Em outro depoimento que resgata a história do PCdoB contada a partir daqueles que a viveram e a escreveram, a dirigente mineira Gilse Maria Westin Cosenza (1943-2017) conta sua vida militante desde suas primeiras tomadas de consciência sobre o patriarcado e as injustiças sociais, o grêmio da escola, a Juventude Estudantil Católica (JEC), até a Ação Popular (AP) e o PC do Brasil. A publicação do vídeo – produzido pelo Centro de Documentação e Memória da Fundação Maurício Grabois – faz parte das comemorações do Centenário do PCdoB.

No depoimento, Gilse narra como foi o dia do golpe de 1964 em Belo Horizonte e as dificuldades da resistência naquele momento. Sua experiência em Minas Gerais, São Paulo e Ceará forjaram uma militante madura que analisa de forma profunda sua vida política e de seu Partido.

Em mais de duas horas e meia de entrevista, ela destrincha as dificuldades do movimento estudantil pós-golpe, a integração à produção e sua convivência com trabalhadores rurais – afirma e reafirma a importância de estar perto do povo –, suas fugas e sagacidade para sobreviver à vida clandestina; sua participação na incorporação dos militantes da AP ao PCdoB.

A prisão e resistência à repressão na cadeia são um ponto marcante da entrevista. Sua fibra diante daquelas dificuldades se soma à narração, sob uma abordagem de gênero, na condição de presa política e mulher. Ela conta também a convivência com Pedro Pomar e João Batista Franco Drummond. Isso agravou o impacto da Chacina da Lapa, em dezembro de 1976. Sua ida para o Ceará, depois da queda das duas estruturas partidárias, fez com que se recomeçasse o trabalho de construção partidária. Só não foi um reinício do zero, pois havia, entre outros, Benedito Bizerril segurando alguns contatos que a repressão não pode localizar.

Com os estertores da ditadura, Gilse – com uma aguerrida militância comunista no Ceará, entre eles Carlos Augusto Diógenes (Patinhas), Abel Rodrigues, Inácio Arruda, Chico Lopes, Benedito Bizerril, Lula Morais e tantos outros – reconstruiu as estruturas de direção, a vigorosa participação do PCdoB nos movimentos estudantil, comunitário e sindical. Protagonizou também a campanha da legalidade do PCdoB, em 1984-85.

Em que pese o conteúdo da entrevista verse até a primeira metade dos anos 1980, Gilse teve uma continuada e rica vida militante. Foi candidata a deputada federal pelo PCdoB em 1990 e, sem recursos, recebeu um surpreendente apoio da população. Foi presidente da União Brasileira de Mulheres (UBM) e teve a pauta das questões da emancipação da mulher como uma nota constante em suas palestras e na leitura do mundo.

A entrevista foi feita nos marcos do Projeto Marcas da Memória, em 22 de outubro de 2012, pelos historiadores Fernando Garcia de Faria e Felipe Spadari da Silva, na casa da entrevistada, em Belo Horizonte (MG). Com roteiro de Fernando Garcia de Faria e Augusto Buonicore;  Felipe Spadari da Silva na filmagem e  edição de Alessandra Stropp.

Assista:

Por Priscila Lobregatte

Com informações CDM/Fundação Maurício Grabois