Segundo a última pesquisa Datafolha, 21% apenas dos estratos  mais pobres da sociedade brasileira ainda aprovam governo Bolsonaro. Entre a maioria de 54% que hoje se posiciona em defesa do impeachment do presidente, 60% estão entre os mais pobres.

Por Luciano Siqueira*

Apesar da máquina de produção intensa de informações distorcidas e fake news movida pelo esquema de proteção de Bolsonaro, que bem sabemos atinge diretamente parcelas da população de menor grau de instrução formal e de consciência política, outros fatores pesam muito mais na formação da opinião.

O trato absolutamente irresponsável e prejudicial à saúde da população praticado pelo governo e sustentado pela cantilena anticientífica do presidente, agora se torna mais evidente perante a população.

Com mais de 550.400 mortes decorrentes da covid-19 e o atraso na aquisição de vacinas e, portanto, a distância que ainda nos encontramos de ultrapassar 50% da população imunizada — condição prévia para que de fato e de maneira continuada a transmissão do vírus se atenue —, o cidadão e a cidadã ditos comuns se fazem cada vez mais sensíveis ao farto noticiário a respeito do tema.

Os selos genocida e corrupto colam com muita força e evidência na camiseta governamental.

Além disso, a combinação desastrosa do desemprego com a inflação (que incide duramente sobre os preços dos alimentos), reduzem enormemente já frágil taxa de esperança da população mais pobre.

A reação do governo não se dá através de políticas públicas que amenizem a situação. Tão somente o ministro Paulo Guedes, da economia, repete promessas nunca confirmadas na prática, reverberadas no discurso capenga do presidente.

Mesmo a ideia de ampliar os valores do programa Bolsa Família até agora não se concretizou em números exatos.

Assim, a extrema direita no poder, liderada pelo ex-capitão, sente o calo apertar justamente uma parcela expressiva da população que, pela mentira e pela demagogia e com ajuda de algumas denominações religiosas mais alienadas, havia capturado eleitoralmente.

Um fator seguramente importante no acúmulo de forças que paulatinamente a ampla (embora ainda relativamente dispersa) frente oposicionista vem logrando dia a dia.

 

*Luciano Siqueira, médico, ex-vice-prefeito do Recife e membro do Comitê Central do PCdoB

 

(PL)