A renda média dos brasileiros mais pobres, nas regiões metropolitanas do país, não passa de R$ 303 por pessoa, por mês. Um quarto do salário-mínimo vigente de R$ 1.212,00. Eles representam 25,2% da população total dessas regiões no primeiro trimestre deste ano. No início do governo Bolsonaro o percentual era de 23,2%.

Em números absolutos, o número de pessoas com rendimentos muito baixos, em situação de vulnerabilidade social nas metrópoles, subiu para 21,1 milhões neste primeiro trimestre no conjunto das metrópoles.

Entre os 40% mais pobres, a renda média domiciliar per capita proveniente do trabalho é de R$ 240,79.

Com a economia estagnada, no primeiro trimestre de 2020, o número aumentou para 23,5% e, durante a pandemia, chegou a 27,9% no primeiro trimestre de 2021. Durante a ano passado houve um pequeno recuo e o número de brasileiros mais pobres representavam 23,6% no quarto trimestre de 2021 da população total das 22 regiões metropolitanas consideradas. No primeiro trimestre deste ano essas pessoas vivendo na miséria voltou a subir, registrando os 25,2%.

Os dados estão na oitava edição do boletim Desigualdade nas Metrópoles. O estudo foi produzido por pesquisadores da PUC-RS, do Observatório das Metrópoles e da Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL), a partir dos dados da PNAD Contínua do IBGE e divulgados pelo G1 nesta quinta-feira (16).

O menor percentual da série, iniciada em 2012, foi no 4º trimestre de 2013, quanto um contingente de 17,2% da população das regiões metropolitanas estava na condição de mais pobres.

A diferença entre o menor percentual e o registrado agora é de oito pontos percentuais, não por coincidência atravessando o período do final de 2014 até o início de 2019, em recessão ou “andando de lado”. Agora em 2022 os 25,2% revelado pelo estudo estão ainda 3,6 pontos percentuais acima do percentual pré-pandemia, mas o ministro Guedes, em campanha aberta para reeleição de Bolsonaro, garante que a economia do país está de “vento em popa”.

O impacto do desemprego de quase 12 milhões, a queda na renda, a inflação descontrolada, o aumento dos juros impedindo investimento e consumo, são cruéis e, além dos números estarrecedores, mais ainda são as imagens nos aglomerados urbanos com o número crescente de famílias morando nas ruas, mal acampados nelas, depois de passar por esses males e o despejo.

Com Bolsonaro, a fome explodiu no país, com 33 milhões de brasileiros sem comida. Em 2018, eram 10 milhões.

O estudo estima em mais 80 milhões de brasileiros a população nas 22 principais regiões metropolitanas do país, o que significa aproximadamente 41% da população brasileira.

Drama social: 1,8 milhões de crianças em vulnerabilidade

Outro dado ainda mais preocupante é que a taxa de crianças em situação de vulnerabilidade social nas metrópoles subiu para 29,2%, voltando a se aproximar do patamar próximo ao registrado no auge da pandemia: 32,2%.

No 1º trimestre de 2022, 1,8 milhões de crianças viviam em lares com rendimentos do trabalho inferiores a ¼ do salário-mínimo per capita. “É um número maior que o da população total de Regiões Metropolitanas como Natal, João Pessoa, Maceió ou Florianópolis”, destaca o relatório.

“As famílias com rendimento domiciliar per capita abaixo de um quarto salário-mínimo tendem a ter um número de crianças maior na composição a composição familiar. É um drama social principalmente por se tratar de crianças de até 5 anos, na medida em que a renda é fundamental para garantir condições de alimentação e desenvolvimento humano e cognitivo. Estamos comprometendo uma geração, com consequências mais adiante no processo de entrada no mercado de trabalho”, assinala Marcelo Ribeiro, coordenador da pesquisa e professor do IPPUR/UFRJ.

Em 12 das 22 regiões metropolitanas do país, o percentual de indivíduos vivendo em lares com rendimento per capita de no máximo R$ 303 ficou acima de 30%. As maiores proporções foram registradas nas regiões de João Pessoa (39,6%), Recife (39,4%) e de Maceió (37,3%), e as menores nas regiões de Goiânia (17,8%), Curitiba (16,8%) e Florianópolis (16,1%).