dos países centrais do capitalismo.
É a possibilidade de se blindar das práticas de sanções e boicotes de quem tem o controle dos fluxos financeiros globais e faz esse jogo com base no predomínio do dólar, por exemplo. Por isso tem se falado tanto na substituição do dólar no comércio entre os países, além de novos mecanismos para circulação de remessas financeiras que substituam o código swift, por exemplo.
Por tudo isso e muito mais que está na agenda do BRICS é que o Brasil de Lula deve ser bastante atuante no bloco no próximo período. A presidência de Dilma Rousseff no Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS reforça ainda mais essa estratégia. Muitos países que são reféns das imposições de instrumentos como o FMI e o Banco Mundial, poderão ter um outro tratamento e alternativas concretas na busca de soluções para seus desafios internos inerentes ao desenvolvimento econômico e social.
Participação do PCdoB em Pequim, na China no Simpósio para professores e estudantes da Universidade do Povo Chinês (Remin University).
Foi com muita honra que recebemos o convite do Partido Comunista da China para participar de uma delegação de quadros de partidos comunistas de 20 países em visita ao país para uma série de atividades. Entre elas, houve um Simpósio com professores e estudantes da Universidade de Renmin (povo) sobre o caminho chinês para a modernização e o desenvolvimento comum.
Na oportunidade fiz uma apresentação em que pontuei que o povo chinês está mostrando ao mundo como se desenvolver na perspectiva do socialismo com suas características nacionais próprias e com foco na eliminação da fome, da pobreza, da desigualdade, do privilégio de poucos sobre muitos.
A China vem promovendo um progresso material, político, ético, cultural, social e ambiental para seu povo, após décadas de enfrentamento de dilemas econômicos e sociais profundos. E nós, aqui no Brasil, estamos em posição bastante diferente, com desindustrialização, desemprego, insegurança econômica, social e alimentar.
Acabamos de passar por um governo destruidor e fascista. E, neste sentido, é muito importante estar em contato com o povo, o partido e o governo chinês, para aprofundar a cooperação, a parceria estratégica, os intercâmbios e ajuda mútua na busca da emancipação de nossos povos.
Guerra na Ucrânia e o papel do Brasil
A guerra da Ucrânia é fruto da expansão da OTAN rumo às fronteiras russas. Uma deliberada ameaça à segurança nacional russa e uma ingerência do ocidente nas relações entre os países do leste europeu. Trata-se de uma guerra por procuração entre EUA e OTAN contra a Rússia e infelizmente a Ucrânia se tornou palco material deste conflito que começou há uma década e teve sua fase mais aguda e bélica iniciada em fevereiro de 2022 com a entrada das tropas russas em território ucraniano. São dois povos irmãos, que um dia foram um só povo, se aniquilando por uma instrumentalização do ocidente das diferenças e contradições entre os dois países herdadas com o fim da União Soviética.
Neste sentido, o governo brasileiro tem feito bem o seu papel de representar um país que está preocupado com a pacificação destas relações e que se coloca à disposição como possível, provável e potencial mediador das urgentes e necessárias conversas e negociações que coloquem um fim ao uso da força militar para equacionar a situação belicosa.