Nos últimos tempos, tem se tornado recorrente nas fileiras comunistas o que se convencionou chamar de pós-modernismo (ou multiculturalismo). De maneira simplista, podemos defini-lo, segundo Maffesoli (2008) como “a condição sociocultural e estética dominante no capitalismo após a queda do Muro de Berlim (1989), o colapso da União Soviética e a crise das ideologias nas sociedades ocidentais no final do século XX”.

Por Pedro Luiz*

Esta “condição sociocultural e estética” ganhou corpo nos movimentos sociais ao longo dos governos petistas e hoje está presente em toda a esquerda, povoando debates, falas, artigos e até mesmo ações políticas e governamentais. Infelizmente, o PCdoB não foge à regra, tendo hoje muitos militantes que se identificam muito mais com esta vertente de cunho pequeno burguês do que com o marxismo-leninismo.

O multiculturalismo é em si uma negação da luta de classes, do maior legado de Marx em sua obra e herança ideológica fundamental dos comunistas. Afirmo isso sem medo de errar, pois pautas indentitárias, sejam elas de qualquer tipo, que não tenham como norte a batalha entre explorados e exploradores serve apenas para a manutenção do modo de produção capitalista!

Achar que o racismo, a homofobia e o machismo (entre outros) serão superados simplesmente pela boa vontade do capital financeiro através de bundaços, saraus, twitaços e coisas do tipo, é um equívoco grave, pois antes de qualquer coisa é preciso que se lembre de que quem mais lucra com as ações da sociedade patriarcal (que tanto os oprime) são os mesmos que a mantém viva: a burguesia!

As ideias pós-modernas possuem em sua essência a divisão da classe trabalhadora de seu principal inimigo, pois se o sujeito não enxerga a quem combater (o explorador), ele perde o seu foco e, ao invés de realizar de fato o enfrentamento de classes, fraciona a luta operária em atividades de pouca ação prática!

Obviamente que não nego aqui que as mulheres, os negros e a comunidade LGBT são os mais massacrados pelo sistema capitalista, mas somente a batalha por mais direitos é insuficiente, é fundamental uma abordagem classista capaz de apontar aos militantes destas causas que os seus sofrimentos não serão superados no modo de produção capitalista!

Isto pode parecer óbvio a alguns, mas infelizmente não é o que vemos atualmente em nosso partido, pois além desta dificuldade de compreensão entre quem é o inimigo principal a ser combatido (capital financeiro internacional) por parte de parcela importante dos militantes destas causas, o pós-modernismo semeia em nossas fileiras outro obstáculo a ser superado: o espontaneísmo.

O espontaneísmo ou voluntarismo é outro problema recorrente dos que se identificam com esta ideia, pois na busca de negar a tudo e a todos, negam juntamente à importância do Partido como direção única das ações a serem realizadas pelos comunistas nos movimentos sociais, mandatos e governos. O resultado disso pode ser resumido na seguinte frase: “O movimento é tudo e o Partido é nada”.

Ou seja: as atitudes militantes são dirigidas por sua base (seja ela qual for) e não mais pelo Partido, erro grave e que não faz o menos sentido, uma vez que agremiações leninistas (como a nossa) são verticalizadas e hierarquizadas. Em resumo, estes militantes apresentam um problema de cunho ideológico sobre o papel de fato do Partido revolucionário como condutor das massas operárias! O resultado disso é o desprezo do organismo partidário como força dirigente de sua militância, mesmo que de forma inconsciente.

Mais um problema oriundo das ideias dos multiculturalistas está na negação da política. Pauta chave de agremiações irresponsáveis que se colocam acima do bem e do mal, como o PSOL, por exemplo, é comum ver gente nossa endossando discursos de cunho fascista como “ninguém me representa” ou “todo político é bandido”. Mal sabem estes desatinados que ao fazerem isso cometem dois erros graves: o primeiro é flertar de fato com regimes totalitários onde não existe representação legislativa e o segundo é não compreender que não existe saída para a crise política fora da política! Fora dela, resta apenas a barbárie!

Combater este câncer ideológico presente no PCdoB é tarefa urgente, entretanto na tese isto não se mostra com a ênfase necessária, somente no item 124, e de maneira incipiente critica-se esta ideologia de cunho pequeno burguês! É preciso dar destaque, tanto no documento como em todas as instâncias possíveis, que o PCdoB não defende, não compactua e não apoia as ideias multiculturalistas, pelo contrário as condena e tem perfeita compreensão que elas surgem para fracionar a batalha dos trabalhadores por uma sociedade mais justa, soberana e, sobretudo, socialista.

Referências:

MAFFESOLI, M. Elogio da Razão Sensível trad. Albert C. M. Stuckenbruck. 4ª ed., Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

*Pedro Luiz Teixeira de Camargo (Peixe), biólogo e doutorando em Geologia Ambiental pela UFOP-MG, militante do PCdoB de Ouro Preto-MG.