Por Nivaldo Santana*

Na realidade atual, tanto o trabalho sindical quanto o partidário entre os trabalhadores enfrentam maiores obstáculos. Há um avanço do processo de individualização das relações do trabalho, com novas formas de contratação: pessoa jurídica, autônomo, trabalho por conta própria, etc.

Dados de março de 2021 divulgados pelo Instituto Locomotiva apontam que 32,4 milhões de trabalhadores exercem suas funções usando aplicativos, as famosas plataformas digitais. Desse universo – que corresponde a 20% do total de trabalhadores brasileiros –, cerca de 5 milhões tem nos aplicativos sua única fonte de renda. Quantidade semelhante tem a maior parte de sua renda alcançada por esses meios.

Diante desse quadro, complexo e em permanente mutação, não existem soluções simples nem receitas mágicas. Em diversos ambientes acadêmicos e sindicais, a matéria é objeto de debates e reflexões. Ainda não se forjou consenso sobre as mudanças a serem adotadas para organizar esse grupo heterogêneo de trabalhadores nas novas condições. As dificuldades são reais tanto para o trabalho sindical quanto para a organização partidária.

Algumas ideias, no entanto, procuram abordar o problema e superar esse quadro de pirâmide invertida. Uma primeira medida seria deslocar o centro de gravidade do Partido para as organizações de base, sejam elas nos locais de trabalho, de estudo, de moradia ou outros espaços onde os trabalhadores exercem sua sociabilidade. Na organização sindical, também deve-se ter uma atenção especial para ampliar a rede de militantes e de bases.

Uma medida importante nessa direção é diversificar a agenda de atuação. Ao lado da luta por emprego, salários, direitos e redução da jornada de trabalho, é importante diversificar a agenda para atrair segmentos de trabalhadores não identificados com a pauta tradicional da luta sindical ou partidária. Ações de economia solidária, cultura, esporte, lazer, formação profissional, etc. podem ser medidas importantes para facilitar o diálogo com as massas de trabalhadores e do povo a partir de suas necessidades reais.

Outro ponto importante é saber usar de forma inteligente e criativa as ferramentas digitais. Em vez de marcar reunião de uma comissão de fábrica ou célula partidária no boteco ao lado do local de trabalho, podemos, alternativamente, filiar, organizar, formar e mobilizar esses novos aderentes sindicais e partidários por intermédio de grupos de WhatsApp, criar redes em torno do Facebook ou Instagram, entre outras iniciativas. Até a realização de finanças pode ser feita por esse meio.

Por último, mas não menos importante, é essencial ter a construção partidária e a ligação de massas como vetores prioritários para a militância. Ao lado da política justa e ampla, matéria-prima indispensável para o Partido, é necessário ter obsessão para filiar novos militantes, construir e ampliar os organismos de base e torná-los núcleos ativos de atuação política e social.

O trabalho opera com mudanças aceleradas, mas mantém sua centralidade como elemento estruturante da sociedade. Os bairros são territórios de disputas desiguais com as forças do crime, das milícias e de grupos que exploram a boa fé do povo. Mas nossa luta e nossa organização se dão nessas condições, não podemos idealizar contextos distanciados da realidade. Também aí é necessária nossa atuação organizada, assim como nas escolas e em outros espaços.

Com perseverança, trabalho de longo prazo e sistemático, concentração de quadros nas organizações de base e um ousado plano de estruturação partidária, podemos crescer o Partido, fortalecer nossos vínculos com os trabalhadores e o povo e, em consequência, ampliar nossa influência política e social. Com isso, avançamos também para aumentar nossa potência eleitoral.

 

*Secretário Sindical Nacional do PCdoB.