Em entrevista ao portal HuffPost Brasil, divulgada nesta segunda-feira (12), o líder do PCdoB na Câmara, deputado (SP) Orlando Silva, defendeu o direito do ex-presidente Lula concorrer as eleições, mas destacou que a pré-candidatura de Manuela D’Ávila é uma aposta na renovação da política.

A candidatura presidencial é uma das apostas do PCdoB para superar a cláusula de barreira, que precisa eleger pelo menos nove deputados federais ou ter 1,5% dos votos para o posto em pelo menos nove estados. Nesse pleito, a sigla vai abrigar integrantes do Frente Favela Brasil, movimento de renovação na política.

No Executivo, a aposta do PCdoB é na reeleição de Flávio Dino ao governo do Maranhão. “Nossa prioridade absoluta chama-se Flávio Dino”, afirmou Orlando Silva.

Leia os principais trechos da entrevista:

HuffPost Brasil: Como o partido está trabalhando para impulsionar a candidatura de Manuela D’Ávila?

Orlando Silva: Temos procurado dialogar com os meios de comunicação. Ela tem feito uma série de entrevistas com a imprensa nacional e internacional, que é um primeiro esforço que dá visibilidade não só ao nome dela, mas à agenda que ela propõe para o Brasil. E há um esforço muito concentrado nas redes sociais. Apostamos muito que lá teremos oportunidade de consolidar e ampliar a presença dela.

Mas devo dizer que após a pré-candidatura lançada no ano passado, as primeiras sondagens eleitorais posicionam ela, ao nosso ver, de modo satisfatório.

Ela alcança um patamar acima, por exemplo, do Fernando Haddad, que foi prefeito da cidade de São Paulo, ministro de Estado por quase uma década, de uma área sensível que é a educação. A primeira impressão que nós temos é de um impacto positivo da candidatura. Ela tem 2 dígitos no Rio Grande do Sul, base dela. Na região Sul, pesquisas colocam ela com cerca de 6% de intenções de voto em uma região importante politicamente.

Esse cenário com a possibilidade cada vez mais forte do Lula fora da disputa e a dificuldade do PT em viabilizar um plano um plano B favorece a candidatura da Manuela?

Nós defendemos o direito de o ex-presidente Lula ser candidato. Consideramos que quem pode decidir de modo democrático os participantes ou vitoriosos das urnas é o povo. Nós consideramos que tirar o Lula no tapetão, como é risco, tirando ele do processo eleitoral por uma sentença de 2ª instância e um processo complexo, em que não se produziu provas, isso pode fragilizar a débil democracia brasileira.

E Lula sendo ou não candidato, nós defendemos que o PCdoB deve apresentar sua candidatura. Nós não torcemos contra a candidatura do PT. Nós acreditamos que o PT tem legitimidade social e política para ter uma candidatura e nós queremos ter a nossa candidatura para vocalizar os nossos pontos de vista.

A eleição no Brasil é em 2 turnos. O 1º turno é o da opção, em que você afirma sua identidade, o seu programa. O 2º turno é o da exclusão. Nós temos que decidir quem apoiar, se não estivermos no 2º turno à luz dos candidatos que estiverem na cédula.

Nem considerando que no cenário sem Lula, a Manuela tem uma projeção maior?

Não porque macula o processo eleitoral a ausência do ex-presidente. Nós queremos que o povo decida quem quer eleger presidente da República.

Em dezembro a Manuela chegou a falar da possibilidade de formação de alianças com o PMDB e PSDB. Como estão essas negociações?

O Brasil é um continente. A única vez em que se tentou verticalizar o processo eleitoral foi um desastre. O Supremo Tribunal Federal tentou com uma instrução normativa. Mas não é possível você imaginar que, de norte a sul, de leste a oeste, você terá grupos monolíticos em torno de algumas candidaturas.

Nós temos um programa, o partido tem alianças estaduais que levam em conta também temas da conjuntura local.

Tem sido uma marca. A maioria dos partidos terá candidatos a governador com mais de um candidato a presente no seu palanque porque a realidade local não replica apenas o quadro nacional. Tem outros ingredientes regionais que devem ser considerados.

A Manuela vai ter palanque na candidatura de Márcio França ao governo de São Paulo?

Se o PCdoB apoiar ao Márcio França em São Paulo, é um requisito para esse apoio que o palanque esteja aberto para a Manuela, como estará aberto, por exemplo… eu sei que o Podemos pode apoiar o Márcio França. Se isso acontecer, o Álvaro Dias teria presença nesse palanque, então seria um palanque aberto para a Manuela, para o Álvaro Dias, para o…

Para o Geraldo Alckmin…

É que o Alckmin teria um partido que apoia ou a aliança com o Márcio França, mas seria um palanque aberto.

Como estão as conversas com o Márcio França?

São positivas. O PCdoB em São Paulo dialoga com o Luiz Marinho, candidato do PT, e Márcio França, candidato do PSB. Nós temos conversado junto com o PDT porque a nossa ideia é sempre trabalhar na lógica de formação de um campo. Se o PDT e PCdoB apoiarem o PT, será formado um campo: PDT, PCdoB e PT. Se nós apoiarmos o PSB, terá um campo de esquerda PDT, PCdoB e PSB e os outros aliados que o Márcio tem dialogado. Ele tem conversado com o PPS, PR, PSC e nós estamos em uma fase de avaliação. Em 17 de março, o PCdoB deve decidir que candidatura apoiará a governador em São Paulo. Até lá estamos elaborando um manifesto com algumas ideias programáticas chave para balizar a decisão.

O que pesa nessa decisão?

