Em 2021, “bicos”, trabalho doméstico e sem carteira assinada representaram 74% do aumento da ocupação no país, apontou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), com base em dados recentes da Pnad Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“O lado bom é que a ocupação está subindo e a desocupação diminuindo. Do lado negativo, continuamos com uma taxa de desemprego de dois dígitos, elevadíssima subocupação por insuficiência de horas trabalhadas, informalidade em níveis recordes, rendimentos em nítido retrocesso e massa salarial encolhendo”, destacou a entidade no texto “Pouco emprego, pouca renda”.

No trimestre móvel de setembro a novembro de 2021, a população ocupada (94,9 milhões de pessoas) subiu 9,7%, na comparação com o mesmo trimestre de 2020, segundo o IBGE. Na avaliação do IEDI, o aumento da ocupação em relação a um ano atrás “refere-se basicamente a postos informais de trabalho, cujo rendimento tende a ser menor e mais irregular, especialmente frente ao peso do conta própria, que se refere aos chamados “bicos””.

“Só este tipo de ocupação referente aos “bicos” responde por quase 40% da melhora do emprego entre o final do ano passado e o final de 2020. Somados, bicos, trabalho doméstico e sem carteira representaram 74% do aumento da ocupação total. Não seria um aspecto tão preocupante se este movimento fosse apenas uma etapa inicial da retomada do emprego, mas não é o que parece dadas as expectativas de estagnação econômica para 2022 (+0,3% para o PIB segundo o Boletim Focus e o FMI)”, apontou o IEDI em sua análise.

Evolução do emprego no trimestre móvel de setembro a novembro de 2021 frente ao mesmo período de 2020:

• Ocupação total: +8,36 milhões de ocupados ou +9,7%;

• Com carteira assinada: +2,64 milhões ou +4,0%;

• Sem carteira assinada: +1,91 milhão ou +7,4%;

• Conta própria: +3,23 milhões ou +2,3%;

• Trabalho doméstico: +1,03 milhão ou +6,0%;

• Empregador: +10 mil ou +3,4%.

População segue empobrecendo

O IEDI também destacou que “uma das consequências deste perfil do crescimento da ocupação, que tem feito a taxa de informalidade subir, de 38,7% em set-nov/20 para 40,6% em set-nov/21, tem sido a continuidade do declínio do rendimento e isso sem nem mesmo considerar as perdas provocadas pela inflação”. Em comparação com 2020, o rendimento nominal habitualmente recebido recuou -2,0% na passagem de setembro a novembro de 2021.

“Se considerada a evolução real, isto é, corrigida pela inflação no período, a queda chegou a -11,4%. São sinais de que, a despeito da melhora do emprego, a população segue empobrecendo”, alertou o instituto, que concluiu o documento afirmando que “como resultado, a massa de rendimentos reais voltou a encolher: -2,6% ante set-nov/20, estreitando os mercados consumidores, já que a massa de rendimentos é a base dos gastos correntes das famílias. Neste processo, desestimula o crescimento econômico e compromete a continuidade da melhora do quadro do emprego em um círculo vicioso que o país precisa superar o mais rapidamente”.