Por Emanoel Souza*

Os eventos extremos, cada vez mais constantes e intensos, colocam a questão da crise climática no centro do debate mundial. Secas prolongadas, ondas de calor, incêndios florestais e enchentes ganham as manchetes na mídia global. Mas o consenso narrativo é que “O Homem” é o culpado pelo aquecimento global. Mas, como assim? Qual a responsabilidade dos povos indígenas? Dos milhões de desvalidos na África, e nos demais continentes, que sequer tem o que comer? Antes de tudo é preciso colocar os pingos no “i”. A responsabilidade por essa grave crise ambiental é do capitalismo.

Os estudos apresentados recentemente pelo o IPCC (Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas) demonstram claramente que o início do atual desequilíbrio está identificado com a Revolução Industrial do século XIX, quando o modo de produção capitalista se impõe como predominante no planeta. Em menos de dois séculos a temperatura média do planeta se elevou em 1,09°C (se analisarmos apenas a porção continental o aumento é da ordem de 1,59°C).

Os estudos científicos, em especial os liderados pelo climatologista sueco, Johan Rockstrom, são ainda mais alarmantes. Eles dão conta que não rompemos apenas a barreira da mudança climática, mas também com as barreiras de equilíbrio da Biosfera, da biodiversidade, do ciclo hidrológico e dos nutrientes, sem falar da poluição provocada pelas “Novas Entidades” criadas pela ação humana (plásticos, baterias, gases, lixo nuclear etc). Para ele, vivemos numa transição da fase de equilíbrio do Holoceno para o Antropoceno (a “Era dos Humanos”).

Assim, fica patente que o padrão de produção e consumo imposto pelo capitalismo não é sustentável e precisa ser drasticamente modificado e com urgência, a começar pela modificação da matriz energética em todas as economias do planeta. Uma solução definitiva passa necessariamente pela superação do capitalismo e pelo estabelecimento de uma governança global sustentável e solidária.

Há que se ter em conta também que os problemas ambientais atingem de forma bem mais dramática aos pobres do planeta. Assim, como propõe o Papa Francisco, em sua Encíclica Laudato Si‘ (Sobre o cuidado da casa comum), precisamos de uma “Ecologia Integral”, que aborde as questões ambientais, econômicas e sociais.

Há também iniciativas como os “Ecossocialistas”, como Foster e Löwy que defendem a necessidade de superação do capitalismo para o enfrentamento da crise ambiental. A experiência dos “Verdes” que vêm conquistando cadeiras nos parlamentos de diversos países europeus é bastante positiva. Sem falar nas diversas ONGs, em sua grande maioria bem intencionadas, nos grupos “Santuaristas”, que percebem a urgência do problema, sem contudo enxergar a necessidade de superação do Sistema.

Mas, diante de um sistema subordinado à ganância das grandes corporações, ajoelhado aos pés do “Deus Mercado” e baseado no consumismo e desperdício, os comunistas precisam estabelecer o diálogo com todos que atuam na luta ecológica para ações imediatas e estratégicas. O planeta não tem tempo para esperar a superação do capitalismo. Devemos estar presentes em cada luta ecológica que se apresente, de forma organizada e efetiva. Temos que “agir local, mas pensar global” em cada canto do Brasil em que o Partido esteja presente. Agregar e congregar o povo em torno da defesa do meio ambiente saudável levará à vitórias, apoiados pelo conhecimento científico avançado, com destaque para as soluções desenvolvimentistas como a geração de fontes de energia limpas, da Economia Circular, da reciclagem de componentes e resíduos sólidos, da agricultura orgânica e da Economia Solidária como via para a Sustentabilidade e Solidariedade.

O Brasil é parte da solução

A despeito da desastrosa política ambiental dos governos Temer e Bolsonaro, o Brasil continua a ser um “player” no debate mundial. Não apenas por causa da Amazônia. Somos um país continental. Aqui estão os maiores aquíferos do mundo, temos amplas extensões de terras agricultáveis, a sabedoria de nossos povos ancestrais e uma produção cientifica razoável. Não foi atoa que a primeira Conferência Mundial sobre o Clima, a RIO92, foi realizada no Brasil. Assim, a primeira tarefa para recolocar o Brasil na mesa de debate é derrotar Bolsonaro e colocar em seu lugar um governo progressista que tenha compromisso explícito com a pauta ambiental.

Temos que atuar com protagonismo na defesa da Amazônia, da demarcação das terras indígenas e quilombolas, da valorização da agricultura familiar, contra os agrotóxicos, da recuperação da Mata Atlântica, do cerrado e de outros biomas e fazer abertamente o debate sobre o atual modelo econômico do país baseado na monocultura extensiva.

Neste sentido, penso que devemos acrescentar dois adjetivos na nossa formulação. Precisamos apresentar à Nação um novo Projeto de Desenvolvimento Nacional Sustentável e Solidário.

João Amazonas sempre dizia que é preciso “radicalizar ampliando e ampliar radicalizando”. Penso que esta nova proposta de formulação está de acordo com a concepção dialética do camarada. Ao afirmá-la estamos radicalizando por um lado ao explicitar que esse Novo Programa é essencialmente anticapitalista e ao mesmo tempo estaremos ampliando ao atrair para apoiá-lo amplas massas identificadas com a luta pela sustentabilidade e por uma Economia Solidária.

Em suma, além de organizar Comissões da Luta Ambiental em todos os níveis de direção, de estimularmos a nossa militância para participar e dirigir todas as mobilizações ecológicas que surgirem no dia a dia, é preciso trazer a questão ambiental para o centro do debate econômico e político.

 

*Secretário de Formação do Comitê Municipal de Salvador-BA.