Superar entraves e desenvolver o trabalho de formação
Por Caio Botelho*
É costume afirmar que a escola dos comunistas é o próprio Partido. Isso porque a militância se forma ideologicamente no cotidiano das lutas nos mais diversos espaços. Participar de uma greve, discutir um documento partidário, atuar em um organismo de base, ler as matérias do portal Vermelho etc.: todas são iniciativas que, de algum modo, contribuem para a elevação do nível de consciência e do comprometimento com o PCdoB e seu projeto estratégico, que é o socialismo. Mas ser o Partido uma escola não dispensa a necessidade de o Partido ter uma escola. Daí a relevância da Escola Nacional João Amazonas, reorganizada há aproximadamente duas décadas e continuadora de experiências anteriores. É por meio dela que o estudo da teoria marxista ocorre de modo sistematizado, ajudando a fundamentar a aplicação concreta da perspectiva revolucionária.
Camaradas que somos, e sobretudo em meio a um debate congressual, devemos ser absolutamente honestos em relação aos pontos que consideramos importantes, sem melindres, ainda que nossas opiniões possam ser apuradas pela inteligência coletiva, que pode revelar a justeza ou não das posições apresentadas. É a partir desse pressuposto que afirmamos: a política nacional de formação do PCdoB tem experimentado um período de refluxo significativo.
Isso se deve, em primeiríssimo plano, às dificuldades oriundas do novo contexto político desfavorável. E isso não é novidade: a experiência anterior de Escola Nacional acabou sucumbindo, em grande medida, devido às condições adversas causadas pela crise do primeiro ciclo de experiências socialistas, no começo dos anos 1990. Isso não se deve à uma opção política, tampouco à falta de empenho dos quadros valorosos que se dedicam ao trabalho de formação, mas ao fato objetivo de que quando estamos diante de um cenário de ascensão de forças reacionárias, combinado com a necessidade de superar desafios que colocam em risco a própria continuidade da vida institucional plena do Partido, tudo mais acaba se tornando secundário. Corretamente, o centro das nossas atenções tem sido a luta para derrotar Bolsonaro e a busca por alternativas que assegurem a continuidade do Partido no Parlamento.
Mas é preciso reconhecer que, além das dificuldades conjunturais, o coletivo – e a direção – partidária precisam encarar as insuficiências no debate sobre a política nacional de formação do Partido e, principalmente, superar certa subestimação que ainda persiste. Senão vejamos: quantas linhas do projeto de Resolução do Congresso foram dedicadas à formação? Nenhuma. Coisa rara em documentos congressuais.
Todo um capítulo do projeto tratou da necessidade de “Revigorar o Partido”, inclusive com a apresentação de indicativos diversos, em várias áreas, mas nada relacionado com a formação partidária. Como atualizar e renovar as “linhas de ação e construção política, ideológica e orgânica do Partido” sem considerar a necessidade de apurar e desenvolver o trabalho de formação dos seus quadros? Qual o lugar da Escola Nacional no projeto de estruturação partidária? Quando muito, o documento cita, en passant, a “luta de ideias” em seu parágrafo 72, ainda assim, de modo limitado.
A presente crítica, que apresentamos fraternalmente, não exclui a essência correta e o bom conteúdo do projeto de Resolução, que foi muito bem elaborado e apresenta desafios instigantes. Mas ao ignorar o debate sobre a formação, fez com que o tema, já pouco debatido, tenha passado ainda mais em brancas nuvens (ou quase isso) nas reuniões de base e conferências municipais e estaduais. Esse equívoco pode ser corrigido, mesmo parcialmente, com ajustes em sua redação final, no cenário da plenária final do Congresso. Ao lado disso, sugerimos que os próximos Comitê Central, Comissão Política e Comissão Executiva Nacional, se debrucem mais sobre o tema.
Destaco três sugestões a serem avaliadas: 1. Organizar uma comissão nacional de formação e propaganda representativa e com capacidade de executar um planejamento realista, mas audacioso e consistente; 2. Reformular o currículo da Escola Nacional, sendo esta uma tarefa inadiável, constituindo processo que envolva não apenas os quadros que atuam na frente, mas todo o coletivo partidário, em torno da busca de respostas para a questão: qual tipo de formação pode dar conta dos desafios contemporâneos? (a juventude, por exemplo, pode nos ajudar a apontar caminhos); e 3. Relançar uma plataforma virtual, buscando convergir os esforços dos ambientes virtuais já existentes da Escola e da Fundação Maurício Grabois, além de iniciativas estaduais, e incluindo planejamento de cursos e atividades a serem desenvolvidas de forma regular, com dinâmica e sem burocracia. Todas essas e outras propostas, pelas limitações próprias, aqui foram apresentadas sucintamente, mas elas podem e devem ser detalhadas em debates posteriores.
Mas estamos convencidos de que a Escola Nacional João Amazonas ainda constitui um instrumento imprescindível para a estruturação partidária e ascendente capacitação teórica, política e ideológica dos quadros e da militância comunista.