Não é difícil entender os números da pesquisa Datafolha divulgada nesta terça-feira (5), que apontam uma rejeição recorde à gestão de João Doria na Prefeitura de São Paulo (SP). De acordo com o levantamento, 39% dos paulistanos consideram o governo do tucano ruim ou péssimo. Apenas 29% avaliam a gestão como ótima ou boa, enquanto 31% a classificam como regular.
Por Wander Geraldo*
Doria foi eleito no primeiro turno da eleição municipal de 2016 com a promessa de ser “um gestor, não um político”, capaz de articular o Poder Público e a iniciativa privada na resolução dos graves problemas de São Paulo. Uma vez no cargo – e com ampla blindagem da grande mídia –, apostou numa agressiva estratégia de marketing, que fez seus índices de popularidade dispararem.
Assim, seu programa de governo – definido pelo PCdoB como “privatizante, antissocial, antidemocrático e autoritário” – ficou em segundo plano, ofuscado pela ofensiva publicitária. Julgando-se invulnerável, Doria ousou se vender até mesmo – e de modo precoce – como candidato competitivo e qualificado à Presidência da República.
Sem rumo
Porém, conforme denunciava o PCdoB desde maio, no seminário “São Paulo: O Desmonte Anunciado”, havia uma distância imensa entre discurso e prática, embalagem e conteúdo, a “cidade linda” e a “cidade real”. Aos poucos, a própria população passou a se incomodar com a falta de rumo e de projetos da gestão Doria.
É um governo que, em apenas 11 meses, impôs retrocessos e perdas aos principais serviços públicos – como saúde, educação e transporte público –, além de abandonar a zeladoria urbana e ignorar o sucateamento dos equipamentos municipais. As vitrines da gestão são quebradas uma a uma, na mesma velocidade com que cai a máscara de “bom gestor” do prefeito tucano.
A reviravolta da opinião pública em relação a Doria era mais do que esperada. Segundo o Datafolha, “do início do ano até agora, a aprovação a Doria caiu 15 pontos percentuais (44% para 29%), enquanto a reprovação nesse mesmo período cresceu 26 pontos (13% para 39%). Somente nos últimos dois meses, sua rejeição subiu 13 pontos –ela estava em 26% no começo de outubro”.
Persistir na denúncia
Embora o Datafolha afirme que “não há um fator único que possa explicar esse desgaste”, a opinião do PCdoB, expressa há sete meses, se mantém atualíssima: “Em que pese a disposição da grande mídia em projetar o prefeito, o artificialismo do processo vai se revelando, na medida em que o conjunto da gestão municipal não aparece, não diz a que veio. As ações prioritárias da Prefeitura são superficiais e localizadas, não atingindo os problemas concretos, nem as áreas periféricas da Cidade”.
Vários dados da pesquisa apontam nessa direção. Para 70% dos moradores de São Paulo, Doria fez “menos do que se esperava” de sua gestão para a cidade. Em contrapartida, apenas 4% avaliam que o prefeito fez mais do que esperavam para seu bairro. A rejeição máxima ao governo (44%) se dá justamente entre os moradores com renda mensal de até dois salários mínimos – os “mais humildes” que Doria prometia priorizar.
É fundamental que o PCdoB, os movimentos sociais e as forças do campo democrático-progressista persistam na denúncia do governo Doria, defendam o patrimônio e os serviços públicos, além de fortalecer a democracia e os direitos humanos na Cidade. A gestão tucana começa a ruir e a rejeição a Doria deve crescer ainda. Mas a luta por uma São Paulo justa e humana ainda requer muitas batalhas.
* Wander Geraldo é presidente municipal do PCdoB de São Paulo (SP)