Por Francisco Wellington Duarte*

 

Um dos maiores desafios postos para o Partido tem sido como fazer chegar suas ideias à sociedade, de maneira geral, e como cativar a militância em torno das propostas programáticas. Sendo um partido que se contrapõe ao sistema capitalista e propõe uma sociedade alternativa a este, o funcionamento, organização, financiamento, formação, comunicação e a execução de programas do Partido, tenha que enfrentar um ambiente sempre hostil à disseminação das suas ideias.

No seu atual Estatuto, artigo 63, diz que “a comunicação partidária é constituída por um conjunto de órgãos nacionais de comunicação que se destinam ao trabalho de informação, orientação política e propaganda da orientação partidária e do socialismo. São imprescindíveis para as tarefas cotidianas de ação política, organização, formação política e ideológica, bem como para o debate e elaboração sobre temas candentes nacionais e internacionais” (PCdoB, 2017).

Transparece a transversalidade da comunicação partidária, que flutua em várias áreas do partido, posto que deve haver uma sintonia entre a própria informação e a atuação cotidiana do mesmo (orientação política e propaganda), além da sempre presente importância do fortalecimento sobre a discussão acerca do socialismo, concepção e entendimento, algo que, num mundo em que a informação sofre processos de deformação contínua, torna-se bastante desafiador fazer com que os camaradas abracem, inclusive, a essência do Partido, que é a de ser um partido de natureza revolucionária, ou seja, um agrupamento político que questiona o sistema e quer erguer novo sistema econômico e político.

Nos últimos anos o Partido iniciou uma agressiva política de interação com as redes sociais, um universo que fez explodir a quantidade, mas não a qualidade, das informações que chegam às pessoas, gerando “desinformação de massa”, e o Partido, compreendendo a necessidade dessa interação, ampliou sua presença. Mas, no decorrer do processo, foram surgindo elementos que impedem o amplo florescimento dessa nova “cultura de comunicação” do Partido, entre eles o fato de que era necessário, para conduzir esse processo, seria necessário profissionalizar a Comunicação, posto que se exige, para o trabalho nas redes sociais, disponibilidade, conhecimento e planejamento.

Não podemos desconhecer que o Partido atua no vasto território nacional, com dezenas de comitês estaduais e centenas de comitês municipais funcionando, muitas vezes, sem recursos, dado que a escassez de recursos é um fato impeditivo que os comitês estaduais possam auxiliar os comitês numa implementação mínima de uma estrutura de comunicação e a própria capacidade financeira dos comitês estaduais está longe de ser suficiente para o funcionamento mínimo das atividades partidárias.

A responsabilidade de implementar o planejamento partidário, feito no Comitê Estadual, que fica a cargo das secretarias de comunicações, recebem, portanto, uma responsabilidade de grau elevado, dado que já há algum tempo, tem dado prioridade a esfera da luta política e necessitam, por conseguinte, de uma estrutura sólida, capaz de repassar as orientações vindas da Comunicação Nacional, bem como servir de articulador da disseminação das informações dos comitês municipais e da própria estrutura da Comunicação nessas instâncias.

Com a pandemia novos condicionantes foram impostos ao Partido, como ter a capacidade de inserir-se no ambiente virtual, o que foi feito de maneira bastante positiva no âmbito nacional, mas que nas instâncias estaduais e municipais, consolidou a tese da profissionalização da Comunicação, embora não se caia na esparrela de achar que isso resolve o conjunto de problemas existentes na Comunicação partidária, pois é mister que a profissionalização esteja em perfeita sintonia com o conteúdo ideológico do Partido, ou seja, de preferência que o profissional tenha vínculos fortes com o Partido.

Ressaltemos o que foi dito no início desse texto que, em resumo, se refere à comunicação “do Partido para fora” e do “Partido para dentro”, o que exige formas diferenciadas de Comunicação, posto que o primeiro visa apresentar o Partido ao cidadão e, por conseguinte, atraí-lo para entrar nas fileiras partidárias. Já no segundo caso, está ligado ao fortalecimento ideológico do Partido nas fileiras dirigentes, ambiente em que se verifica grande fragilidade, gerando muita confusão entre os dirigentes comunistas, que se estende para a sua militância e dos apoiadores do Partido.

Além de todos esses problemas, temos a percepção, que pode estar equivocada já que é percepção, de que o conjunto dos dirigentes ainda não “assumiu” a Comunicação como uma instância prioritária no processo de luta de classes, e, embora seja o da priorização das ações partidárias para o fortalecimento dessa área, no cotidiano confunde-se, em diversos momentos, comunicação partidária com assessoria de comunicação, impondo aos secretários, que muitas vezes não são jornalistas, tarefas essencialmente vinculadas ao trabalho de cobertura jornalística e produção de peças publicitárias para os diversos eventos dos comitês estaduais e municipais.

Essa confusão acaba fazendo com que o planejamento, quando existe, tenha dificuldades de ser implementado pois tarefas corriqueiras se somam às atividades dos militantes e de suas ocupações profissionais e o trabalho da Comunicação Estadual acaba se dispersando ou devido a própria falta de pessoas nessa secretaria, fique basicamente impossível para a Comunicação Estadual desenvolver plenamente suas atividades.

O desenvolvimento e aprimoramento das comunicações estaduais deve ser encarado como uma das principais ferramentas que, atuando em sintonia com as outras secretarias, pode melhorar o nível do nossa comunicação com os amigos, apoiadores, militantes, filiados e dirigentes do Partido, e com a população, especialmente a classe trabalhadora.

 

*Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Doutor em Ciência Politica pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS) da UFRN. Secretário estadual de Comunicação do PCdoB do Rio Grande do Norte.