“Tudo muda o tempo todo no mundo”

Lulu Santos – Zen Surfismo

O sindicalismo classista acumulou exponencial influência no decorrer da última década, após a criação da CTB. É esse patamar atual – exatamente – o que está em xeque, e por isso se exige que o sindicalismo classista atue ainda mais organizadamente junto à sua base, a fim de mobilizá-la em defesa dos seus direitos, de suas entidades e da sua representação no legislativo. Primeiro, porque é preciso tirar lições da experiência concreta que o povo faz sobre o erro de desconhecer a política, ignorância que lhe tem afetado de modo cada vez mais duro. Segundo, pois pode ser uma eleição em que ainda é possível às representações classistas se dirigirem de modo pleno e organizado para a ampla maioria de suas bases e para o povo. Quem melhor falará para as nossas bases, senão nós?!

Por Paulo Vinícius Santos da Silva*

Em terceiro lugar, porque devemos responder à questão de como as vias de acumulação de forças – luta de ideias, de massas e político-eleitoral – se entrelaçam com nosso crescimento orgânico e eleitoral. Por que decrescemos em influência eleitoral em grandes municípios? Como a crise de legitimidade e a derrota na esquerda nos afeta, e que laços devemos ter com o povo? Objetivamente há um natural desnível quando vemos as influências eleitorais possíveis a partir de espaços de governo/parlamento, luta social, intelectualidade/cultura. É preciso sabedoria e realismo para não embarcarmos num eleitoralismo marqueteiro de quinta, desconhecendo muitas vezes a nossa influência real e potencial, acabando nem lá, nem cá, deixando de falar para quem devemos e podemos. Será que não é possível uma via orgânica de crescimento eleitoral, inclusive dirigindo esforços de recrutamento de lideranças de esquerda?

Ou seja, é preciso destapar o bloqueio natural da “democracia burguesa” que impede a projeção político-eleitoral de lideranças populares, notadamente juvenis e de trabalhadores(as), no curso de uma eleição que amplia a necessidade de o Partido dirigir-se ao povo. Uma parte disso pode ser respondida no primeiro turno, com uma candidatura própria, persistindo o quadro mais amplo de fragmentação da esquerda. Uma candidatura nacional é possibilidade de o PCdoB falar direto ao povo. Mas é decisivo montar chapas que encarnem a dimensão do atual peso institucional conquistado, da força de nosso crescimento na classe trabalhadora e o nosso celeiro de quadros juvenis, e ampliar a cesta de votos do PCdoB na Câmara dos Deputados. Temos condições para afirmar esse lastro classista e nele expressar a sua diversidade, projetando lideranças mulheres, negras, LGBTT, do campo e da cidade, da cultura e da intelectualidade, expressas nas candidaturas, feitas de pessoas reais e diversas. Se não ousarmos, notadamente quanto às candidaturas de trabalhadores(as), poderemos perder um espaço importante e sob ameaça, em que progredimos, mas que precisa se reforçar quanto à sua capacidade de sair da luta corporativa e econômica, lançando-se à luta política e dirigindo-se a toda à sociedade.

Essa ousadia passa por enfrentar a necessidade da renovação geracional, da ampliação dos espaços sindicais às mulheres e da preocupação crescente com a nossa capacidade de representar a nossa base inclusive na composição geracional, de gênero e no entrelaçamento das lutas dos direitos humanos com a luta dos trabalhadores. Parte dessas orientações já foram aprovadas nos Encontros Sindicais Nacionais do PCdoB. Isso é um movimento necessário, que em nosso meio ocorre já atrasado, sob o ataque da direita. Não adianta escandalizar-se quando parte da juventude e dos trabalhadores(as) ouve a direita, precisamos é falar pra nossa base. Em vez da fragmentação devemos afirmar a síntese expressa na constituição da Classe, a união das pautas e o reconhecimento das lideranças que temos projetado.

Para enfrentar tais desafios, urge o fortalecimento das Secretarias Sindicais, de Juventude e de Organização, aprofundando a política de quadros voltada às lideranças intermediárias. Que o PCdoB se dirija ao povo brasileiro através de um veículo unificado e de massas periódico que torne mais nítidas suas posições. E para os(as) comunistas na luta dos trabalhadores, urge ousar libertar-se da pirâmide invertida, reconhecer que ela desabará. Ter a coragem de pô-la sobre sua verdadeira base, dirigir-se aos trabalhadores(as), à juventude, às mulheres, chamá-los a defender a democracia e posicionar-se no decisivo embate em que o povo possa outra vez decidir o destino do Brasil.

*Milita em Brasília. Sociólogo e Bancário, é egresso da UJS