O número de brasileiros que trabalham menos horas do que precisam mostra a fragilidade do emprego no país, segundo análise dos pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV). São 7,4 milhões de pessoas nessa condição, um crescimento de cerca de 8,7% entre o segundo trimestre de 2020 e o segundo trimestre de 2021, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad-Contínua) do IBGE.

A herança da pandemia e do governo Bolsonaro para o emprego é uma redução sem precedentes da força de trabalho, que atingiu principalmente os trabalhadores informais e menos escolarizados.

O estudo dos pesquisadores do Ibre Paulo Peruchetti e Janaína Feijó aponta como antecedente da situação atual do emprego no país o recorde na taxa de desocupação atingido em 2020, de 13,8%. Ao longo de 2021, a taxa caiu para 11,1% no quarto trimestre do ano passado. “Contudo, muitas dúvidas ainda permanecem quanto a qualidade da recuperação do emprego e sobre o enfretamento de velhos problemas que foram intensificados durante a pandemia da covid-19”, afirmam os pesquisadores. Eles destacam que a retomada dos indicadores de emprego, expressa na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad-Contínua), é pautada na informalidade e no aumento substancial da subocupação por insuficiência de horas.

“Observamos, por exemplo, que parte relevante dessa recuperação se deve à expansão do número de trabalhadores informais, que tendem a ser menos escolarizados e estão em funções que remuneram mal. Nesse sentido, um problema que já existia antes da pandemia, tem se acentuado no pós-pandemia, revelando a persistente fragilidade com a qual o mercado de trabalho tem se deparado ao longo dos últimos anos”.

A fragilidade apontada no estudo se deve também à surpreendente elevação no número de pessoas subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas.

“Após a fase mais aguda da pandemia, o nível de emprego começou a se recuperar e com ele, os subocupados por insuficiência de horas voltaram a crescer. Podemos notar que entre o segundo trimestre de 2020 e segundo trimestre de 2021 esse grupo cresceu cerca de 8,7%. Embora no 4º tri de 2021 tenha ocorrido uma desaceleração em relação aos trimestres anteriores, o nível ainda permanece muito elevado (7,4 milhões de pessoas, em tono de 7,7% do total de empregados no Brasil), inclusive quando comparado com o reportado no 4º tri de 2019”, ponderam Peruchetti e Feijó.

“A preocupação com este fenômeno reside no fato dos trabalhadores subocupados por insuficiência de horas estarem, em sua maioria, em empregos informais (cerca de 84% deste grupo encontra-se nesta situação no último trimestre do ano passado), e que pagam menores salários. Em particular, no quarto trimestre de 2021 o rendimento médio habitual destes trabalhadores foi de R$ 965, quase 62% menor que o dos demais trabalhadores que não estão enquadrados nessa situação (R$ 2.570)”, afirmam os pesquisadores, adicionando que o cenário é extremamente preocupante porque reforça a precarização da mão-de-obra.

Baseado nos dados do quarto trimestre de 2021, o estudo destaca que, regionalmente, há uma concentração de subocupados no Sudeste (37,8%), região mais rica do país, e no Nordeste (38%), a mais pobre. Em relação a escolaridade, nota-se que a maior parte dos subocupados são os que tem nível de escolaridade mais baixo.

Por área de ocupação, o setor de serviços é que o mais concentra subocupados, retendo 73,1% dos trabalhadores. Enquanto isso, a agropecuária concentrou neste período cerca de 11,5% e a indústria, 15,4%.

“As mulheres compõem a maior parte dos subocupados por insuficiência de horas trabalhadas, representando 54,9% do total de pessoas nessa situação enquanto a participação dos homens foi de 45,1%. Ou seja, cerca de 4 milhões de mulheres gostariam de trabalhar mais horas do que de fato trabalharam no quarto trimestre de 2021”, diz o estudo a respeito da composição por gênero. Por raça, são os pretos e pardos que compõem a maior parcela, sendo 64% das pessoas que trabalham menos do que 40 horas ao final de 2021.

Na última pesquisa divulgada pelo IBGE, em 18 de março, o desemprego no Brasil no trimestre móvel de novembro de 2021 a janeiro de 2022 atingiu 12 milhões de pessoas (a taxa de desocupação ficou em 11,2%). A taxa de informalidade foi de 40,4% da população ocupada, ou 38,5 milhões de trabalhadores informais.

A fragilidade do emprego, apontado pelos pesquisadores, é ainda mais dramática quando as famílias se encontram diante de uma carestia que não dá trégua, com os preços dos alimentos e dos monitorados pelo governo, e com aval do governo, subindo a cada dia, como o gás de cozinha, a energia elétrica, a gasolina, corroendo o já minguado orçamento das famílias brasileiras.