Por Nivaldo Santana*

 

Em sua clássica obra “Esquerdismo – Doença Infantil do Comunismo (1920)”, Lênin apresenta os três fatores que tornaram os bolcheviques um partido disciplinado e apto a conduzir vitoriosamente a Revolução na Rússia: 1) consciência da vanguarda proletária e fidelidade à revolução; 2) capacidade de ligar-se e até fundir-se com as mais amplas massas de trabalhadores; e 3) justeza da linha política, da estratégia e da tática, com a condição de que as massas se convençam disso por experiência própria.

Em poucas palavras, poderíamos resumir dizendo que esses três fatores são convicção, ligação de massa e política justa – três fatores interligados e interdependentes. Para se chegar a esse patamar, sublinha Lênin, requer-se um trabalho prolongado e uma dura experiência.

Neste artigo, vamos colocar a lupa em um desses fatores – a ligação de massa. A representatividade social, a influência, o prestígio e os redutos eleitorais do Partido dependem de muitos fatores – mas a ligação de massa é uma condição necessária, insubstituível.

Em documento produzido pelo PCdoB sobre a linha do trabalho de massas, afirma-se que, ao longo dos últimos anos, foram-se consolidando fenômenos negativos na organização partidária, sintetizados na expressão “pirâmide invertida”. Essa denominação busca explicar o debilitamento do nosso trabalho de base – um Partido com cabeça grande, corpo franzino e membros atrofiados.

Enfrentar e superar essa debilidade na organização de base é um desafio essencial para impulsionar o crescimento partidário e dotá-lo de maior influência política e capacidade eleitoral. Nunca é demais repetir que é na base, nos locais de trabalho, moradia, estudo e outros que os militantes se relacionam com os trabalhadores e o povo, interagem com seus problemas, compartilham soluções. E este trabalho de base é a principal fonte de crescimento do Partido.

Claro que o contexto político hostil – com o governo de extrema-direita, o anticomunismo exacerbado, o negacionismo político, os preconceitos e a precariedade da vida de largas parcelas do povo – são fatores objetivos que dificultam a atuação e o crescimento partidário.

Mas tais dificuldades não podem servir de pretexto para a inércia na construção partidária. Filiar, organizar, formar e mobilizar novos militantes é uma tarefa de todos os quadros e militantes partidários, independentemente da área de atuação ou da posição que ocupa no Partido.

Para enfrentar esses problemas, precisamos reconhecer que, como tudo na vida, nossos métodos e nossas formas de atuação precisam ser renovados, aprender a dialogar mais e melhor com os movimentos tradicionais e os chamados novos movimentos, ter uma comunicação mais assertiva, ágil, flexível e com criatividade para conquistar corações e mentes.

Na estruturação partidária, a frente sindical é um espaço privilegiado para trazer trabalhadores ao Partido. Para ter êxito nessa tarefa, é imprescindível estudar os avanços tecnológicos e as profundas mudanças em curso na organização do trabalho e seus efeitos na cabeça das massas trabalhadoras. O modelo fordista-taylorista, com grandes unidades de produção e concentração de trabalhadores, progressivamente vai sendo superado, primeiro pelo toyotismo e agora, afirmam alguns, pelo pós-toyotismo.

O uso de robôs e máquinas inteligentes em substituição ao trabalho humano, pequenas unidades desverticalizadas e novas modalidades de trabalho desafiam a atuação sindical e partidária. Essa nova realidade cobra dos militantes novas abordagens para atrair trabalhadores para uma atuação consciente e coletiva, além de romper com o individualismo e a ilusão da meritocracia.

As mudanças são tantas que, em grande medida, estão borradas as fronteiras entre o local de trabalho e o trabalho em casa, o tempo de trabalho e o tempo livre, o trabalho remunerado e o trabalho não remunerado. Em vez de diminuir a jornada de trabalho, necessidade inadiável com o aumento da produtividade, o que se vê é o aumento das horas trabalhadas.

Além disso, o capitalismo contemporâneo tem como marca central a redução do custo da força de trabalho, a precarização das relações trabalhistas. Reformas regressivas atacam os direitos trabalhistas, previdenciários e sindicais. Trabalha-se mais e ganha-se menos – isto quando o trabalhador não é jogado para o subemprego ou o desemprego.

Sobre os desafios e as soluções para a atuação dos comunistas entre os trabalhadores, tratarei na segunda parte deste artigo.

 

*Secretário Sindical Nacional do PCdoB.