A frequente violação aos direitos humanos foi denunciada, nesta quinta-feira (22), por parlamentares, parentes de militantes desaparecidos durante a ditadura militar, religiosos e familiares da vereadora Marielle Franco (PSol-RJ).
Os 434 desaparecidos durante o regime militar, a vereadora do Rio Janeiro e seu motorista Anderson Gomes, assassinados no Rio de Janeiro na semana passada foram homenageados no plenário da Câmara dos Deputados. Esta foi a primeira celebração no Brasil do Dia Internacional do Direito à Verdade sobre Graves Violações aos Direitos Humanos e da Dignidade das Vítimas.
Para a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) desde o impeachment da presidenta Dilma Rousseff existe uma ameaça à democracia que incentiva o ambiente de intolerância, que levou à execução de Marielle. “A restrição democrática precisa acabar, o golpe tem responsabilidade nas mortes e nos crimes políticos deste País”, disse.
Para a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), a morte de Marielle não será em vão. “Quiseram calar Marielle, mas sua voz ecoará para sempre. Ela lutava nas favelas e nos bairros mais pobres, contra a violência do tráfico e das milícias. Teve a coragem de levantar essa temática da luta da mulher negra, que é a primeira a ser atingida pela crise e pela violência. Os estilhaços das balas que tiraram sua vida estão cravados em nossos corações”, disse.
Os 434 desaparecidos durante a ditadura militar no Brasil foram lembrados pela deputada Luiza Erundina (PSol-SP), que pediu a sessão. Ela salientou que ainda não foi revelada a verdade. O número consta no relatório final da Comissão Nacional da Verdade, finalizado em 2014. “Até agora os poderes da República nada fizeram para dar cumprimento às 29 recomendações da Comissão Nacional da Verdade”, apontou.
Sobre o cenário atual, a parlamentar salientou que é de graves violações aos direitos humanos, incluindo o assassinato diário de jovens negros na periferia, de indígenas e a violência doméstica. “Quase a totalidade desses crimes ficam impune no Brasil, sob o olhar indiferente e conivente das autoridades de plantão”, disse.
Dom Leonardo Steiner, representante da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), acredita que a morte de Marielle é apenas a continuação da história do País. “Quantos homens e mulheres indígenas desapareceram na história do Brasil? Quantos escravos, e ninguém se lembra deles? Quantos pobres desapareceram recentemente?”, questionou.
Em um discurso emocionado, a mulher de Marielle, Monica Tereza Benício, cobrou celeridade das autoridades brasileiras sobre o assassinato da vereadora. “Não devem só a mim a satisfação do que aconteceu com a minha mulher, porque isso não vai trazê-la de volta, mas devem ao mundo o respeito e a satisfação do que aconteceu nesse crime bárbaro”, afirmou.