Em uma conjuntura na qual o governo golpista vê ruir seus índices de aprovação e em que as candidaturas de direita (várias no ninho dos tucanos: Alckimin, Aécio, Serra, FHC, Dória) ou de outros pontos no espectro político (Bolsonaro, com claros contornos fascistas) se mostram com baixas intenções de voto, Lula desponta, inegavelmente, como o nome que partirá do melhor patamar, algo pouco acima de 30% da intenção de votos.

Por Edilson J. Graciolli*

Neste texto me contraponho ao entusiasmo com que parcela da esquerda (não apenas do PT) recebeu e tem trabalhado essa expressiva intenção de votos para Lula-2018. Recusar-se a analisar os limites dessa pré-candidatura é um erro político grave, mesmo que se avalie que Lula não será tornado inelegível, o que é, como sabemos, o foco central da Operação Lava-Jato. Mais do que isso, defendo que o protagonismo eleitoral do PCdoB, defendido no parágrafo 150 do projeto de Resolução que discutimos no processo do 14º Congresso do Partido, se expresse, eleitoralmente, numa candidatura própria.

A dimensão programática e a frente ampla como ponto de partida para 2018

O fato irrefutável de que Lula é o nome de maior densidade eleitoral na atualidade não me parece suficiente para que se embarque no “volta-Lula!”.

O primeiro aspecto a ser considerado é o de que a tarefa desse campo a ser enfrentada de com urgência é o da formação de uma frente ampla e democrática (que transborde as fronteiras da esquerda), na sociedade civil (entidades, organizações, movimentos, mídia alternativa) e junto ao que há de compromisso com direitos sociais (trabalhistas, previdenciários), direitos políticos (pluralismo partidário, liberdade de expressão e organização) e democracia nos partidos e nas duas Casas do Congresso Nacional.

Não haverá como resistir ao que tem se estabelecido, na sociedade civil e no Estado, em termos de lógica global do rentismo, contrarreformas neoliberais, Estado de exceção (de que é expoente cabal a Operação Lava-Jato), conflito entre os Poderes e recessão econômica sem tal frente e um programa de desenvolvimento nacional, nos termos do que o Partido tem elaborado há tempos.

Não há candidatura capaz de substituir essas duas tarefas. Estamos sob fogo cruzado e as trincheiras para a guerra de posição (hoje já com contornos de defensividade), exigem uma robustez que não advirá de nenhuma candidatura, por maior intenção inicial de votos que possua. Precisamos de uma maior capilaridade na sociedade.

Somente com uma frente dessa envergadura se poderá iniciar o trabalho de reversão do desastre sobre investimentos nas áreas sociais representado pela aprovação da PEC 55 e pelo que se anuncia com as reformas da Previdência e trabalhista. Se as eleições em 2018 não produzirem uma composição diferente da que possuem, hoje, Câmara e Senado, o que supõem embates muito mais abrangentes junto ao eleitorado do que pode se dar por meio de qualquer chapa à Presidência da República, o retrocesso durará talvez mais do que os 20 anos de congelamento orçamentário e da correlata orgia rentista.

A intenção de votos à luz do índice de rejeição

Tão ou mais importante do que a intenção de votos,  o índice de rejeição sinaliza os limites para o crescimento de qualquer candidatura.

Não se pode desprezar a eficácia da propaganda e do combate feitos na direção do antipetismo e, em sentido mais amplo, à esquerda como um todo. Essa política do ódio e de forte conteúdo classista e de pré-conceito quase obteve sucesso eleitoral, pois Dilma venceu Aécio, no segundo turno em 2014, por uma pequena margem de votos (dentre os válidos, respectivamente 51,64% e 48,36%, numa eleição em que votos nulos, brancos e abstenções, ou seja, o não-voto atingiu 27,44% do eleitorado).

É muito grande a barreira representada pelo índice de rejeição a Lula e ao PT, algo que ultrapassa a casa dos 40%. É muito pouco provável que uma candidatura de Lula avance sobre os cerca de 30% restantes, a ponto de aglutinar, destes, pelo menos dois terços, sem o que não haveria como ganhar as eleições presidenciais.

Se a direita não possui, hoje, um(a) pré-candidato(a) favorito(a), insistir numa candidatura de Lula pode ser, paradoxalmente, o motivo para que, como Collor, em 1989, seja forjado, ou inflado pela via midiática, algum candidato que derrote, nas urnas, a esquerda e o centro-esquerda. Lula pode ser, portanto, a alavanca que hoje falta à direita.

Exclusivismo petista para chapa à Presidência, a quem interessa?

Verifica-se em amplos setores do PT a reiterada pretensão do exclusivismo petista para encabeçar chapa à presidência da República. Por vezes é utilizada, equivocadamente, a expressão “hegemonismo” para caracterizar esse processo, mas como essa expressão nos remete a uma categoria operante na realidade (hegemonia) e apreendida por Gramsci para designar direção moral, intelectual e política, penso que o melhor seja falar em exclusivismo.

Há outros nomes que vem sendo colocados no cenário eleitoral como pré-candidaturas. Ciro Gomes (PDT), Jandira Feghali (PCdoB), Roberto Requião (talvez o último expoente nacional do PMDB histórico e comprometido com a democracia…), Guilherme Boulos (PSOL). O próprio PT, com Fernando Haddad, apresenta um nome que não o de Lula para o pleito do ano que vem.

Nenhum deles, é verdade, parte da intenção de votos de Lula, mas, no cálculo estritamente eleitoral, também nenhum deles possui a mesma rejeição, embora todos carreguem, mais ou menos, o peso que advém da criminalização da política, da ideologia antipartidária, do fundamentalismo religioso e dos tempos de fascismo em que nos inserimos.

O exclusivismo petista é um obstáculo a horizontes de lutas estratégicas que nos retirem das cordas. Ele se presta, apenas, a Lula e ao PT.

O PCdoB precisa ter candidatura própria

Sem um programa que expresse o que for possível e necessário no interior dessa frente ampla e democrática, em diálogo com a maioria da população brasileira, até mesmo uma vitória eleitoral se mostrará insuficiente.

Um programa de desenvolvimento nacional para o Brasil precisará do PCdoB no centro do debate e isso se alcançará, com menos dificuldades, se tivermos uma candidatura à Presidência da República, que alavanque as candidaturas ao Parlamento e que seja referência da diferença de conteúdo de que somos portadores.

*Professor e Diretor do Instituto de Ciências Sociais da UFU