Por Marina Colombo*

Pouco se fala sobre a questão de gênero e raça em nosso projeto de resolução ao 15° Congresso do PCdoB, mas são elementos centrais para que pensemos o momento de transição vivenciado, a constituição de alternativas – em especial em São Paulo por sua posição política estratégica – e no revigoramento do partido.

A crise do capital no Brasil aprofundou as desigualdades, com as políticas ultraliberais e neocoloniais – nas palavras do documento. As desigualdades de gênero, citadas apenas nos parágrafos 30 e 33, carregam em suas expressões concretas uma face essencial para manutenção do capitalismo. Não há sistema capitalista sem reprodução social, função esta, histórica e socialmente delegada às mulheres.

A taxa de desemprego sempre foi maior para mulheres do que para homens, assim como maior para negros do que para brancos. Para ilustrarmos brevemente, um estudo recente publicado pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostrou que a taxa de desemprego para as mulheres atingiu um nível que não era visto desde 1990. As mulheres se veem amplamente mais afetadas nesse período de “multi crises” e, como consequência, têm retornando ao ambiente privado, ao “seu lugar” de reprodução social.

Para além disso, o pensamento amplamente difundido pelo atual governo resgatou, com vigor, a combatida “família tradicional brasileira” que restringe, ideologicamente, a mulher à essa função privada e impõe modelos familiares que não representam os laços e afetos diversamente e duramente conquistados em nossa sociedade. Não há como falarmos de período de transição, defensiva estratégica, mobilização política da classe operária, retorno às bases, sem olharmos com mais amplitude para o papel que a questão de gênero – e raça, interseccionalmente – têm desempenhado na atual luta de classes.

Como queremos que mais mulheres se juntem à luta política por um projeto contra hegemônico se a questão é rasamente levantada? Como ampliar e formar quadros femininos quando a (des)conjuntura econômica-social está mais latente para elas? Que saídas são oferecidas à essas mulheres? Que suporte é dado para as mulheres que já compõe nossas fileiras de luta?

É importante salientar o papel central que a 3ª Conferência Nacional do PCdoB sobre Emancipação das Mulheres desempenhou neste ano – e que aparece destacada no item 81 do projeto de resolução. Entretanto, a participação de companheiros de luta (sim, no masculino) ainda é insatisfatória visto, reitero, a importância e a posição estratégica da questão. O fato do nosso documento a abordar limitada e superficialmente, apresenta-me a demanda inescusável de discutir as questões de gênero mais profundamente no 15° Congresso e estreitar a temática junto de nossas e nossos filiadas e filiados, militantes e quadros comunistas.

 

*Assistente social. Secretária de Organização PCdoB Mogi das Cruzes-SP