A falta de emprego no Brasil empurrou milhões de brasileiros para o trabalho por conta própria e para a informalidade. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad Contínua), divulgada na manhã desta terça-feira (31) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de pessoas “se virando como podem” atingiu recorde histórico no trimestre entre abril e junho de 2021, computando 24,8 milhões de trabalhadores. Ante o trimestre anterior, o número de trabalhadores por conta própria cresceu 4,2% – em 1 milhão de pessoas. Sobre o mesmo período do ano passado – quando apenas serviços essenciais podiam funcionar devido à pandemia e havia pagamento do auxílio emergencial – houve salto de 14,7%, ou 3,2 milhões.

O número de trabalhadores por conta própria fez engordar a taxa de informalidade do país, medida pela Pnad: 40,6% da população ocupada exercia no trimestre encerrado em junho atividades sem estabilidade, salário fixo e direitos. Trata-se de uma legião de pessoas recorrendo a bicos e biscates para garantir o sustento próprio e da família.

Um ano antes, a taxa era de 36,9%. O número total de informais foi medido em 35,6 milhões de pessoas.

A pesquisa considera como trabalho informal as atividades sem carteira assinada, pessoas que ajudam parentes, trabalhadores domésticos sem carteira e trabalhadores por conta própria sem CNPJ. Aqui entram ambulantes, vendedores de comida para fora, prestadores de pequenos serviços, motoboys e motoristas de aplicativo.

O aumento do número de pessoas que passaram a exercer atividades por conta ou informal fez a taxa de desemprego medida pela Pnad decrescer virtualmente. Após uma sequência de trimestres batendo recordes, a desocupação entre abril e junho foi medida em 14,1%. Ainda assim, 14,4 milhões de brasileiros estão desempregados.

No trimestre anterior, a taxa era 14,7%, ou 14,8 milhões de desocupados procurando trabalho. De

acordo com o IBGE, 71% das novas ocupações (de um trimestre para o outro) foram de trabalhadores por conta própria.

Embora o número de desempregados tenha caído entre o primeiro e o segundo trimestre deste ano, na comparação com o segundo trimestre de 2020 ele aumentou em 1,7 milhão de pessoas – um crescimento de 12,9% em um ano.

Com a retomada das atividade econômica, após o desastre no enfrentamento da pandemia pelo governo Bolsonaro, com quase 600 mil vidas perdidas, empresas fechadas, desemprego recorde e renda comprimida, é a primeira vez que se registra crescimento anual da ocupação.

Foram quatro trimestres consecutivos com perdas significativas de pessoas ocupadas, destacou Adriana Beringuy, pesquisadora do IBGE, responsável pela pesquisa. Houve um aumento no número da população ocupada, em mais 2,1 milhões no segundo trimestre em relação ao primeiro trimestre deste ano (87,8 milhões de pessoas) e de mais 4,4 milhões de pessoas em relação ao segundo trimestre do ano passado (83,3 milhões).

A pesquisadora ressalta que apesar desse resultado “importante da população ocupada, o total de ocupados na Pnad Contínua se encontra ainda bem inferior ao que era no início da pandemia”.

“Nós tínhamos no final do ano de 2019 cerca de 94,5 milhões de trabalhadores, hoje esse contingente está estimado em 87,8 milhões de pessoas trabalhando. Embora tenha havido uma recuperação no indicador de ocupação, existe ainda um número bem distante do que era o patamar de ocupação no período pré-pandemia”, diz Adriana.

A pesquisadora cita entre os setores que tiveram alguma recuperação, “a agricultura, construção e alojamento e alimentação, que é uma atividade que perdeu vários trabalhadores durante a pandemia e que agora mostra alguma recuperação, como os serviços domésticos, atividades que foram bastantes afetadas durante a pandemia”, destacando que são atividades relacionadas ao trabalho informal.

O nível de ocupação ficou percentualmente em 49,6% – o que significa que menos da metade da população em idade de trabalhar está ocupada no país.

Falta trabalho para 32,2 milhões

Formando o contingente classificado na pesquisa como trabalhadores subutilizados, 32,2 milhões de pessoas estavam desempregadas, subocupadas, fora da força de trabalho ou desalentadas na metade deste ano.

Na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, aumentou em 264 mil o número de trabalhadores nesta condição.

Números PNAD:

– 14,4 milhões de desempregados – pessoas que não trabalham, mas procuraram empregos nos últimos 30 dias;

– 7,4 milhões de subocupados;

– 10,2 milhões de pessoas na força de trabalho potencial (pessoas que poderiam trabalhar, mas não trabalham);

– 5,6 milhões de desalentados (100 mil a mais que em junho de 2020), ou seja, que desistiram de procurar emprego, e outras 4,6 milhões que podem trabalhar, mas que não têm disponibilidade por algum motivo, como mulheres que deixam o emprego para cuidar os filhos;

– 35,6 milhões de informais;

– 24,8 milhões de trabalhadores por conta própria.