a) A orientação estratégica que tem sido dada pelo Comitê Central sobre a Frente Ampla precisa ser alvo de melhor delineamento tático pelas direções estaduais e municipais. Especialmente nos grandes e médios municípios, é preciso replicar articulações que estão sendo feitas nacionalmente. Por exemplo, a Coalizão Pela Reforma Política Democrática conta com a participação destacada do PCdoB e reúne mais de uma centena de entidades, várias delas de abrangência nacional, como OAB, UNE e CNBB. Em quantos municípios as seções locais da OAB e as dioceses estão estreitando laços com entidades estudantis dirigidas por nós? Outro exemplo: a CTB tem se articulado junto a outras centrais sindicais e entidades patronais, como a Fiesp, em torno da defesa de propostas para o enfrentamento da crise econômica. Em quantos municípios estamos promovendo a articulação desses segmentos? Faltam iniciativas nesse sentido e a avaliação sistemática de resultados;

Por André Queiroz*
b) Um dos obstáculos para a construção da Frente Ampla em âmbito local decorre da falta de compreensão sobre o significado ou de convencimento sobre a correção desta tática nas bases. A aliança tática com frações da burguesia e mesmo com setores médios se torna difícil em primeiro lugar por estes terem participado das articulações para o Golpe de 2016. A grave polarização política que tomou conta do país nos últimos anos ainda afeta a todos nós. Em segundo lugar, no caso das entidades patronais, porque as mesmas estão empenhadas na aplicação de reformas neoliberais que tolhem direitos dos trabalhadores. Há ainda um terceiro fator, que é a falta de consenso em torno de explicações para a derrocada da experiência dos Governos Lula e Dilma, eles próprios coalizões de amplas forças, de movimentos sociais a frações da burguesia. O desembarque do Governo Dilma por parte dos partidos de centro que lhe davam amplitude, isolando a esquerda e resultando no Golpe, deixam a equivocada impressão de que a tática de Frente Ampla está superada (ou de que jamais deveria ter sido aplicada) e de que resta aos trabalhadores acumular forças de forma autônoma, sem articulações com frações da burguesia. Tal concepção toma conta de parte expressiva da esquerda e o PCdoB não é imune a sua influência. Embora a orientação do Partido seja pela Frente Ampla, na prática há bases em que se está articulando apenas uma Frente de Esquerda, de curtíssimo alcance, perpetuando o nosso isolamento e dificultando a retomada da democracia e a superação da crise;

c) José Alencar era um industrial do setor têxtil, um dos mais afetados negativamente pelas políticas neoliberais implementadas por FHC (como a supervalorização do câmbio). Foi em função das contradições do neoliberalismo que Alencar se tornou Vice-Presidente da República ao lado do operário Lula. Setores produtivos da economia passaram a ser beneficiados na medida em que o Estado passou a incentivá-los, ao invés de apenas expô-los a uma concorrência predatória a pretexto de modernizá-los. Quando e por que este pacto se esgotou? Alguns dirão que nunca se deveria ter confiado nesses setores do empresariado, pois a traição ocorreria a qualquer momento. Outros argumentam que faltou perceber o limite histórico de tal aliança e que o rompimento deveria ter ocorrido por iniciativa da esquerda. Uma terceira abordagem indica que o pacto poderia ter tido vida mais longa, não fossem erros de condução política do PT. Embora erros certamente tenham ocorrido, estas abordagens indicam sempre que o pacto foi implodido. Não se aponta o quanto ele foi sabotado a partir de fora. No contexto de dificuldades impostas pela crise internacional, da derrubada no preço do petróleo e da infinita sucessão de escândalos produzidos por agentes da Operação Lava  Jato em conluio com a grande mídia, executivos de nossas maiores empresas foram presos, assim como um cientista com papel central em nosso programa nuclear, investimentos foram contidos, grandes obras de infraestrutura foram paralisadas, etc. O quanto tais acontecimentos não minaram a possibilidade de Dilma e o PT sustentarem o pacto em prol do desenvolvimento nacional? Afinal, se os setores produtivos que mantinham algum compromisso com o PT já não estavam sendo beneficiados por isto, mas ao contrário, punidos, qual a surpresa de vê-los abandonando o barco? É verdade que esta mesma burguesia produtiva operou lobbies a todo vapor para fazer ser aprovada a Reforma Trabalhista. A da Previdência encontra maiores obstáculos, porque prejudica a pequena burguesia que foi massa de manobra para o Golpe. Mas o capital financeiro internacional é insaciável. Quer acabar com as formas de crédito subsidiado do BNDES e do Banco do Brasil. A PEC do Teto de Gastos impedirá o Estado de exercer papel indutor. Além do mais, o empobrecimento da população encolhe o mercado interno e determinados setores produtivos são prejudicados por isto. Não por acaso, a Fiesp já está se reunindo com a CTB  e outras centrais sindicais para contestar determinados aspectos da política econômica em curso e propor uma outra. Os problemas centrais do desenvolvimento brasileiro permanecem os mesmos de 2002, uma vez que o neoliberalismo não foi superado, mas pelo contrário, desde a sofrida vitória de Dilma em 2014, vem sendo aplicado com crescente força, começando pela nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. Se os problemas centrais permanecem os mesmos, as condições para se repactuar setores populares com setores produtivos da burguesia estão dadas. Se não formos por este caminho, será por qual? Pelo da revolução? Mas o nível de consciência do proletariado o tem permitido no máximo esperar por um salvador da pátria: que pode ser Lula, mas também pode ser Bolsonaro;

*Membro do Comitê Municipal, da Comissão Política e da Organização de Base dos Bancários em Uberlândia MG