Provou-se correta a concepção tática de que a esquerda nem vence e nem governa sem alianças, sem constituir maioria no Congresso Nacional e na sociedade. Não houve erro em pactuá-las. São indispensáveis coalizões amplas, firmadas em torno de programas, e que, para terem condução consequente, precisam ser lideradas pelas forças progressistas e de esquerda. As coalizões abarcaram um arco amplo de classes e estratos de classes, partidos de conteúdo político-ideológico discrepantes, refletindo o quadro político-partidário do país. Enquanto a esquerda teve capacidade e condições para polarizar as forças políticas de centro, o governo pôde promover um conjunto de conquistas. Quando o centro passou a ser liderado pela direita, em virtude da perda de hegemonia da esquerda, o governo se debilitou e a escalada do golpe se fortaleceu. O fato de o centro ter sido fator decisivo para assegurar a maioria do governo no Parlamento, por sua vez, impôs negociações e modulações quanto à profundidade das mudanças. Simultaneamente, o fato de a esquerda ter sido minoria no Congresso Nacional, associada ao peso grande do campo conservador durante todo o ciclo, foi um elemento objetivo de freio às reformas.