Outros 13% estão no limite do controle, e 24% estão mais próximos de regularizar suas pendências, segundo a companhia de inteligência de dados Quod

Com os juros nas alturas, inflação acima dos dois dígitos e a queda na renda da população, 42% dos devedores do Cadastro Positivo estão superendividados, segundo classificação realizada pela companhia de inteligência de dados Quod – com base nos dados dos 130 milhões de consumidores e empresas inscritos no cadastro de bons pagadores.

Conforme a classificação ainda, 13% estão no limite do controle, e 24% estão mais próximos de regularizar suas pendências. Há ainda os desorganizados (21%), aqueles que entram e saem da inadimplência, com mais despesas em dia do que atrasadas.

Os números do Cadastro Positivo, que contam também com dados sobre crédito bancário e contas de consumo, por exemplo, mostram um aumento de 15% no total de endividados neste início de ano em relação ao mesmo período de 2021, confirmando uma tendência vista em outros indicadores.

Com a alta generalizada dos preços – principalmente dos alimentos – os brasileiros que não veem ganhos reais há anos – estão se endividando com instituições financeiras (cartão de créditos, cheque especial e empréstimos, cujos juros são cobrados a níveis de agiotagem), para se alimentarem e bancarem outras despesas do dia a dia. Segundo dados do Banco Central (BC), o índice de dívidas bancárias mostra que o atraso superior a 90 dias cresce desde julho do ano passado.

Já os dados do Serasa mostram que o total de devedores está próximo do recorde alcançado no início da pandemia: 65 milhões de pessoas. São R$ 265,8 milhões em débitos, ou R$ 4.046 por pessoa, com destaque para o percentual de dívidas no cartão (28%), em contas de consumo (23%) e no varejo (13%).

Por sua vez, a sondagem feita pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da Confederação Nacional do Comércio (CNC) aponta que o percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer alcançou mais um recorde em abril, atingindo 77,7% do total de famílias brasileiras. Essa foi a maior proporção da série histórica da pesquisa, iniciada em janeiro de 2010.

O cartão de crédito segue como o tipo de dívida mais comum entre os consumidores, e é a modalidade do sistema financeiro que cobra os juros mais elevados ao consumidor. “Os orçamentos mais acirrados têm levado mais famílias a atrasarem o pagamento de contas e dívidas e usarem mais o cartão de crédito, que é a modalidade de dívida para o consumo de curto prazo”, assinala a economista da CNC responsável pela pesquisa, Izis Ferreira. O endividamento no cartão de crédito foi o único que apresentou aumento em abril, representando 88,8% das famílias com dívidas.

O governo Bolsonaro segue com sua desatinada política de elevar os juros para conter a inflação que ele mesmo atiça quando eleva os preços dos produtos e serviços que

administra – caso mais latente – os dos combustíveis, que Bolsonaro insiste em manter atrelados aos preços do dólar e do barril internacional do petróleo.

Desde março de 2021, o Banco Central (BC) realizou sete aumentos seguidos na taxa básica de juros (Selic), passando a taxa de 2% para 12,75% ao ano. Nesse período, a inflação em 12 meses no Brasil passou de 6,1% para 12,13%.

Com os sucessivos aumentos nos preços dos combustíveis, em 12 meses até abril, o preço do óleo diesel acumula alta de 53,58%. O da gasolina subiu 31,22%. O etanol chegou a 42,11%. Gás veicular 45,18%. Já a alta acumulada do gás de botijão chegou a 32,34% e do gás encanado em 35,21%.

O choque dos juros altos não resolve o problema da inflação e agrava a crise econômica do país ao afastar os investimentos, aumenta o endividamento, encarece ainda mais o crédito às empresas, particularmente as micro e pequenas empresas, e aos consumidores e, por consequência, derruba o consumo – afetando diretamente os empregos e a renda.