Primeiro a aderência à proposta que vamos formular de um programa mínimo para a candidatura e o debate feito concretamente com as nossa lideranças em São Paulo. Temos um projeto eleitoral que pode ter mais ou menos fôlego em uma ou outra aliança. Tem realidades locais. Se eu falei que o Brasil é um continente, São Paulo são mais de 600 municípios. É uma diversidade muito grande. Nós teremos uma chapa própria de candidatos a deputado estadual, então nós vamos consultar as principais lideranças para decidir qual a melhor opção.

Com a janela partidária, haverá aumento da bancada?

Vem o deputado Givaldo Vieira, do PT do Espírito Santo. Foi vice-governador do Espírito Santo. É um quadro muito preparado. Há outros nomes que estão conversando conosco, mas consideramos melhor tratar quando houver uma maturação.

Em relação a 2019, qual a estratégia para superar a cláusula de barreira?

A candidatura da Manuela D’Ávila é funcional também para elevarmos a bancada do partido. Com ela, temos a convicção que vamos superar a cláusula de barreira com folga. As outras fases da cláusula de barreira são outros desafios que temos que enfrentar. Temos que trabalhar muito para superar e quem sabe na próxima legislatura efetivamente fazer uma reforma política que permita um sistema político mais eficiente, partidos mais representativos, uma democracia direta participativa, em que o povo interfira nas rumos. Porque até aqui o Brasil deve à população uma reforma política de verdade.

Vocês têm conversado com o Frente Favela Brasil para abrigar candidaturas…

Sim, tivemos uma reunião muito boa. São amigos nossos. Eu pessoalmente tenho uma relação muito próxima e nutrimos a expectativa de que candidatos deles somem no esforço do PCdoB. O PCdoB se colocou numa posição de ser uma legenda democrática para abrigar esse movimento que é legítimo, quer ser um partido, mas não terá condição de disputar como legenda própria nessa eleição, então nós abrimos nossa legenda para que eles possam participar porque temos identidade com muitas das ideias que eles apresentam.

Tem conversas com outros movimentos de renovação?

Consolidado é mais esse.

Quais candidaturas de governador o partido já definiu?

Nossa prioridade absoluta chama-se Flávio Dino, governador do Maranhão. Pode ter outras por questões locais. Fora o Flávio Dino, nós vamos priorizar algumas candidaturas ao Senado. Tem em Minas Gerais com a [deputada] Jô Moraes. A Vanessa Grazziotin, nossa senadora do Amazonas. Estamos analisando uma candidatura na Bahia. No Mato Grosso, tem a reitora da universidade. Estamos avaliando nomes, mas não há nada maduro [além dos 3 nomes citados].

O presidente Rodrigo Maia tem uma boa interlocução com deputados de partidos de esquerda e tem segurado algumas pautas conservadoras. Como o senhor vê a postura dele? Tem perfil para ser presidente da República?

O Rodrigo Maia tem tido da postura que deve ter um presidente da Câmara. Nessa legislatura, nós ficamos traumatizados com o [ex] presidente Eduardo Cunha, que era muito duro, virou líder de um bloco conservador. O que o Rodrigo Maia tem feito é obrigação dele. Dialogar com a base, dialogar com a oposição.

Se a gente observar o que era o período do Cunha e o dele, obviamente que houve um refluxo de temas comportamentais. E o parlamento brasileiro, diante de uma crise brutal que o Brasil está vivendo, tem que se preocupar com a retomada e o desenvolvimento. Não ficar tratando de temas de foro íntimo, matérias de comportamento individual. Isso o Eduardo Cunha manipulou para agregar uma parcela conservadora do Parlamento e manipula inclusive o eleitorado.

Eu, por exemplo, me recuso a usar a expressão “bancada evangélica”. Os evangélicos compõem uma parcela da população brasileira e grande parte das teses que a chamada “bancada evangélica” defende aqui não têm adesão entre os evangélicos. Eu conheço muitos evangélicos que não apoiavam o Eduardo Cunha, não concordam com os temas comportamentais pautados aqui.

E na minha opinião, os que se auto-intitulam líderes da bancada evangélica não têm mandato para representar uma parcela tão expressiva da população brasileira.

Então creio que o Rodrigo Maia acertou quando descolou dessa abordagem comportamental que pautou a fase do Eduardo Cunha e acho que o presidente da Câmara tem de ser presidente de um poder, não ser líder de um campo.

Aliás, uma crítica que nós fazemos ao Rodrigo Maia é que muitas vezes ele se comporta como líder da bancada do governo no tratamento do tema da economia e isso é errado porque o presidente da Câmara tem que presidir a Câmara e não representar uma facção de parlamentares.

Como o senhor tem visto a atuação dele no campo da segurança pública?

Na verdade, não teve atuação. Teve a criação na Câmara de uma comissão com 6 parlamentares, 3 da base e 3 da oposição que estão preparando uma pauta para apresentar. O que houve foi um factóide que o governo Temer criou com a intervenção no Rio e o Rodrigo Maia ficou constrangido sendo do Rio de não conduzir favoravelmente esse factóide do Temer. Mas não vai ter nenhuma implicação prática. Vai aumentar durante um tempo a sensação de segurança. Mas para ter eficácia na segurança pública, exige medidas estruturantes, investimento, políticas sociais, uso da inteligência e isso está muito longe da perspectiva do governo Temer.

E a proposta do sistema integrado de segurança?

A proposta que eu recebi de um sistema único de segurança pública é bem interessante. Inclusive dialoga com muitas pautas de segurança que o governo Lula e Dilma apresentaram. Mas isso não é uma matéria que está na mesa ainda. Está sendo construída no bastidor. A princípio, eu considerei bastante positiva. Os especialista que eu consultei em São Paulo também consideraram a proposta bastante interessante como ponto de partida.