O Socialismo como necessidade histórica e o papel da Classe Trabalhadora

“Tudo, tudo o que existia. Era ele quem o fazia. Ele, um humilde operário. Um operário que sabia. Exercer a profissão.”

Vinícius de Morais, O Operário em Construção

Amplia-se a centralidade da Classe Trabalhadora para a Humanidade, ela, classe que já é central para o Partido Comunista, por sua história e sentido. Mas também pelas mudanças tecnológicas que avançam para a precarização do trabalho e para uma escalada de substituição do trabalho vivo, no curso da 4ª Revolução Tecnológica. O sistema capitalista, no curso de sua crise, aprofunda a polarização social. Apenas 1% da humanidade possui mais riqueza que os 99% restantes, a maioria dos quais parte da Classe Trabalhadora, produtora da riqueza e da economia real. Nos dizeres de Engels, “a classe dos trabalhadores assalariados modernos, os quais, não tendo meios próprios de produção, estão reduzidos a vender a sua força de trabalho para poderem viver”.

Por Paulo Vinícius Santos da Silva*

Cumpriu-se – infelizmente – a previsão marxista da inevitável concentração de riqueza e polarização social sob o capitalismo. Mais do que nunca, o socialismo é necessidade histórica, de libertar a humanidade do jugo parasitário do capitalismo financeiro, jugo que ameaça a vida na Terra, e também o nosso Brasil. O socialismo pontua como sociedade organizada em favor das amplas maiorias, que busca elevar o desenvolvimento à condição de Ciência, utilizando-se do Estado e do Mercado, tendo em conta a complexidade da humanidade e o desafio de redefinir a relação da espécie humana com a natureza, a fim de assegurar a própria sobrevivência da espécie.

O retrocesso civilizacional e em curso no país é parte do esquema geral da subordinação de todos os interesses da humanidade à Ditadura do capital financeiro, com a exclusão de um potencial ator de primeira grandeza no mundo multipolar. O caráter subalterno, rentista e corrupto de nossa classe dominante ficou exposto no Golpe que depôs a Presidenta Dilma, antecipando a atual ofensiva de direita contra a CLT, a Constituição de 1988 e as políticas públicas de Lula e Dilma. Por que?

Ora, do Orçamento da União se reserva religiosamente (com FHC, Lula e Dilma) quase a metade para despesas de juros e amortização da dívida pública. Ora, agora, com o “teto de gastos”, a fatia que é uma banda poderá tranquilamente crescer (e viva à “responsabilidade fiscal”). Por isso que pagamos tamanhos juros em empréstimos pessoais, cartões, financiamentos e dívidas, por isso o empresário tanto paga e deve aos bancos. Cada família a receber a sinistra visita da fome, cada choro de pai e mãe demitido, a destruição dos serviços públicos, o abandono da velhice na Reforma da Previdência, a juventude sem trabalho e sem estudo, a morte na fila do médico, as mentiras do Partido da Imprensa Golpista, a escola sucateada, a professora mal paga, a mordaça e a lavagem cerebral da “teologia da prosperidade” e do ódio, tudo, tudo isso e o Golpe só existem para aprofundar a já vergonhosa supremacia da especulação financeira sobre a economia real, sobre quem trabalha e produz. É por isso que sobressaem como objetivos destacados unir a Classe Trabalhadora a uma ampla frente de classes e setores sociais para resgatar a Democracia violentada e isolar o rentismo parasitário que ameaça a Nação Brasileira.

Vivemos um cenário de destruição de direitos, precarização e terceirização, que se soma à desindustrialização, à queda dos investimentos, à reprimarização e aos intentos de desmonte do Banco Central, do BNDES, da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil, do sistema ELETROBRÁS e das Universidade Públicas. Isso é feito a mando de fora, para destruir qualquer chance de Desenvolvimento, é uma expedição punitiva de uma ocupação estrangeira.

Pirâmide invertida, representatividade política e autonomia financeira

Essa situação de terra arrasada afeta o movimento sindical de múltiplas e decisivas formas. O ataque brutal promovido pela Deforma Trabalhista não está ainda mensurado, mas aponta para uma fragmentação das categorias pela terceirização ilimitada, o que nos obriga a aprofundar a consciência da unidade da classe trabalhadora por ramos, rompendo com o corporativismo. Precisamos romper com as barreiras que ainda separam trabalhadores(a) com as mesmas funções e locais de trabalho. A Deforma quer quebrar o papel dos sindicatos como representação unificada dos trabalhadores(as). Devemos ampliar e lutar incansavelmente pela unidade e a representação do conjunto dos trabalhadores(as).

Devemos ousar também nas respostas à crise do Financiamento Sindical. Para além de um criterioso estudo de racionalização econômica, precisamos refletir sobre alternativas organizativas que monetizem uma base que já possuímos, para responder ao problema financeiro pelo fortalecimento dos laços com nossa base. Dado o exponencial crescimento dos últimos 10 anos, o sindicalismo classista se depara com uma realidade nova em três aspectos: 1) uma base social maior, no campo e na cidade, cerca de 10% das entidades sindicais do país; 2) as mudanças tecnológicas que afetam em profundidade o mundo do trabalho; 3) o ataque sem precedentes contra a organização sindical. É preciso um estudo abrangente sobre a composição do proletariado brasileiro, as mudanças do seu perfil, sua subjetividade e a nossa maneira de nos relacionarmos com a nossa classe na nova realidade, que de acirramento a luta de classes e ofensiva da direita.

Diante de tais problemas, exige-se da vanguarda para a Classe uma praxis virtuosa. Segundo nosso 4º Encontro Sindical, isso passa por superar a pirâmide invertida:

A pirâmide invertida (muitos militantes na cúpula sindical e poucos na base) acaba sendo o caldo de cultura para o burocratismo sindical, para o espírito de rotina e o rebaixamento do trabalho sindical. Esse engessamento da vida partidária e sindical afunila os espaços para o surgimento de novas lideranças e estimula a prática da reeleição indefinida dos mesmos dirigentes. Em alguns casos, esse fenômeno gera fadiga de material, desgaste na base e mesmo derrotas eleitorais”.

A torre de marfim em que se rodiziam as principais funções – geralmente em mãos masculinas – nas direções sindicais, ironicamente também nos distancia de nossa base, é topo e fim de carreira, impede a existência de uma corrente de opinião nítida da Classe Trabalhadora, assim como uma base eleitoral que nos assegure a legalidade e maiores espaços à disputa da hegemonia. Por isso o projeto CTB é decisivo, um passo adiante na consciência da classe para si, um processo que carece da direção comunista consciente, de prioridade e investimento.

A busca da unidade das centrais sindicais evidenciou limites, divisões e problemas que terão novos contornos com a mudança geral promovida pelo ataque ao movimento sindical. Devemos nos preparar para as mudanças nas categorias e entidades, sem temor de avançar como força organizada. É essa perspectiva estratégica de reforço dos laços com a Classe que deve animar o movimento sindical classista para estreitar seus laços com o movimento juvenil e de mulheres numa ofensiva consciente para a ação na juventude trabalhadora, em especial em categorias-chave.

*Milita em Brasília. Sociólogo e Bancário, é egresso da UJS